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secao 4!

Arquitetura Marketing:

a produção para Incorporadoras

George Ferreira

Carlos Roberto Zibel Costa

Este trabalho tem como objetivo identificar e discutir a produção arquitetônica realizada em prol da valorização imobiliária através da exploração dos sonhos e anseios dos consumidores. Trata-se de uma investigação da arquitetura realizada como mercadoria, analisando o quanto esta prática pode ser desastrosa tanto em aspectos sociais, éticos e estéticos.

Através da leitura de textos de críticos, levantamentos de campo, levantamento de material de propaganda veiculado na mídia, entrevistas com profissionais e pessoas ligadas à produção da arquitetura, procura-se entender esta faceta da atuação do arquiteto diante da consolidação da sociedade capitalista.

A pesquisa se deu de maneira ampla e irrestrita, embora tenha sido difícil o contato com pessoas ligadas às grandes empresas. Foram realizadas 15 entrevistas entre estudantes, arquitetos, professores, consumidores, uma consultora imobiliária e uma representante do Movimento dos Sem-Teto do Centro de São Paulo.

A partir deste material foi produzido um vídeo mesclando as opiniões dos entrevistados com imagens de propagandas veiculadas na internet e imagens colhidas em campo. Este vídeo foi uma tentativa de síntese desta ampla pesquisa, servindo como material para consulta de futuras pesquisas sobre o tema.

Desenvolvimento teórico

A utilização da propaganda tem se intensificado nos últimos 20 anos como principal estratégia para as vendas de lançamentos imobiliários. São utilizados os mais diversos meios de comunicação para se atingir os consumidores da mercadoria-imóvel. A leitura de pesquisas de opinião é traduzida por profissionais de Marketing em novos conceitos que são apresentados para o público consumidor em propagandas cada vez mais elaboradas e complexas. Essa estratégia pode ser entendida como força motriz da valorização dos empreendimentos, na medida em que busca captar os sonhos e anseios do consumidor e implanta-los nos projetos reais de construção dos edifícios. Neste momento, o trabalho do arquiteto passa a ser o de adaptar seu desenho a estes atributos e, em muitos casos, criar sensações falsas de fachadas mais imponentes, espaços mais requintados, modernidade, segurança e liberdade.

Ao arquiteto também é atribuída a função de funcionar como um chamariz, quando seu nome é famoso, agregando valor ao empreendimento. Sua criatividade é utilizada como estratégia de venda e de garantia para investidores.

Há uma mudança significativa quanto à importância do arquiteto e sua função nos projetos de edifícios, principalmente em construtoras de grande porte. Ele não é responsável mais pelo projeto todo e é sua obrigação atender ao que os profissionais de Marketing dizem que vende. Este profissional, por sua vez, participa de todas as etapas de produção da mercadoria-imóvel, conectando os profissionais projetistas com o universo da criação de imagens simbólicas para as propagandas.

O estudo de caso realizado para este trabalho foi um condomínio fechado localizado em Cotia-SP, voltado para a população de baixa renda. Este empreendimento mostrou-se típico, dentre muitos fatos, por fazer uso de um escritório de arquitetura contratado pela empresa incorporadora como prestador de serviço terceirizado.

O conjunto cercado de casas e apartamentos foi analisado quanto às contradições entre sua localização e sua propaganda, demonstrando o interesse por parte da empresa incorporadora em desviar a atenção dos arredores e das dificuldades com o transporte até o destino provável dos futuros moradores, a cidade de São Paulo. Outra estratégia recorrente nas propagandas imobiliárias e que também pode ser observada neste estudo, diz respeito à tentativa de ampliar os espaços internos dos imóveis tanto pelo uso de espelhos e móveis feitos sob medida no apartamento decorado, quanto pela utilização de medidas mínimas nos móveis ilustrados nas plantas.

Conclusões

A discussão colocada por este trabalho trata da atuação profissional frente à perversidade do mercado imobiliário e sua busca incessante de geração de sobrelucros ao capital investido. Salvo raras exceções, a arquitetura produzida hoje é refém das vontades impostas pelas incorporadoras, que passaram a praticar o oligopólio do mercado imobiliário após a falência das políticas públicas de financiamento habitacional do Estado, ocorrida nos anos 80. Ao acirramento da competitividade entre estas empresas corresponde uma racionalização e padronização da produção, que implica na diminuição qualitativa do projeto arquitetônico. Esta mesma competitividade exclui a faixa de menor poder aquisitivo do acesso à moradia formal, contribuindo para o quadro de contraste social no Brasil.

Em um país em que o déficit habitacional ultrapassa 8 milhões de moradias, e que 90% destas famílias têm renda de 0 a 3 salários, parece evidente que questão habitacional deve ser encarada com maior seriedade. O mercado imobiliário inexiste para esta faixa de renda porque as empresas não têm interesse em investir em um mercado que não é lucrativo.

Em um momento em que temos a chance de reivindicar uma maior participação dos arquitetos na produção habitacional para uma grande faixa excluída do mercado formal, este trabalho procura ser um alerta da condição atual da profissão no Brasil e do domínio das leis de mercado sobre a questão da moradia. Este domínio é evidenciado pela utilização do marketing por algumas empresas, e pelas estratégias puramente publicitárias da maioria delas, tendo em vista que estas ferramentas são utilizadas para a formação contínua de opinião e convencimento do publico consumidor.

Se levarmos em conta que a moradia é um direito básico garantido pela constituição assim como à saúde, podemos pensar que os arquitetos devem desempenhar um papel com relação à produção da cidade assim como os médicos com relação à saúde da população. É preciso assumir a responsabilidade de uma postura profissional que faça justiça à necessidade básica de moradia da população, voltando o planejamento estratégico das cidades para este fim e não apenas aos interesses capitalistas da população abastada.

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