O objetivo do trabalho foi tomar a implantação de uma escola técnica como exercício projetual. Embasando as diretrizes de projeto houve três linhas de pesquisa teórica. A primeira, fundamentando a relevância do ensino médio, do ensino técnico, e da integração de ambos para a sociedade atual. A segunda, a escolha do local de implantação e dos cursos adotados, do ponto de vista social, econômico e urbano. A terceira, buscando o entendimento das necessidades dos principais usuários do edifício: jovens e professores. Amparada nas informações coletadas na fase de pesquisa, a proposta final do projeto buscou dar conta da correta organização funcional, da criação de espaços variados de vivência, com níveis diferentes de integração ao uso da comunidade, e também preservar o caráter do edifício industrial original.
Segundo dados do IBGE (2000) tabulados pelo MEC, a taxa líquida de escolarização do ensino médio é de 54,2%, ou seja, pouco mais da metade das pessoas na faixa etária do ensino médio estavam fazendo o curso, enquanto para o ensino fundamental o valor do índice é de 92,8% no mesmo período. No IDEB (2005), Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, as notas do ensino médio são mais baixas que as do ensino fundamental tanto nas redes públicas quanto na rede privada. Desta forma, o ensino médio está ainda aquém do ideal, tanto em seu atendimento quanto em sua qualidade.
Segundo PERKINS (2000) a divisão entre as habilidades industriais e acadêmicas se erodiu. Atualmente as profissões requerem mais habilidades acadêmicas para lidar com a tecnologia, algumas carreiras requerem treinamento interdisciplinar, e o currículo acadêmico também exige mais conhecimentos tecnológicos.
Assim, o ensino técnico junto ao ensino médio tem como vantagens oferecer um contraponto prático ao conteúdo teórico do ensino médio, ser experimentação de uma atividade profissional, dos desafios e responsabilidades ligados às profissões de modo geral. Sendo o ensino médio a última etapa antes da “admissão” social adulta do jovem, o ensino técnico conjunto pode ajudar a ampliar sua noção de responsabilidade, sua inserção no mercado de trabalho e, portanto, seu pertencimento à sociedade.
Quando o ensino técnico é verdadeiramente integrado ao ensino médio e não somente justaposto, ele pode ser uma oportunidade de trabalhos interdisciplinares e de fortalecimento de alguns conceitos científicos e filosóficos tratados no conteúdo geral do ensino médio e aplicáveis ao conteúdo do ensino técnico.
Diante do aumento e complexificação, não só das tecnologias e conhecimentos, mas também das dinâmicas sociais que os utilizam e que exigem conhecimentos gerais e científicos, uso de ferramentas tecnológicas diversas, interdisciplinaridade e trabalho em equipe; tornou-se essencial que o sistema de ensino desenvolva nos estudantes, diversas habilidades cognitivas, e não só o raciocínio lógico e lingüístico do ensino tradicional, que se ensine a base para o uso das novas tecnologias, para que os estudantes não fiquem defasados, e que as atividades escolares exercitem o trabalho em equipe, e estimulem o interesse por investigações próprias dando-lhes métodos para isso, de modo a semear a possibilidade de estudos autodidatas como um complemento à educação formal.
Neurologicamente, os adolescentes passam por transformações que podem favorecer os aspectos discutidos no parágrafo anterior, ou ser por eles favorecidos. Nesta fase, devido ao embotamento do sistema de recompensas, torna-se uma necessidade vivenciar experiências intensas ou novas, e o tédio com as coisas comuns é recorrente. Há também uma necessidade de socialização premente, e o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores que possibilitam processos como o da abstração, entre outros, permite que os jovens aprendam as regras do convívio social e descubram novos interesses.
Por outro lado, essa necessidade do novo, de estímulos fortes e de socialização, associadas à imaturidade da capacidade de planejamento e antecipação de conseqüências pode induzir os jovens a comportamentos de risco, sem que sejam capazes de avaliar bem a situação e frear seus impulsos.
Por tudo isso, o oferecimento de atividades diversas e supervisionadas dentro do ambiente escolar é uma oportunidade de saciar a necessidade de estímulos, experimentação e socialização dos adolescentes de uma forma construtiva, de oferecer a eles a chance de descobrirem novos interesses pessoais dentro de atividades saudáveis.
O edifício original foi preservado em seu caráter, mantendo a memória da ocupação industrial na região.
As atividades de caráter público ou semi público foram posicionadas na periferia do edifício, facilitando seu acesso independente para a comunidade em geral, e criando para as salas de aula um núcleo mais reservado e protegido do ruído das avenidas, favorecendo a concentração, que é um processo mais difícil na adolescência, e reduzindo ruídos que interfiram na comunicação oral, principal meio do ensino tradicional.
As salas de aula possuem uma área generosa, e seu mobiliário e instalações foram pensados para permitir aos educadores uma facilidade no uso de abordagens de ensino diferentes dentro da sala de aula. Além dos laboratórios técnicos, a escola foi equipada com laboratórios de ciências e artes para permitir o desenvolvimento de atividades mais específicas.
A cobertura do edifício foi retirada em alguns pontos, criando jardins ao redor das salas de aula, que favorecem a concentração dos estudantes, a boa insolação e ventilação das salas de aula e cria espaços de estar que variam do estar mais íntimo ao mais coletivo.
Destinados a ser um espaço de vivência e de apropriação dos alunos, os núcleos estudantis foram criados com armários para a guarda de materiais pessoais, espaços de estar e estudo, e marcam as etapas do curso, sendo um núcleo para cada ano.
Escola Técnica
Local: Jaguaré, São Paulo-SP
Data do Projeto: 2009
Área do terreno: 21.468 m²
Área construída: 18.257 m²
