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secao 4!

Habitação temporária:

albergue para moradores de rua no bairro de Pinheiros

Aline Cannataro de Figueiredo

Fábio Mariz Gonçalves

O tema proposto para o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação é resultado de uma reflexão sobre o déficit habitacional do país, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo.

Pesquisas demonstram que, no Brasil, houve um aumento de 125 milhões de habitantes residentes nos centros urbanos, e que estes se ampliam espontaneamente para tentar atender toda demanda por moradia gerada. É fácil notar que as necessidades básicas deste novo contingente de moradores não têm sido satisfeitas, e estas pessoas estão, de alguma maneira, acomodadas em território urbano.

Grande parte das vezes ao discutir a crise habitacional da cidade de São Paulo subentende-se como locais de intervenção zonas periféricas ou periurbanas, favelas já inseridas, ou não, na malha da cidade e a região central, com relação ao seu abandono, seus cortiços e invasões.

Este projeto busca discutir o problema da habitação exatamente em áreas onde este é também evidente, porém a uma primeira vista passe despercebido. Além disso, tem como alvo pessoas desabrigadas, sendo necessário estudar e entender um modo de vida, com hábitos e prioridades especiais, seus repertórios e estratégias para facilitar a adaptação à vida das ruas. Deve-se lembrar que há diversos motivos que levam uma pessoa a condição de desabrigo.

Vale reiterar que este não é um estudo de natureza sociológica. Trata-se de um trabalho de projeto de edifício, que busca discutir como é possível “abrigar” a população de rua.

A região escolhida como base deste projeto é o Bairro de Pinheiros, no eixo da Rua Cardeal Arcoverde. Considerado um dos melhores bairros da cidade destaca-se por apresentar infra-estrutura e rede de transporte público em melhores condições que o restante da metrópole e por proporcionar uma plurifuncionalidade que permite uma relação das pessoas com o bairro em diferentes escalas.

Apesar de todo o investimento que esses proporcionam para a região, as propostas de arquitetura e de desenho urbano passam a ter como diretriz principal o papel de trabalhar a imagem de uma cidade para prepará-la para a competição no mercado internacional, porém é impossível analisar o bairro em estudo sem perceber a cidade informal nele inserida.

Segundo a Subprefeitura de Pinheiros, a região apresenta a maior concentração de renda da cidade e ao mesmo tempo possui a quarta maior concentração de moradores de rua do Município, sendo superada apenas por Sé/ Lapa e Mooca/ Vila Mariana.

Esse número elevado de pessoas em situação de vulnerabilidade social é devido o bairro possuir boa infra-estrutura, principalmente de transporte e também proporcionar formas de subsistência a essa população.

Analisando depoimento de moradores de rua, conclui-se que a recusa para se encaminhar a um albergue deve-se, principalmente, aos seguintes fatores: horário de atendimento, disciplina, forma de tratamento, insegurança. Relacionamento dos albergados, alimentação.

O projeto proposto consiste em um albergue para moradores de rua no bairro de Pinheiros, localizado na quadra delimitada pelas ruas Cardeal Arcoverde, João Moura e Cristiano Viana, tendo o lote acesso pelas duas últimas.

Ocupando o terreno com área de 2079,75 m2 o projeto consiste em um edifício principal de acesso pela Rua João Moura que se conecta através de uma praça com um edifício anexo e com a escadaria da Rua Cristiano Viana. A área total contruída é de 4184,35m2.

Através do projeto espera-se evidenciar as questões pensadas para a concepção deste buscando sempre uma identidade entre o morador de rua e o edifício.

Para a elaboração do programa foram pensadas algumas diretrizes que deveriam ser atingidas;
- Possibilidades diferenciadas de acolhida com qualidade para adultos, famílias, mulheres e idosos em horário diurno e noturno.
- Conforme o perfil do morador de rua de Pinheiros, devido a Coopamare, é necessária a acolhida aos catadores, seus carrinho e, quando necessário, sua família e animal de estimação.
- Centro de serviços para atendimento às necessidades de higiene, alimentação, cuidados pessoais, descanso, lazer, estimulação para a saída da rua.
- Oficinas de convívio que possibilitem uma reinserção social.
- Atividades e eventos que promovam a convivência com outros grupos da sociedade rompendo com a discriminação e exclusão social.
- Espaços para a apresentação e comercialização de produtos e serviços que essa população possa oferecer.
- Restaurante popular a fim de atender uma parcela maior do que apenas as pessoas abrigadas e também garantir alguma fonte de renda para manutenção do albergue.
- Espaço para atuação dos moradores de rua dentro do albergue de forma que esses garantam alguma forma de atividade e também contribuam com a organização dos espaço.
- Áreas livres que garantam ao morador de rua o direito de ir e vir sem que o albergue passe a ser um limitador de suas atividades.
- Estratégias que garantam uma expansão da capacidade de acolhida do albergue em épocas emergenciais.
- Enfermaria e atendimento médico.
- Áreas para os moradores de rua guardarem seus pertences e terem o controle sobre esse.

Neste projeto foi de extrema importância o estudo de cores e materiais de acabamentos para que o edifício possa ter uma identidade e atrair a população a quem se destina. Habituada a ocupar locais degradados, ao chegar em um edifício que não apresenta um cuidado plásico, a população que abriga as ruas se remete a sua situação de exclusão, não valorizando o espaço que lhe é oferecido.Mostrar um projeto plasticamente acabado mostra um cuidado que seduz a população de rua, agradando a essa a idéia ter sido o foco principal de tal cuidado.

Sua concepção obriga o arquiteto a trabalhar em diferentes escalas, a fim de entender o público para o qual o projeto se destina. Acredita-se assim que este trabalho proporcionou alguns exemplos de desafios que arquitetos e urbanitas tenham que enfrentar a cada projeto que lhes é encaminhado, de conhecer seu público, o local que este ocupa, suas dinâmicas e sua identidade própria.

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