logofau
logocatfg
secao 4!

Arquitetura Oficial no Período Colonial:

um estudo sobre as pontes e chafarizes de Ouro Preto

Claudia Lopes

Benedito Lima de Toledo

É indiscutível a importância da cidade de Ouro Preto marcada historicamente por memoráveis fatos políticos. Notável por seu acervo cultural e artístico que constitui um conjunto arquitetônico digno do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido-lhe pela UNESCO em 1980, é alvo de estudos desde as primeiras iniciativas de criação de órgãos para a proteção do patrimônio.

Entre os inúmeros fatores que fazem a cidade indispensável em qualquer estudo sobre arquitetura e urbanismo do período colonial, está o fato da mesma ter surgido a partir da mineração, responsável por seu caráter urbano, desde os primeiros tempos. Diferente de outras cidades do Brasil, Ouro Preto não teve como base econômica inicial a agricultura, e sim atividades ligadas à extração do ouro e intensa atividade comercial que acabaram por aglomerar rapidamente em arraiais de mineração toda a população atraída pela notícia da descoberta do metal na região. Daí vem o interesse no estudo de sua urbanização não planejada e das soluções encontradas por seus habitantes para vencer as barreiras naturais abundantes no local, como o relevo extremamente acidentado e grande número de córregos.

A partir de 1730, a cidade passou a viver o auge da extração aurífera, correspondendo também ao período de maior riqueza da mesma, quando houve um rápido e grande crescimento urbano. Esse fato obrigou o Senado da Câmara de Vila Rica a intervir com obras de grande porte para fiscalização e cumprimento da lei, bem como obras de infra-estrutura para a população. Dentre elas, incluem-se as pontes e os chafarizes. Estas obras eram postas em concorrência pública, sendo o arrematante obrigado a seguir o risco e as condições que geralmente exigiam perfeição na execução, através da técnica da cantaria.

O trabalho visou um estudo pormenorizado desses monumentos, considerando, primeiramente, as técnicas construtivas e o material empregado. Foi feita uma pesquisa a respeito dos tipos de rocha encontrados em Ouro Preto e seu respectivo uso na cantaria dos monumentos da cidade, dando ênfase aos processos construtivos de arcos, nas pontes, e encanamentos, nos chafarizes (ambos em pedra).

Outro aspecto importante que foi analisado foi a relevância desses monumentos face à rápida evolução urbana sofrida pela cidade no século XVIII, sempre muito ligada à água. Esta, apesar de abundante na região, adquiriu grande valor econômico por ser indispensável às técnicas de mineração. Da mesma forma, foram estudadas as intervenções ocorridas nos monumentos ao longo do tempo, como reformas e restauros, seu estado atual de conservação e sua importância para o turismo. Para isso, foi feito extenso trabalho de campo, levantamento bibliográfico e iconográfico, sendo este último de extrema importância para o reconhecimento de eventuais elementos não originais, que tenham sido acrescidos em algum momento.

Além da função utilitária, muitas vezes a Câmara via nessas obras a possibilidade de valorização das áreas mais nobres da vila, utilizando-se de profusa ornamentação, além de também se auto-promover, garantindo sua popularidade dentro de uma população conhecida por inúmeras revoltas.

Esses monumentos também contavam com uma função social, sendo muitas vezes pontos de encontro e de convívio da população. Os chafarizes eram o local onde os escravos, incumbidos de buscar água logo pela manhã, tratavam de espalhar as notícias e principalmente as difamações sobre seus patrões, enquanto esperavam que seus tonéis fossem enchidos. Já nas pontes, a colocação de assentos nas laterais, criava espaços de permanência, onde a população se encontrava, conversava e aproveitava para apreciar o movimento dos transeuntes, num momento em que as ruas também passam a adquirir esse conceito.

Foi feita também uma avaliação das qualidades estética e artística desses monumentos, comparando-os entre si e com eventuais exemplares antecedentes. As variações nas formas e na qualidade estética deviam-se geralmente à posição de destaque dada a eles, priorizando construções sofisticadas e de grande porte em locais igualmente importantes. Nesses aspecto, chegou-se a uma classificação quanto à importância e caráter decorativo, sendo tanto as pontes quanto os chafarizes, classificados em três grupos:

- Funcionais: monumentos utilitários com pouquíssima ornamentação e quase nenhuma preocupação estética, geralmente afastados dos centros administrativo e comercial da vila. Exemplos: Ponte do Padre Faria e Chafariz da Rua das Cabeças

- Decorativos: começa a haver uma maior preocupação com a ornamentação das ruas, sendo que nesses monumentos já aparecem elementos em cantaria, ainda que pequenos. Exemplos: Ponte do Pilar, Chafariz do Rosário e Chafariz da Rua Barão de Ouro Branco.

- Monumentais: obras que ocupavam posição de destaque na paisagem da cidade,sendo de grandes proporções e merecendo extremo cuidado no desenho e execução. Apresentam-se bem ornamentados, dotando de diversos elementos barrocos. Exemplos: Ponte de Antônio Dias, Chafariz de Marília e Chafariz dos Contos.

Porém, com o tempo e, no caso dos chafarizes, com a instalação de um sistema de abastecimento de água, no final do século XIX, esses monumentos perdem parte de suas funções, sendo que muitos deles foram arruinados ou desapareceram. Somente nas primeiras décadas do século XX, com a criação dos órgãos de proteção ao patrimônio, volta-se a dar importância a essas construções com algumas obras de restauro. Mas, ainda assim, se comparado a todo o valor e cuidado dados aos edifícios religiosos, símbolos máximos da produção barroca em Minas Gerais, as pontes e chafarizes, exemplares da arquitetura oficial produzida no período colonial, ainda merecem um pouco mais de atenção por parte tanto dos órgãos atuais de proteção, quanto da própria população que muitas vezes os ignora.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo