Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento do projeto de um edifício para a educação musical que abrigue as atividades desenvolvidas pelo pólo sede do Projeto Guri, o Pólo Julio Prestes, atualmente localizado no Bom Retiro, com a característica ser um projeto piloto, no qual os ambientes teriam como premissa a qualidade acústica, propiciando melhores condições de aprendizado.
O Projeto Guri é um importante projeto de inclusão e desenvolvimento social consolidado em São Paulo, que tem o objetivo de desenvolver as habilidades e potencialidades de crianças e adolescentes de regiões culturalmente carentes através do ensino da música. Atualmente o projeto conta com 388 pólos, dos quais participam 51 mil jovens e crianças entre oito e dezoito anos, com cursos nas áreas de cordas, sopro, percussão, canto coral e oficinas de luthieria, levando aos alunos valores implícitos no ensino musical, como a concentração, a disciplina, o trabalho em grupo, o respeito às diferenças e a apuração da sensibilidade. A relação com este projeto possibilitou trabalhar com dados reais e entender as suas dinâmicas e necessidades, propiciando a elaboração de um trabalho mais completo e mais significativo.
Através de visitas ao pólo Julio Prestes foi possível obter a relação das funções que este pólo abriga e conhecer a rotina dos alunos que o freqüentam, estas informações foram utilizadas para determinar o programa de necessidades do presente projeto. Nas visitas, foi possível observar as instalações existentes e constatar que estas não são ideais ao ensino musical. Os principais problemas observados são: pouco isolamento sonoro entre as salas de aula e em relação ao ruído externo, tratamentos acústicos deteriorados, espaços sem ventilação adequada, falta de local apropriado para guardar os instrumentos musicais, falta de local de convivência para os alunos e para realização de apresentações periódicas.
A escolha da região para a implantação do novo pólo sede do Projeto Guri, teve como base mantê-lo no bairro do Bom Retiro, pois o pólo é muito bem estabelecido na região, o que gera uma forte ligação que os alunos com o pólo e entre si, o que poderia se perder devido a uma mudança para um local menos favorecido em relação à sua localização na cidade e à oferta de transporte público. Além disso, a região da Luz é conhecida por ser um eixo cultural, sendo importante a inserção do pólo sede do Projeto nesse contexto, além de ser foco de intensos programas de incentivo à requalificação urbana, que incluem a construção de habitações de interesse social, cujos moradores poderiam se beneficiar muito pela presença de um pólo do Projeto Guri em sua proximidade.
O lote escolhido possui posicionamento privilegiado na malha urbana: intermediário entre o Parque da Luz e a Praça Coronel Fernando Prestes. O local se divide entre um caráter metropolitano (com a FATEC, uma estação de metrô e o Jardim da Luz) e características de bairro pequeno (devido à vizinhança residencial). A sua localização propicia a utilização deste como ligação centro-bairro através da criação de um novo eixo de circulação de pedestres. Esta função cabia anteriormente à Avenida Tiradentes, que serviu como "suporte" para a implantação de equipamentos da cidade, quando se configurava como bulevar, função perdida com a transformação deste eixo de comunicação em avenida expressa, o que gerou um "efeito-barreira" causando uma ruptura no conjunto urbano e causando depreciação física e ambiental das bordas dessa avenida e dificultando a circulação de pedestres (SALES, 2001).
Após a escolha do terreno, foram analisados os principais requisitos acústicos para os diferentes ambientes da escola, pois de acordo com o uso a que se destina, cada um exige diferentes características para propiciar as condições ideais aos seus usuários. Por exemplo, salas destinadas à palavra falada, exigem tempos de reverberação menores do que salas destinadas a fins musicais e mesmo dentre estas, existem variações das características consideradas ideais e mais relevantes para os diferentes usos.
Com base na intenção de configurar um eixo de ligação, definiu-se um edifício laminar para abrigar as atividades da escola, que ocupa todo o comprimento do terreno. O edifício apresenta gabarito relativamente baixo, procurando dessa forma manter o caráter local e com os edifícios tombados da Praça Coronel Prestes.
O conceito para o desenvolvimento do projeto foi obter a qualidade acústica dos ambientes, porém sem que para isso fosse necessário isolar-se do seu entorno em uma caixa estanque ao contexto no qual o edifício se insere, atingido através da interligação entre os diversos espaços e níveis, com vazios. Estes, juntamente com as generosas circulações configuram-se como locais de encontro para os alunos e propiciam a ventilação do edifício.
Uma área semi-pública é definida por uma praça rebaixada, onde se concentram ambientes que não são de uso exclusivo da escola, como uma área comercial, um espaço para apresentações informais, um auditório de médio porte, e áreas de apoio a esta.
A sala de ensaio em grupo possui pé-direito duplo e no seu pavimento superior há a possibilidade de assistir ao ensaio em um pequeno balcão sem de fato estar participando do mesmo, o que representa uma grande oportunidade de aprendizado. As salas de ensaio individual se configuram como volumes soltos no espaço, conferindo a esses espaços de dimensões reduzidas maior dinamismo no edifício.
Após a finalização do projeto foram realizadas considerações quanto às condições de conforto acústico obtidas nos ambientes através da determinação do ruído incidente nas fachadas e da definição de sistemas de vedação e isolamento a ruídos de impacto para ambientes mais sensíveis ao ruído. Em relação ao auditório, também foi realizada uma análise do tempo de reverberação e dos materiais de acabamento e suas quantidades para obter-se o tempo de reverberação dentro da faixa considerada ideal pela bibliografia.
Área do terreno: 7100m2
Área construída: 16.430 m2
