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secao 4!

Estudo para espaço teatral

 

Laura Burkowski dos Reis

Maria Cecília Loschiavo dos Santos

O princípio deste trabalho baseou-se na vontade de querer estudar uma relação entre arte e arquitetura. Esse questionamento surgiu, em parte, por um estudo de arquitetura contemporânea que fizemos na França. Entrando em contato com diferentes metodologias de projeto, logo percebemos que uma das características da arquitetura contemporânea francesa e européia é a de projetar os espaços a partir de atmosferas que desejamos que esses espaços tenham. Dessa forma, a relação entre arte e arquitetura é muito intensa, posto que também se dá muita atenção à plasticidade das construções. Em nosso estudo, vimos como estas construções contemporâneas dialogam com o subconsciente de quem as executa e de quem as observa, o que para nós retrata uma relação muito próxima a um cenário numa peça de teatro, uma atmosfera criada para despertar emoções.

Apurando nossa problemática, resolvemos trabalhar no projeto cenográfico para uma peça teatral, apostando numa relação entre arquitetura e teatro contemporâneo. A peça em questão foi A Passagem, concebida e encenada por Silvia Altieri, baseada na obra A Montanha Mágica de Thomas Mann. Tal tema nos obrigou a caminhar em direção a uma fronteira onde recolhíamos elementos tanto do teatro quanto da arquitetura. Questões de forma, luz e espaço, elementos tão caros a nós arquitetos, foram abordados sob um outro ponto de vista, não contrário ao nosso, mas complementar.

Nosso olhar para a arquitetura e para o teatro expandiu-se; percebíamos as potencialidades cênicas dos espaços construídos e refletíamos sobre as possibilidades de explorar a cidade em seus infinitos espaços para um acontecimento teatral.

Demo-nos conta, então, de que um dos elementos primordiais às duas áreas é o espaço e que ambas, quando bem realizadas, tratam de concebê-lo através da criação de atmosferas.Assim, nosso enfoque agora não era mais somente o espaço cênico, mas também o espaço teatral.

Nos interessou estudar os galpões que na cidade de São Paulo eram transformados em teatros, como o Teatro Coletivo Fabrica, situado na rua da Consolação, o Galpão do Folias, no bairro de Santa Cecília e o Espaço Cênico Viga, em Pinheiros. O tipo de teatro desenvolvido nestes locais era os que mais nos interessava pois eram aqueles ligados à pesquisa teatral, não comercial. Outros espaços também foram pesquisados, como a Casa de Dona Iaia, a Escola Paulista de Restauro e a Casa das Caldeiras. São lugares muito interessantes por que também servem de espaço cênico e teatral a diversos grupos diferentes, porém as questões que colocam são muito diferentes dos galpões reformados, que acabam sendo mais neutros e flexíveis. Nessa etapa, também vimos algo dos grupos Teatro da Vertigem e Grupo XIX.

Pensamos em desenvolver um projeto similar a estas adaptações de um galpão em teatro. Nessa etapa, o tgi do cenógrafo JC Serroni foi uma boa referência, pois ele tratava da abertura do edifício teatral à cidade através da criação de cursos e workshops, de modo que o edifício não ficasse reservado apenas aos ensaios e apresentações teatrais, mas que fosse um lugar de convivência da comunidade. Era uma idéia muito sedutora trabalhar o edifício na escala dele mesmo e na escala da cidade.

Porém, logo vimos que seria muito difícil trabalhar as duas questões ao mesmo tempo num trabalho final de graduação. Além do mais, encontrar material sobre os galpões que havíamos pesquisado na região da Mooca, Brás e Barra Funda se tornava cada vez mais difícil dado a organização dos documentos históricos municipais.

Foi então que decidimos que estudaríamos apenas o interior do edifício, pensando na apropriação dele pelo teatro.

Concomitantemente às pesquisas relatadas acima, resolvemos tentar entender como o teatro pensa o espaço, como trabalha e explora o espaço teatral. A partir destas indagações, realizamos um estudo que abarca alguns dos principais encenadores que pensaram o teatro e suas relações espaciais desde o final do século XIX. Falamos do suíço Adolphe Appia (1862-1928) e do inglês Edward Gordon Craig (1872-1966), duas figuras que influenciaram todo o teatro moderno e cujas teorias ainda hoje são inovadoras.

Nosso discurso histórico apresenta também o projeto de teatro total de Walter Gropius, feito em parceria com o encenador alemão Erwin Piscator, em 1919, questionando a tipologia cênica do palco italiano. Mostramos ainda um pouco da repercussão dessas idéias no Brasil, a antropofagia de Zé Celso no Teatro Oficina, e apresentamos um estudo da situação cultural do teatro contemporâneo na cidade de São Paulo.

Decidimos então que nosso trabalho final seria uma reflexão sobre a utilização do espaço teatral. Para isso resolvemos desenvolver um processo próximo àquele engendrado por Lina Bo Bardi e José Celso Martinez Corrêa para a construção do Teatro Oficina e entrevistamos três jovens encenadores questionando suas idéias e reflexões a propósito das possibilidades de investigação do espaço teatral e cênico.

Como base de projeto, pegamos as dimensões de um antigo galpão da USP, antigamente pertencente à Faculdade de Veterinária. É um edifício que possui 14 metros de largura por 60 de comprimento.

A partir do que foi discutido numa primeira entrevista informal com os encenadores, alguns desenhos foram feitos. Numa segunda entrevista (ver cd da biblioteca) apresentamos nossa proposta, e outras questões e criticas surgiram. A questão do palco italiano, as exigências do teatro contemporâneo, as exigências do espaço e a apropriação deste por parte do teatro foram os pontos de discussão mais interessantes.

Nossa adaptação do galpão em espaço teatral nos mostrou a eficácia do galpão em questão para abarcar um espaço bastante flexível que comporta as tipologias cênicas mais tradicionais (estáticas e frontais) às mais contemporâneas, satisfazendo a necessidade de um lugar para pesquisa teatral.

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