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secao 4!

Aproximação e [Re]construção:

Percursos à Várzea do Carmo

Victor Macedo Gurgel

Alvaro Luis Puntoni

"Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está."
(SANTOS, 1987, 81)

Este trabalho apóia-se no estudo de como a segregação entre elites e massas vem sendo perpetuada em nossas cidades, processo esse conduzido pela minoria dominante através de instrumentos presentes nos âmbitos sociais, econômicos, políticos e culturais da vida urbana.

Parque Dom Pedro 2 entre faces opostas

Para melhor compreendermos a situação em que se encontra a região o Parque Dom Pedro II, traçou-se breve panorama, de como se formaram os dois lados que o margeiam - a Colina Histórica e o Brás. Essa abordagem é importante, pois esclarece ainda mais a maioria das questões surgidas no próximo capítulo, que trata do parque e do rio, além de configurar parte da leitura do local feita até que se chegasse ao projeto, conforme me propus desde o início.

O Parque e o rio em três momentos

Um dos caminhos percorridos para a análise do objeto de trabalho, representado inicialmente pelo Parque Dom Pedro II e suas adjacências, foi traçado através de pesquisa bibliográfica, selecionada aqui de maneira criteriosa para enxergar o local sob a ótica da espacialização da segregação social. Além disso, diversas visitas ao local contribuíram para esclarecer as várias disposições que se apresentam na área.

No entanto, outro processo foi também de suma importância: a leitura de imagens e mapas afirmou a bibliografia e a complementou, assim como serviu de base para estudos de projeto realizados e apresentados mais a frente, tão importantes para o resultado final do trabalho.

Novas alternativas pelo projeto

O projeto procura oferecer novas alternativas de descida, trabalhando com a complexidade, variedade e permeabilidade através da reconquista e da revelação do espaço ao usuário.

O edifício abriga um programa extenso, mas que inicialmente pode ser explicado dividindo-se entre um caráter mais público e cotidiano, e outro mais reservado e de contemplação. Este último possui três atividades básicas: um arquivo histórico municipal, onde se reuniria todos os documentos que dizem respeito à cidade; recepção e central de informações, coligados a escritórios públicos diversos; e um Museu da Várzea.

O programa de caráter mais público está principalmente ligado à descida da colina, entre a complexidade e a permeabilidade que oferece novos trajetos, aliada à dissolução do terminal de ônibus. Isso porque o projeto se relaciona e, de certa forma abriga, uma nova lógica possível ao transporte público.

Trata-se de um edifício de travessia, o que significa que da cota mais alta (toma-se o nível 746,10m), na Rua Roberto Simonsen, pode-se seguir em quase que totalmente em nível em direção à várzea e lá descer verticalmente ou ainda acompanhar a declividade própria do terreno - e da Rua Venceslau Brás - até a Dr. Bitencourt Rodrigues. Ali, agora encontramos uma longa praça, onde a vasta vista do vale se revela a quem desce. Desta praça (na cota 739,50m), pode-se novamente cruzar em nível, passando por cima da Rua Vinte e Cinco de Março, e novamente descendo à várzea por circulação vertical.

O projeto está ligado a uma nova lógica de transporte, pois foi pensado partindo do princípio de que, desta forma, os ônibus não mais precisam aguardar parados até que tenham passageiros suficientes para fazer da viagem uma atividade rentável. Além disso, não mais encontraríamos na região um número tão concentrado de linhas, já que os diferentes meios de transporte seriam agora efetivamente complementares.

Desta maneira, vê-se, por exemplo, a longa praça também como abrigo a uma grande parada de ônibus - ou outro tipo de transporte leve - que seguem em um determinado sentido e o edifício acolhendo outra parada, voltada para a Vinte e Cinco de Março, por onde passariam veículos em outro sentido.

Para abrigar todas as atividades propostas, pode-se resumir o edifício como uma barra de 20 metros de vão interno, estruturada em duas grandes treliças metálicas para que possa partir do alto da colina e se apoiar em um grande bloco de concreto, situado no vale do Tamanduateí, em frente ao parque.

No alto, de onde parte o edifício, se encontra o programa do Arquivo Municipal, mais introspectivo, se valendo da estrutura periférica de modo a voltar sua atenção para o interior. Na várzea, o bloco de concreto configura uma estrutura nuclear, onde se agarram à sua volta estruturas secundárias, parasitas, que contemplam e constatam visualmente sua situação no terreno, por quase 360°.

Entre o Museu da Várzea (e porque não da Cidade?) e o Arquivo Municipal, pairam os escritórios públicos e ainda uma biblioteca, que, voltada a assuntos e interesses gerais, complementa o Arquivo e o programa como um todo. Neste trecho, o de maior declive, encontramo-nos justamente sobre o fator geográfico determinante na herança de segregação, onde o que já serviu como proteção passou a delimitar os fundos da cidade, virada de costas para o vale alagadiço e que transmite ainda hoje esse legado, em muitos aspectos.

Abriga na parte de escritórios, a recepção e centro de informações, pequeno setor de coordenação e ainda os escritórios públicos de advocacia, engenharia, arquitetura e qualquer outro que possa dar assistência e amparo públicos aos cidadãos de São Paulo.

Ficha Técnica

Local: Zona Central de São Paulo, SP
Área: 24.170m²
Programa: Arquivo Histórico Municipal; Biblioteca Pública; Escritórios públicos; recepção e central de informações; Museu; restaurante; serviços, cafés

 

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