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secao 4!

Um museu, dois projetos, duas posturas:

análise das propostas de Paulo Mendes da Rocha e Bernard Tschumi para MAC-USP

Isabel Cristina Rodrigues de Oliveira

Vera Maria Pallamin

A proposta deste trabalho é fazer um exercício de análise sobre as poéticas e os discursos de dois arquitetos contemporâneos que apresentam idéias e conceitos particulares e que podem contribuir para a reflexão sobre os valores e paradigmas que estão direcionando o pensamento e a prática da arquitetura na sua inter-relação com a cultura das cidades. Nesta proposta, a análise e a reflexão são um exercício de elaboração de indagações, um percurso problematizador.

Os arquitetos escolhidos são Paulo Mendes da Rocha e Bernard Tschumi. Aprofundando a poética de cada arquiteto busca-se fazer uma comparação crítica delineando semelhanças e diferenças e confrontando idéias, conceitos e temas. Propositalmente, foi escolhido um arquiteto estrangeiro e um brasileiro com bastante destaque no cenário da arquitetura mundial para também se compreender um pouco as especificidades da nossa percepção da cultura e da cidade e como ela está se apropriando ou resistindo às tendências do cenário mundial.

A proposta busca fazer um estudo das operações estéticas, culturais e políticas, que devem sua origem à modernidade do século XX, mas dando uma atenção especial à sua conformação na fase contemporânea. Considera as obras dos arquitetos que, por sua força social, sua dimensão crítica, seu caráter de experimentação e a busca da instauração de uma ordem nova buscam restaurar as idéias originais do Movimento Moderno ou aprofundá-las ou mesmo negá-las.

Neste momento é importante ressaltar que a explanação feita neste trabalho não visa apontar idéias ou conclusões já totalmente definidas e claras. Do ponto de vista mais pessoal, este exercício, ainda que modesto, de análise e compreensão dos processos de projetar em arquitetura inseridos em sua dinâmica social e cultural significa, também, um ato em que a análise é experiência, leitura e entendimento do jogo que a obra arquitetônica pode propor.

O objeto da investigação é o projeto para um museu contemporâneo, no Brasil, O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo em concurso realizado em 2001 onde os dois arquitetos estudados puderam mostrar suas concepções de projeto, arte e cidade, juntamente com outros dois arquitetos: Arata Isozaki e Eduardo de Almeida que aqui não serão estudados.

O que se pretende é fazer a uma avaliação dos projetos dos dois arquitetos, procurando ressaltar a potenciadalidade da "fala" do projeto para a história, segundo argumento da crítica de arquitetura Sophia S. Telles, que reforça a importância do projeto em fazer as articulações necessárias para passar as idéias que devem ser discutidas. Também segundo ela, o procedimento mais eficaz para se avaliar o projeto é perguntar qual o contexto de pensamento em que surgiu o problema? O projeto em si não resolve o problema, mas ele nos faz pensar em hipóteses possíveis, entender o que o gerou. Segundo ela, neste processo de avaliação é de extrema validade pensar a arquitetura brasileira considerando as experiências vividas em outros países.(1)

O museu e a cidade na cultura contemporânea

O conceito de museu vem sofrendo alterações e mudanças que variam entre se colocar como "instituição" e como "processo". Contudo, como pensar na musealização artística no Século XXI, em face de novas questões envolvendo o tempo, a efemeridade, a imaterialidade, a intransportabilidade, o caráter corrosivo e a mutabilidade, em tendências como performance, arte conceitual, land art, body art e grafite?

Portanto, a análise e a discussão sobre os museus contemporâneos deve ser capaz de compreender a importância e o impacto transformador desses edifícios no contexto das cidades, bem como sua contribuição para a arquitetura.

Se por um lado, existem os usos culturais mercadológicos, por outro, temos a busca da construção de uma alternativa de cultura dentro da condição contemporânea. Cabe aqui analisar criticamente estes valores. Ou seja, o que importa é organizar e ampliar essa discussão ligando a arquitetura de museus com a construção do lugar no espaço da cidade, sem perder de foco a importância da obra de arte. Na atual condição de exploração exacerbada dos museus, a arte, muitas vezes assume um papel secundário e perde espaço para as múltiplas atrações, inclusive para o "espetáculo da arquitetura". A relação entre o observador e a obra de arte, a possibilidade de exploração sensitiva e as experiências estéticas sofrem um conturbado impacto provocado por uma arquitetura muitas vezes preocupada com a promoção do marketing do espaço cultural.

O aumento do número de museus e a criação de inúmeros centros culturais adquiriram, a partir de meados dos 70, a força de fenômeno comercial e turístico. Nessa fase que foi, também, um processo de requalificação de imagem institucional, os museus e centros culturais desenvolveram impulsos modernizadores no que diz respeito ao programa e às técnicas expositivas.

No Brasil, desde o final da década de 1980 até meados dos 90, as recuperações de antigas estruturas coloniais e ecléticas que se arruinavam, destacando entre essas os sobrados, palácios e palacetes, motivaram as reutilizações com fins culturais. Em paralelo, o apelo às adequações técnicas do espaço físico era constante em discursos competitivos dos curadores e visava o cumprimento das exigências das agendas internacionais, promotoras da arte moderna e contemporânea.

Um museu contemporâneo não pode mais ser tratado como uma caixa neutra para o simples "armazenamento" de obras de artes organizadas segundo temas específicos. Além de enfrentar as novas maneiras de representação e apresentação da arte contemporânea, a nova concepção e definição de museu vêm acompanhadas por um processo de acréscimo de funções e usos de diversas atividades extra-expositivas. Hoje, muitas vezes, tais construções assumem o papel de centros culturais avançados, onde se prioriza os usos voltados à sociedade de consumo em massa, em detrimento da valorização e da reflexão sobre a arte - transformando-a em um mero entretenimento.

 

  1. palestra dada em 11.06.08 na FAUUSP na disciplina de TFG

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