Este trabalho nasceu da idéia de desenvolver e aplicar uma metodologia coerente para um projeto de restauração, sendo esta efetivamente pautada nas formulações teóricas desse campo disciplinar (restauro). Para o desenvolvimento do projeto foi escolhido um edifício de pequeno porte e com facilidade de acesso, dois elementos fundamentais à realização do projeto, devido à complexidade de um projeto de restauração e à necessidade extrema de conhecimento do elemento essencial para o projeto, ou seja, o edifício existente. Desta forma, a Estação Jaraguá foi escolhida como objeto guia do projeto.
A idéia inicial era propor um novo uso ao edifício, já que existe uma proposta apresentada pela CPTM de desativar o edifício. Porém, durante discussões com a professora orientadora e amigos, e reflexões, o melhor uso que se foi mostrando foi como estação; faltava apenas comprovar a viabilidade de manter o uso adaptando o edifício histórico às novas necessidades sem causar danos.
Para a realização de um projeto de restauro muitas etapas devem ser seguidas, para que os erros sejam minimizados e a intervenção não traga mais danos que benefícios ao edifício. Assim, este trabalho iniciou-se com o estudo parâmetros contemporâneos para intervenção e das correntes atuais da restauração, de grande importância para definir os parâmetros para a intervenção no edifício.
Após a definição destes parâmetros apresentou-se a metodologia utilizada para o projeto, aplicando-a ao objeto de trabalho. O processo metodológico inicia-se com o estudo prévio do edifício, etapa fundamental ao entendimento do mesmo e às condicionantes do projeto (deve-se sempre lembrar que em um projeto de restauração o edifício existente dá as ferramentas para o projeto, que deve ser feito totalmente voltado para ele). A metodologia adotada para este projeto tem como principais referências as apresentadas pelos professores das disciplinas "Restauración Arquitectónica" e "Técnicas de Intervención en el Patrimonio Arquitectónico", da Universidade Politécnica de Valencia, e aparece da seguinte forma:
1. Estudo Prévio
2. Projeto de Conservação / Restauração
3. Aprovação Institucional
4. Execução das Obras
5. Manutenção e Seguimento
O Estudo Prévio consiste no conjunto de estudos que permite a aproximação ao edifício, na busca de conhecê-lo em profundidade, tanto em relação ao passado quanto ao presente. Nesta etapa realiza-se toda a documentação do edifício, possibilitando uma visão totalitária do seu estado atual. O estudo divide-se em quatro partes, ou seja, Documentação Histórica, Levantamento Arquitetônico-Construtivo, Análises Construtivas e Analítica. Esta etapa é fundamental para dar suporte à etapa do projeto, onde deverão ser diagnosticados os problemas encontrados no edifício e estabelecidos objetivos projetuais.
O Projeto de Conservação / Restauração decorre do Estudo Prévio, que determina as necessidades e possibilidades do edifício. Para este trabalho o projeto foi dividido em Razão de Ser, Critério de Intervenção, Memorial Descritivo, Sistematização Patológica e Proposta de Restauro (fichas de lesões e intervenções) e o próprio Projeto de Intervenção.
A Aprovação Institucional é algo que depende do edifício e de onde este se insere. Na cidade de São Paulo edifícios tombados ou em regiões com algum grau de proteção necessitam passar pela aprovação do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) e algumas vezes do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É necessário averiguar o nível de proteção existente e sua repercussão legal para a obra.
Após estas etapas inicia-se o processo de execução das obras, que exige um grande acompanhamento do projetista, para que seja executado exatamente o que foi especificado no projeto e para que os imprevistos, muito comuns às obras de restauro, sejam rapidamente adaptados e especificados em projetos. Existem muitos casos de alterações na obra por problemas encontrados durante a execução que não são documentados, perdendo-se a informação, especialmente quando se trata de instalações que não ficam expostas (como nos casos de elétrica e hidráulica).
A etapa de Manutenção e Seguimento se refere ao processo após as obras, fundamental para que o edifício se mantenha em boas condições por um período prolongado. Os responsáveis pelo projeto devem estabelecer um plano de manutenção para ser seguido pelos que administram o imóvel (aquilo que hoje é denominado conservação programada).
Neste trabalho foram aprofundadas apenas as duas primeiras fases do processo de restauração, pois as seguintes dependem de fatores externos que fogem ao processo de pesquisa.
Como já foi dito, o principal objetivo colocado por este trabalho foi de apresentar uma metodologia clara e viável para o projeto de intervenção em um edifício de valor histórico-arquitetônico. Durante o processo de trabalho esta metodologia apresentada se apresentou de forma válida, possibilitando a realização de um projeto para o edifício existente.
Além da questão metodológica, foi colocado um grande desafio neste trabalho, comprovar a possibilidade de manter o edifício da Estação Jaraguá com o seu uso original, alterando minimamente seus espaços e suas relações com o entorno. Como já se imaginava, a necessidade de expansão do edifício realmente existe e a proposição de um anexo que tenha uma interferência pequena no edifício se mostrou uma tarefa difícil, porém não impossível.
A proposta apresentada aqui teve seu impacto minimizado pela interferência causada pela construção de um viaduto próximo à estação. Isto, porém, não significa que a construção de um anexo seria em qualquer caso danosa. Outras intervenções seriam possíveis neste contexto, porém esta se mostrou a mais interessante, por conectar os dois lados da estação e ainda manter a leitura dos espaços com as chegadas às plataformas pelos mesmos lados em que se chega hoje.
