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secao 4!

O arquivo de A. L.

Cecilia Góes

Luciano Migliaccio

Este trabalho é um exercício que nasceu diante do momento de conclusão de um curso atravessado de inquietações, vividas sobretudo no seu contato com a sequência das matérias de Projeto e de História e Teoria desta faculdade.

Ele desenvolve uma pequena pesquisa que procura investigar as discussões levantadas pela obra de Adolf Loos, entre as décadas de 1900 e 1930, procurando delinear as suas críticas ao Art Nouveau. Em linhas mais gerais, visou-se levantar também alguns pontos da diferença entre Loos e a arquitetura moderna racionalista, em desenvolvimento a partir dos anos 1920.

O interesse da pesquisa é focado na origem do movimento moderno como o espaço de ebulição de diferentes debates que precedem e contribuem para a sua consolidação em âmbito internacional.

A intenção de focar o diálogo que Loos estabelece com a arquitetura moderna - desdobrado tanto no debate com o Art Nouveau, como nas diferenças com o racionalismo - enfrenta o panorama historiográfico de um arquiteto que integra as bibliografias da História da Arquitetura Moderna basicamente através de apenas um artigo, “Ornamento e Delito”.

A edição espanhola dos escritos de Loos, que serviu de base primária para este trabalho, data de 1972 . A nota preliminar do livro apresenta a obra de Loos dizendo que alguns de seus pontos centrais fazem dela, mesmo sendo pouco conhecida, um documento “indispensável para compreender a complexidade do Movimento Moderno e para a recuperação de posições teóricas dispensadas posteriormente pelo funcionalismo” . A introdução da edição ressalta o fato do arquiteto ser pouco conhecido entre o público de língua espanhola, “apesar de ser ao mesmo tempo ponto de ruptura e continuidade entre a arquitetura do começo do século [XX] – a Secessão vienense – e a dos anos vinte – a vanguarda racionalista”.

A obra de Loos seria inicialmente o recorte de uma pesquisa baseada na historiografia do movimento moderno, procurando-se levantar e analisar as diferentes maneiras com que Loos foi retratado nas histórias da arquitetura moderna produzidas ao longo do século XX. Neste sentido a figura de Loos agrega um caráter oportuno à investigação sobre a historiografia, no que diz respeito à grande oferta de pontos de vista com que sua produção é retratada nos diversos momentos de constituição da História da Arquitetura moderna, ou - conforme afirma Panayotis Tournikiotis - das Histórias.

A princípio foram reconhecidos três períodos de produção historiográfica que concentram análises sobre Loos: os anos 30, os anos 70, os anos 90-2000.

Ao longo do processo, a historiografia passou de objeto a instrumento. Apesar de ter acabado assumindo um plano auxiliar no percurso, as questões referentes à recepção da obra de Loos pela historiografia que o sucedeu ganha atenção no segundo capítulo e, de certa forma, é ponto de partida para a discussão que toma lugar no primeiro, que lança, a partir do recorte da obra de Loos e das pesquisas historiográficas sobre ela, inquietações acerca do lugar da História para a produção arquitetônica.

O último capítulo dá lugar ao debate travado por Loos com seus contemporâneos envolvidos nas associações de artes industriais do Art Nouveau - o Werkbund alemão e o Werkstätte vienense. As reflexões sobre as diferenças entre a obra de Loos e a arquitetura que o sucedeu também ganha espaço neste último texto. Esta última frente de análise, apenas esboçada embrionariamente, é recortada a partir do material publicado no catálogo da exposição na Universidade de Delft em 1991, intitulada Raumplan versus Plan Libre, que apresenta junto aos projetos de Loos algumas obras de Le Corbusier da década de 1920.

É preciso pontuar que as análises desenvolvidas podem achatar algumas diferenças e distâncias. Não foram aprofundadas, por exemplo, as distinções entre as diversas associações do Art Nouveau, nem sobre a obra dos arquitetos expoentes destas tendências. Mais do que isto, na relação com a bibliografia, pouco foi discernido a respeito do contexto original da produção dos textos de Cacciari e Benjamin. Este último é trazido para a bibliografia sobretudo no corpo da análise de Cacciari sobre a obra de Loos, nos ensaios compilados no livro Adolf Loos e Il suo Angelo, traduzidos para o inglês no volume Architecture and Nihilism: on the Philosophy of Modern Architecture. Estes ensaios foram talvez o carro-chefe da bibliografia desta pesquisa, e sem dúvida ficou faltando tomar uma distância maior da leitura que eles trazem da obra de Loos.

As questões que motivaram o trabalho narram um percurso em andamento e que ainda buscam ter clareza sobre o “trecho” percorrido.

Parece ressoar diante do objeto escolhido a indagação sobre a epígrafe não raro apresentada nos trabalhos feitos e vistos na FAU, “o projeto enquanto conhecimento”. O que é compreendido no projeto enquanto conhecimento? As reflexões na direção desta pergunta são o que consta desenvolvido nos três textos apresentados aqui, e parecem ao mesmo tempo dar sentido às mudanças assumidas no decurso do trabalho.

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