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secao 4!

Móvel popular industrializado - Análise crítica e projeto de sistema de modulado

 

Carolina Carvalho Martinussi

Cibele Haddad Taralli

O interesse na análise da produção industrial do móvel popular surgiu a partir da observação dos problemas de sua inserção na habitação popular. Tais problemas abordam tanto questões mais imediatas, como a relação do mobiliário com o usuário, e daquele com a moradia, até aspectos mais amplos, como a configuração da produção industrial de mobiliário popular brasileira e como o desenho industrial exerce seu papel dentro de tal lógica de produção.

A partir das conclusões sobre os aspectos referentes aos materiais e matérias-primas, a questão dos custos e do desenho industrial aplicado nesse segmento da indústria nacional, foram considerados os requisitos que balizaram o projeto de um sistema de modulação para móveis de guarda, direcionado para a habitação popular.

Esse sistema foi aplicado nos elementos de composição do móvel, tal como estrutura, fechamentos e complementos, possibilitando a montagem pelo usuário a partir de peças que seriam adquiridas separadamente. Esse partido de projeto possibilita que o móvel seja desmontável, componível, extensível e flexível, ampliando as potencialidades de uso e de interface desse mobiliário dentro da moradia popular.

Para delimitar o projeto, o sistema de modulação foi aplicado aos móveis de guarda, como armários, estantes, cômodas e racks, por esses serem mais facilmente passíveis de modulação, se comparados a mesas ou cadeiras, por exemplo, cuja "modulação" se dá pela repetição da unidade "inteira", e não com seus componentes.

Um grande problema a ser enfrentado pelo morador de uma habitação popular é o congestionamento, que indica que os moradores não estão tendo espaço suficiente para desenvolver suas atividades. Segundo LEMOS (1978), uma característica dessa categoria de habitação é a constante superposição da zona de serviço com a zona de estar.

Por um lado, a quantidade de espaço e equipamentos estão em função das exigências físicas das atividades (características antropométricas e mecânicas das ações). Por outro, há as exigências psicossomáticas que podem levar a insatisfações e perturbações, mesmo quando se dispõe de espaço mínimo necessário para desenvolver tais atividades. O espaço da casa, para transformar-se em moradia, precisa atender a valores e expectativas que os moradores têm em relação a uma habitação e que estão condicionados a aspectos sócio-culturais.

Pensar num mobiliário que dialogue com a pequena dimensão da moradia popular, além de ser acessível economicamente, é uma forma de buscar possíveis soluções que melhorem qualitativamente as unidades de habitação empreendidas tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada, ou mesmo as unidades auto-construídas.

O projeto

O projeto seguiu o objetivo de criar um produto MULTIFUNCIONAL nos seguintes aspectos:

múltipla função de uso de cada modelo
múltipla função de uso de cada peça (plano), havendo um aproveitamento multifuncional
desmontabilidade total
reposição imediata de peças, em caso de peças quebradas,

e assim contemplar os conceitos de modulação, permutabilidade, divisibilidade, flexibilidade e multifuncionalidade.

Foi desenvolvido um sistema pensando na possibilidade de se acrescentar ou de diminuir "módulos", de maneira a garantir versatilidade ao móvel. Devido ao fato de os painéis de MDP - utilizando dispositivos de fixação convencionais - permitirem um determinado número de montagens, a solução foi transferir a fixação e travamento do móvel para uma estrutura externa, a ser confeccionada em perfis de alumínio.

A modulação das peças é dada pela conjugação dos planos de MDP verticais e horizontais, que determinam a nomenclatura das dimensões, com os perfis de alumínio, que fazem um quadro externo de travamento de cada módulo. Por intermédio da realocação das peças que fazem as cantoneiras, é possível adicionar novo módulo tanto no sentido horizontal quanto do vertical.

Os usos pensados para essas composições são: armário, estante, cômoda e rack; compondo assim um elenco de móveis de guarda. Eles têm a importante função de organizar os objetos, equipamentos e demais pertences do interior de uma habitação.

Além da função de guardar, pode-se adicionar a de organizar a própria configuração do ambiente. Principalmente porque nas habitações populares o problema do congestionamento e da qualidade do espaço requer muitas vezes soluções especiais, como dividir ambientes, ou mesmo o espaço de cada morador no interior de um quarto. Foi pensando nesses usos que as alturas dos módulos foram definidas.

São as peças de encaixe (cantoneiras) que determinam as configurações possíveis do projeto. As peças de travamento, que são as cantoneiras, travessão superior e inferior e perfis laterais perfurados, se unem por pinos de borracha duros, facilitando montagem e desmontagem.

Todas as modulações podem receber portas e fechamento posterior, com o acréscimo de peças de encaixe para tais componentes. Já os "assessórios" internos ao módulo são fixos no perfil lateral de travamento. É também por meio do perfil lateral perfurado que se acrescenta novo módulo, quando a altura deste é diferente da da composição existente.

O sistema possibilita, desta maneira, uma grande diversidade de composições, utilizando os painéis de MDP praticamente como estruturas de vedação. O conceito pode permitir, com possíveis revisões de projeto, a utilização de outros materiais: painéis com misturas de madeira, plásticos e resíduos, buscando associar materiais reciclados e de matérias-primas renováveis; os perfis podem ser de plástico, desde que este promova melhor custo-benefício; as portas podem ser em algodão associado a fibras, ou mesmo em plástico reciclado. Este é um aspecto interessante que passa pelo investimento em pesquisa de novas tecnologias e mesmo promoção de culturas locais, fazendo uso de matérias primas características de determinadas partes do país.

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