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secao 4!

Design e espaço em ambiente de consumo

 

Ana Paula Cerniavskis Ribeiro do Prado

Marcelo Marino Bicudo

Hoje, a lógica urbana das grandes cidades é orientada pelo consumo e este fato não pode ser ignorado pela arquitetura e pelo design, disciplinas que detêm mecanismos capazes de agregar substância e qualidade aos projetos produzidos para as atividades comerciais. Dentro da lógica instalada em uma cidade como São Paulo, o que se objetiva neste estudo é o desenvolvimento de um projeto que vise antes ao consumo de espaços sinestésicos do que à criação de meros espaços de consumo, investigandoa interdisciplinaridade entre design e arquitetura e viabilizando um discurso que se manifeste em diferentes escalas de projeto.

Acredita-se que tal abordagem do que se define como criação de espaços arquitetônicos qualificados possa produzir imagens capazes de adjetivar padrões característicos de um sistema e tornar viável a comunicação entre enunciador e enunciatário, promovendo a criação de um vínculo de identidade entre esses dois agentes. Naturalmente, espaços assim qualificados estão sujeitos à lógica orientadora das grandes metrópoles - o consumo - contudo, não sucumbem a ela sem uma análise crítica do papel da arquitetura e do design dentro desse contexto.

O suporte físico escolhido para o desenvolvimento deste estudo é um empório, um estabelecimento comercial onde se vendem víveres. Esse tipo de estabelecimento é um dos mais antigos, encontrado em praticamente qualquer agrupamento urbano desde os tempos mais remotos.

O conceito básico explorado é o de Branding, no qual o discurso se constrói num processo de gestão de identidade em todos os sentidos e através de todos os sentidos, não apenas através da marca em si. No espaço, principal ocupação da arquitetura, o Branding se aplica por meio de elementos sinestésicos e dos materiais utilizados na construção do mesmo. Nas imagens construídas a partir de padrões do sistema convergem aspectos visuais, táteis e identitários.

Para o lançamento da base conceitual do projeto, o trabalho parte da análise, no tempo, do que constitui um empório. Num segundo momento, buscando identificar os elementos e ícones que podem integrar o projeto, pretende-se atualizá-los para o contemporâneo (1,2). Finalmente, parte-se para o desenvolvimento do projeto em si - da identidade gráfica e arquitetônica, passando pela comunicação visual e sinestésica. (3-10)

Arquitetura, design e comunicação no espaço arquitetônico

A arquitetura ocupa-se do espaço enquanto ambiente construído e funcional, no entanto este é território de investigação interdisciplinar, no qual se dá a experiência cotidiana do homem e onde se realizam suas criações.

Aquele espaço culturalmente qualificado, no qual acontecem as trocas e práticas sociais entre o próprio espaço e sujeitos que se deixam absorver pela fruição dos sentidos, podemos chamar de lugar. O lugar é fruto das transformações sígnicas de seus traços peculiares, de suas singularidades, que geram sua identidade própria. O lugar é situado, contextualizado e produz significados, induz ações e comportamentos, promove a troca de informações entre espaço e usuário e também entre usuários. Através dessa troca de informações, constrói-se no espaço a representação de uma coletividade e, entre seus diversos agentes, um vínculo identitário.

O design contribui nesse processo para a construção da visualidade do espaço, tanto através do bidimensional quanto do tridimensional.

Projeto e Identidade

O mundo contemporâneo transforma a produção cultural em imagens que tanto seduzem o enunciatário, como influenciam ou modificam seu comportamento no âmbito da comunicação e do consumo. Numa época de hipercapitalismo, em que os valores inerentes a cada cultura e os seus referenciais se dissolvem, é importante que as imagens produzidas exerçam um papel crítico em nossa sociedade, que comuniquem honestamente valores e idéias, ou seja, que tenham profundidade e não caiam no pastiche.

Quando imagens com profundidade são criadas, carregam consigo uma certa postura crítica por terem conteúdo informacional. Para que o projeto que gera tais imagens seja eficiente, é preciso que se desenvolva em diversas escalas, que crie um sistema integrado entre diversas disciplinas, que seja capaz de comunicar valores e conceitos em diversos níveis, tanto sensíveis como inteligíveis.

A solidificação dos referenciais é importante para que o que se produz no seu espaço não seja desvinculado dos contextos iniciais de criação que forneceram a base formatadora do mesmo. Assim, é possível compreender como se formam os lugares que fazem parte da nossa memória, quer individual, quer coletiva; lugares que são fruto e ao mesmo tempo capazes de produzir imagens que comuniquem suas singularidades, em uma linguagem que se atualiza ao mesmo tempo em que possa ser atualizada, mantendo os vínculos identitários entre sujeitos objetos

Uma vez que está envolvida a manutenção de uma relação dialógica entre o usuário e o espaço, para que a troca de informações e a criação de vínculos identitários efetivamente ocorra, é preciso que se leve em consideração os feedbacks, (Johnson, 2002) gerados pelos próprios sistemas, para que estes possam se ajustar às demandas e às expectativas dos usuários e se mantenham, com isso, atualizados. A identidade que orienta um projeto não é dada como um valor imutável, mas muitas vezes como algo que se atualiza e se constrói no tempo. Por isso, o projeto não pode ser rígido demais, ao mesmo tempo em que deve ser coeso e coerente em todo o seu discurso. Nesse sentido, o projeto não apresenta uma solução pronta num esquema fechado, mas cria possibilidades de soluções que vão se construindo no tempo e desenvolvendo imagens que constroem padrões claramente reconhecíveis, nos quais convergem aspectos visuais, táteis e identitários.

Assim, é importante que o sistema de identidade seja adaptativo e interativo para que se mantenha e ativo, atual e continue a gerar interesse e a criar vínculos identitários em novos contextos.

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