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secao 4!

Praia urbana na orla ferroviária

 

Philippe Mercaldi Metropolo

Alexandre Delijaicov

Em São Paulo, depois da Colina cercada e da várzea inundada, a linha férrea se transformou na terceira muralha da cidade fortaleza (DELIJAICOV, 1998)

Introdução

Ao mesmo tempo em que desempenhou, e que ainda desempenha um papel fundamental na mobilidade e acessibilidade da metrópole, a linha ferroviária se mostra ironicamente, como uma cicatriz, dividindo bairros e impedindo deslocamentos locais.

Os terrenos e edifícios que foram referências, com o passar do tempo e sem uso, sofrem processo de deterioração. Comunidades inteiras ocuparam de forma precária, terrenos que, mesmo com posicionamento estratégico e central, acabaram ficando esquecidos e isolados da cidade.

Essas estruturas, subutilizadas, poderiam fazer parte do dia-a-dia dos que por ali passam, não só como símbolos de um período que se encerrou, mas como espaços públicos de qualidade, trazendo de volta a diversidade funcional, com habitações e equipamentos.

área de estudo

O Terreno, localizado na cidade de São Paulo, entre as estações Julio Prestes e Barra Funda, fica espremido, pelos trilhos da antiga Santos-Jundiaí ao norte e os da Sorocabana ao sul. Está na divisa entre os bairros do Bom Retiro e Campos Elíseos, inserido em uma área recentemente transformada em ZEIS 3, próximo de uma das ruas de comércio especializado da cidade, a José Paulino, e de diversos equipamentos culturais.

Segundo os planos da CPTM, a estação Julio Prestes funcionará apenas até o ano de 2010 quando será colocada em serviço a linha "Centro" entre as estações Barra Funda, Bom Retiro (nova), Luz, e Brás. A nova estação Bom Retiro, ficará junto à Alameda Nothmann, ainda dentro da área de estudo.

O antigo ramal ferroviário serviu como eixo estruturador da favela, - a chamada 'avenida paulista" - que liga a entrada do terreno sob o viaduto ao antigo prédio do moinho. Nela estão os bares, os silos, a igreja, e a casa dos missionários. É o ponto de encontro dos moradores.

Uma bifurcação logo depois da entrada leva a outra parte do aglomerado de barracos e de passagens estreitas. A regularidade das construções é quebrada pelo grande "vazio" do campo de futebol. De terra batida é usado por moradores em todos os períodos do dia.

Junto ao campo está a creche, que atende aos filhos dos moradores e algumas crianças do entorno imediato.

praia urbana

O presente trabalho busca transpor a barreira dos trens, recompondo a malha urbana e integrando a "ilha ferroviária" novamente à cidade: trabalha a relação entre os trilhos e seu entorno e a articulação das duas cotas da cidade, a "Cota Campos Elíseos" e a "Cota Bom Retiro".

Por sua localização e tamanho, buscou-se pensar em equipamentos de escala metropolitana que fariam parte de um conjunto formado ao longo do elemento articulador - a ferrovia - permitindo o trabalho com a escala metropolitana, dos trens, e a escala local, dos bairros.

A implantação desses equipamentos ao longo da orla busca transformá-la novamente em agente atuante e reconhecível da cidade, possibilitando a apropriação desses espaços, tanto pela população dos bairros próximos como dos milhares de passageiros dos trens que passam por ali.

O edifício da piscina passa então a ser uma "praia urbana", modulado em "postos" ou "portas", não no sentido de barreira, mas de possibilidade de acesso. O edifício do moinho e os silos são também incorporados ao conjunto recebendo novos usos, e acentuando essa continuidade no sentido da linha dos trens.

Enquanto o conjunto de piscinas se desenvolve longitudinalmente, os demais equipamentos, complementares, como a cooperativa dos catadores, a igreja, as oficinas, a creche, as quadras e as habitações, fazem a transposição da linha férrea e também a transição da cidade com a praia.

O bairro dos Campos Elíseos "avança" sobre o terreno como um mirante, na mesma cota da água, enquanto o Bom Retiro se abaixa e passa sob as linhas do trem, agora unidas em uma mesma calha.

De leste para oeste, a cota passa do 735 para o 727. Todo o volume da piscina está na cota 735. Rígido e modular fica elevado, "pairando" sobre o terreno, natural, que é trabalhado com taludes e arrimos sem a mesma regularidade.

A grande piscina, com 450 metros de comprimento e 25 de largura, está dividida em 4 tanques. Eles podem ser separados por meio de divisórias flutuantes e configurar piscinas olímpicas, semi-olímpicas, de recreação, etc. Assim, diversas atividades podem ser desenvolvidas simultaneamente ao longo da "orla".

Por sua largura, em alguns trechos existirão "ilhas", somente acessíveis pela água; Em outros, decks de madeira permitem a travessia e terão suave declividade longitudinal para dentro da água, formando "prainhas".

A lateral dos tanques voltada para a linha férrea será envidraçada: de dentro do trem, que nesse trecho corre em nível com a cidade, o ritmo de casas, edifícios residenciais, e galpões, é interrompido por uma "linha" azul, marcada no comprimento do bloco da praia, interrompida vez ou outra pelos volumes de concreto dos sanitários e vestiários.

A cota 735 é a mesma do térreo do moinho, onde está a "praça d'água", e do térreo elevado das habitações. Nele estão o comércio e os serviços, que dividem espaço com os bares da piscina e as áreas de estar com as redes.

Sob a "marquise", formada pelo volume de piscina e serviços, desenvolvem-se algumas atividades, como as quadras cobertas e o plano inclinado, um "anfiteatro" para shows e apresentações.

Do antigo edifício do moinho, o que se vê hoje é uma casca abandonada que já não tem mais seu uso primordial. Lá ficarão as piscinas cobertas, saunas, duchas, banhos públicos e salas de atividades físicas e de aulas. As piscinas ficam na cobertura, assim como as saunas, duchas e o solário. De lá é possível ver toda a cidade emoldurada pelas grandes alvenarias que serviram de apoio para o telhado. Uma nova cobertura permitirá o aquecimento das piscinas e o uso noturno do edifício.

O conjunto de silos, com sua estrutura em concreto, é a mais antiga e marcante referência da área. O "totem erguido por uma civilização do passado" está dentro d'água e é agora a plataforma de saltos e os tanques de mergulho.

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