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secao 4!

Arquitetura de Templos:

uma experiência em diadema.

Ellen Cesonis

Euler Sandeville Junior

O trabalho tem o propósito de repensar o espaço do templo cristão a partir de uma demanda real, um edifício adequado às atividades da congregação presbiteriana do Jardim ABC, na periferia da cidade de Diadema. Inicia-se com a inquietação resultante da tendência de templos adaptados e a falta de arquitetura; e prosseguindo, a partir de um breve estudo teórico sobre os templos cristãos, análise da doutrina da denominação e pesquisa de repertório, tem como resultado a proposta de um edifício de educação religiosa.

Numa breve regressão na história cristã, observamos que a graça divina já intentara ser traduzida em edifício, monumentos, capelinhas, salões ou jardins na criação dos homens. Mas a glória de Deus é muito superior e só pode ser representada pela criação divina, ou seja, o próprio homem, por suas reu¬niões, pelas próprias vidas que expressam a santidade e fé, pelo invisível, por uma escala que não nos cabe, por uma imagem que não é palpável, por uma essência incompreensível, pelo espaço simples, pela luz de um entendimento que vê dentro de si e encontra algo que não pode ser contido.

Quando se formula a idéia de procurar por essa essência a partir de um estudo so¬bre os templos, através de um modelo padrão como a dissertação, a sua intenção central se enfraquece. Parecia muito mais adequado um produto que se aproximasse,de uma obra de arte ou um poema, qualquer expressão humana que trouxesse mais o sentimento, a subjetividade, encontrar o discurso nas entrelinhas, em metáfora. Esta é a linguagem do pregador, o espiri¬tual, e o sentir que o projeto quer trazer. Nada tem a ver com a tinta.

Pensar o local sagrado pressupõe uma série de entendimentos, e pensar um templo protestante requer um recorte neste conjunto. Para o protestante, o pensar a igreja não é um problema espacial, e sim temporal. O conceito de igreja vem da reunião das pessoas, da assembléia. O espaço do templo em si, o espaço litúrgico não é sagrado, ele adquire essa condição. O edifício, como qualquer outro território é ocupado pelo sagrado. Deus pode ocupar espaços profanos sem, no entanto alterar sua natureza.

Reunir-se em grupos para adorar a Deus incorre em uma série de atividades (cantar, ouvir, estudar, ler, conversar, entre outras) que poderiam acontecer em qualquer lugar. O edifício religioso, inegavelmente carrega para o corpo da igreja uma importância psico¬lógica e espiritual, é uma referência, o lugar onde as pessoas têm uma experiência especialmente profunda do sagrado. O edifício deve ser “santo”, apenas no sentido de separado do uso comum.

Esta experiência de estudar o espaço sagrado e assumir sua desvinculação com a essência construtiva do edifício num primeiro momento parece afastar das questões arquitetônicas, mas logo após acaba levando a uma reflexão mais ampla acerca do definir afinal, o que está sendo trabalhado e discutido? Igreja, capela, ou templo? Cada idéia carrega uma série de significados. Neste presen¬te trabalho, adota-se o conceito de um “edifício de educação religiosa”.

O edifício de educação religiosa, como suporte, não traz o sagrado ou o monumental; apresenta apenas questões referentes ao espaço, ao desenho, à inserção na cidade e a apropriação das pessoas. Mas é a partir delas que é propomos um lugar que acreditamos que o tempo vivido dentro dele seja sagrado.

O edifício de educação religiosa parte do entendimento do conjunto de práticas da denomi¬nação, de grande relevância das questões educacionais e, mais detidamente ao estudo da Bíblia. Par¬tiu de uma releitura metódica dos templos na história judaico-cristã, uma história permeada por que¬bras (mudanças rígidas) das características espaciais. Tais mudanças são reflexos de transformações de conceito, alterações em relações às práticas e doutrinas por razões histórico-culturais. E essas mudanças continuam a ocorrer, suscitando a discussão e o entendimento desta questão sobre tempo e espaço do sagrado. Quando a falta de sacralidade do edifício é levada a últimos termos, podemos relacionar com o fenômeno contemporâneo dos edifícios religiosos adaptados em edifícios que antes assumiam outras funções. Transformando salões com cadeiras plásticas em igrejas, as comunidades cristãs que antes constituíam os pólos de desenvolvimento urbano, organizando as cidades, hoje dis¬solveram-se no tecido suburbano, e corroboram com a falta de arquitetura e a desenho das nossas cidades.

Este trabalho situa-se neste mesmo cenário urbano, utilizando um lote de dimensões pa¬drões, ao enfrentar questões que essas comunidades de igrejas adaptadas já enfrentaram, procuran¬do respondê-las através de uma arquitetura que se posiciona em relação à cidade, um edifício que tem identidade e que permite sua apropriação pela comunidade.

Explorando mais o assunto, buscamos a criação de um repertório, que teve de ser recortado e sistematizado, pela vasta lista de referências que pode ser encontradas sobre igreja.

Na criação deste novo edifício, a fé como simbologia aparece em uma série de elemen¬tos que não utilizam formas literais, pois neste contexto crer é ter fé no invisível, no não ma¬nifestado, no que pode ser símbolo, porque o símbolo pode ser a único meio de comunicação entre a natureza humana e a divina. A arquitetura religiosa está lá no momento em que busca¬mos aquele sentido que nos escapa ao sentido.

“O espaço sagrado dessas religiões dá testemunho de uma experiência religiosa na qual o sagrado é a quintessência da abstração? Sim e não. A resposta é necessariamente negativa se buscarmos nos lugares expressões objetivas do sagrado. (...). Mas a resposta também pode ser positiva se entendermos que tal silêncio possui grande eloqüência a respeito do que se cala. Um lugar cambiante, constantemente ressignificado, apropriado pelo fiel a cada reunião, visto e falado como um lugar diferenciado nos procedimentos litúrgicos. Sim, um espaço que se sacraliza não por uma hierofania que se imponha ao crente, mas pelo olhar cúmplice daqueles que o freqüentam”. (ABUMANSSUR, 2004:196).

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