O trabalho tem como objetivo apresentar uma interpretação gráfica da Liberdade, utilizando-se da síntese de todos os símbolos, signos, elementos arquitetônicos e urbanísticos, assim como aspectos históricos e culturais do bairro e seus usuários.
Através do trabalho, pretende-se realizar um aprofundamento dos estudos de comunicação visual e design gráfico, e suas relações com o espaço urbano da cidade, desenvolvendo um experimento visual.
A metodologia de desenvolvimento do trabalho tem base nos princípios de concepção de qualquer processo criativo.
A Liberdade nem sempre foi um bairro étnico, e já possuiu um outro significado durante a sua história. Originalmente a região do bairro era uma trilha portuguesa de bois, e posteriormente abrigaria o largo da forca.
Na região da Praça da Liberdade se localizava a forca da cidade, onde eram executados os condenados à morte pela justiça. Em 1858, o Brasil Imperial alterou o nome do local para “Largo da Liberdade”.
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram em 1912. A Liberdade tornou-se o “bairro japonês” durante os anos 1950 e 1960. No início dos anos 70 a linha do metrô chegava ao bairro, e em 1973, as famosas luminárias “Suzuranto” foram instaladas.
O que faz a Liberdade tão especial aos olhos de qualquer visitante ? Essa imagem resulta em boa parte por o bairro representar uma fantasia buscada pelo turista.
As bases para a construção dessa imagem tão exótica do bairro podem ser resumidas pelos produtos, comida e erotismo. No entanto, a maioria das mercadorias “japonesas” vendidas hoje no Brasil é, na verdade, produzida na China, e rotuladas no idioma japonês.
Boa parte da identidade do bairro se deve aos inúmeros restaurantes de culinária japonesa. Os restaurantes são japoneses, embora a maioria seja de proprietários brasileiros descendentes de chineses, coreanos e europeus.
Em termos residenciais, a Liberdade de hoje é uma área ocupada por uma mistura de imigrantes chineses e migrantes nordestinos.
Em suma, o que se presencia no bairro da Liberdade é como a cultura brasileira sintetizou, interpretou e adaptou a cultura e a tradição japonesa. Isso tem base no modo de como os imigrantes japoneses criaram sua própria forma especial de brasilidade, ao fundir-se com elementos de diferentes culturas naquilo que definem como “nipo-brasileiro”.
Chega-se a um momento em que é preciso escolher por qual meio se dará a transformação de todo material de pesquisa adquirido do objeto de estudo em questão.
Tendo em vista toda a “matriz orgânica” de material pesquisado, foi possível selecionar alguns elementos essenciais nos quais o trabalho irá procurar se focar:
-a identidade visual do bairro
-a diversidade dos seus usuários
-presença de elementos do passado na vida atual do bairro
-o hibridismo cultural originado do encontro de diferentes culturas
Como modo de transmissão gráfica dessa interpretação/mensagem que o trabalho busca apresentar, foi escolhido o projeto de uma pequena animação experimental.
Na atividade projetual o universo do design estabelece interfaces que coexistem, se integram, se complementam e se relacionam na constituição de um projeto. No caso do objeto de estudo do trabalho, o design atua sobre o campo de projeto dando sintonia e unidade sobre as escolhas projetuais. Essas escolhas que possibilitam uma unidade de projeto se dão em forma da apresentação e concepção do espaço na narrativa, pela diagramação das informações, pelas cores e composição visual e sonora.
Seguiu-se então o delineamento de um rascunho básico de uma história para servir de pano de fundo para o projeto animado.
Esse pequeno roteiro tem base na idéia de que tudo o que se vê no bairro da Liberdade, sua identidade visual, seus elementos mais característicos, seus habitantes, sua dinâmica, não são meramente uma manifestação pontual no tempo, mas sim resultado de todas as transformações e vivências pelas quais o bairro passou durante toda a sua história até os dias atuais.
O projeto da animação foi dividido em três partes, que representam as fases pelas quais o bairro da Liberdade passou durante sua história. Para explicitar as características dessas fases, cada parte da animação terá uma composição visual buscando um clima específico.
Dando prosseguimento ao desenvolvimento do trabalho, foram montados os storyboards e animatic para a animação. Com o planejamento estrutural da animação definido, iniciou-se a animação dos personagens e elementos, com o intuito de construir uma pequena prévia da animação.
O processo de produção misturou o modo tradicional com as mídias digitais, buscando uma composição visual com características híbridas.
Este trabalho buscou o principal objetivo de estabelecer uma conexão entre o universo do projeto e o desenvolvimento de um processo criativo, através dos elementos essenciais aos quais o design e a comunicação visual dão forma.
Existem diversas maneiras para se criar, desenvolver e estruturar uma certa idéia. Graças a interdisciplinaridade entre os campos do projeto, arte, design e comunicação visual, esse processo pode ser enriquecido e valorizado.
O universo do projeto torna possível a visualização desse processo criativo, uma vez que o “projetar” ultrapassa os limites do tempo e as barreiras espaciais, dando forma a conceitos abstratos, oferecendo ferramentas para estruturação de um raciocínio, e fornecendo bases para a construção de uma idéia, uma interpretação, uma mensagem.
