A proposta é trabalhar a cor no projeto desde o início de sua concepção, visando assim, criar ambientes que contribuam para o bem estar físico e psicológico do paciente, e dos profissionais atuantes no local.
A escolha de projetar, e não simplesmente propor a reforma de uma instituição já existente, foi feita com o intuito de pensar a cor de forma consciente em todos os aspectos da edificação, desde as primeiras idéias e croquis.
Espaços eficientes e funcionais, porém frios, despersonalizados e sem atrativos, são uma fórmula hospitalar superada, assim como a monocromia exagerada, gerando monotonia e fadiga. O projeto deve reunir características que assegurem funcionalidade, objetivando a eficiência do ambiente sobre os usuários.
Estudos sobre a medicina psicossomática e a questão em torno da humanização, verificaram que existem fortes laços entre a resposta física a cirurgias e tratamentos médicos, e a atitude emocional do paciente, mostrando que a cor é uma das grandes responsáveis por isso.
Para que o estudo cromático sugerido não fosse suprimido pela complexidade da estrutura de um edifício hospitalar, o projeto parte de uma escala menor e se restringe a uma especialidade médica, com o intuito de particularizar o trabalho.
Dessa maneira, proponho o projeto de um Centro Clínico de Medicina do Esporte, que abrange áreas de grande importância dentro de um hospital, e individualiza o estudo pelo fato de restringir a faixa etária da população a ser atendida (entre 15 a 40 anos), tornando a paleta hospitalar caracterizada para esse público específico.
O estudo foi desenvolvido em duas etapas: primeiramente foi dado enfoque às pesquisas direcionadas por temas: entendimento do funcionamento de um edifício hospitalar; pesquisa cromática; bairro da Barra Funda; legislação; e pesquisa referencial.
Em seguida, o aprendizado com as pesquisas foi posto em prática com o desenvolvimento do projeto, e as propostas das paletas cromáticas.
A implantação em esquina, proporciona diferentes acessos que evitam o cruzamento de fluxos, ponto necessário ao funcionamento de um hospital. Internamente, temos um amplo atrium central iluminado naturalmente, que cria vazios de pé-direito duplo e quádruplo.
Internamente, temos um amplo atrium central iluminado naturalmente, que cria vazios de pé-direito duplo e quádruplo.
Desde os primeiros croquis, houve a preocupação constante em marcar os blocos principais do edifício com cores, facilitando a percepção visual das atividades exercidas em cada um deles.
Houve também o cuidado com a insolação, prevendo brises verticais nas áreas onde seria necessário um maior controle.
O projeto foi moldado em cima de uma malha estrutural, que garantisse circulações livres, prevendo ampliações, necessárias nesse tipo de edifício.
Espaços amplos e abertos de circulação e socialização foram criados para que houvesse integração entre os usuários e permeabilidade com o exterior, evitando o isolamento. Inicialmente, teve-se a intenção de mantê-los públicos, porém, um edifício hospitalar necessita de grande segurança e controle no acesso.
O edifício é composto por 3 blocos principais, destacados por cores, e tem núcleos facilmente identificados.
O térreo abriga, na fachada da rua José Gomes Falcão, a entrada e saída de veículos que dá acesso ao subsolo; é também por esse bloco que temos o acesso de funcionários.
A entrada principal na esquina, com seu grande atrium, controla e encaminha os pacientes e visitantes aos núcleos, através das circulações verticais. O atrium é interligado visualmente a todo interior e ao jardim, e ainda dá acesso à piscina e à área de eventos.
Pela av. Marquês de São Vicente temos o acesso à emergência e ao setor de serviços.
O 1º pavimento recebe o solarium, o núcleo de reabilitação, de consultórios e atendimento e o núcleo de imagens.
A área de internação está no 2º pavimento, e se comunica com os outros andares pelo vazio criado na circulação.
O 3º pavimento abriga o centro cirúrgico e toda a área de recuperação, como UTI.
A produção das paletas cromáticas foi essencial para que se chegasse na conclusão de todo o estudo feito.
A percepção do entorno foi importante para a integração correta do projeto com o local, destacando-o na paisagem e agregando uma proposta inovadora de cores à região, que possui certa deficiência deste elemento na arquitetura local.
O desenvolvimento da paleta cromática externa mostra como é possível tratar a cor em conjunto com a criação do projeto.
A paleta cromática interna foi pensada e trabalhada individualmente para cada caso apresentado.
Projetar para um determinado público exige que se faça uma leitura profunda sobre suas necessidades, e no desenvolver do projeto, que se avalie se o ambiente produz corretamente a sensação proposta em relação ao usuário.
Finalizo ressaltando que as cores são um importante elemento arquitetônico e nos influenciam tanto fisicamente como psicologicamente, portanto mesmo o mais maravilhoso atendimento médico será de menor valor se o ambiente não apoiá-lo.
Estudando esse tema, em alguns momentos me deparei com certa dificuldade de aceitação. Acredito que isso se dá pelo fato do Movimento Moderno ter sido de grande importância para a arquitetura brasileira, e que pelo fato desse movimento ter abandonado de alguma forma o uso das cores, tratando-as como detalhe ou decoração, hoje em dia ainda trazemos alguma herança deste legado.
Concluo que um arquiteto completo é aquele que se aprofunda em seu projeto, estuda com a mesma dedicação todas as variáveis, desde a concepção, o entorno, a insolação, a implantação, o ambiente, o usuário, encarando todos os aspectos arquitetônicos como fundamentais para a conclusão da obra.
Terreno
Local: Esquina da Av. Marquês de São Vicente com a R. José Gomes Falcão, Barra Funda, São Paulo.
Zoneamento: ZM3a/09M
Área Total= 10.580,77 m2
Edificação
Pavimento Subsolo= 3.011,83 m2
Pavimento Térreo= 5.444,70 m²
1º Pavimento= 3.975,72 m²
2º Pavimento= 1.240,14 m²
3º pavimento= 1.240,14 m²
Cobertura= 1.462,74 m²
Área Total Construída= 16.375,27 m²
Projeção Total= 6.007,08 m²
C.A = 1,55
T.O.= 0,57
Permeabilidade=25,46%
