Este projeto de TFG pretende investigar as relações entre Cenografia e Artes Plásticas, relações que se estabelecem no espaço, repletas de nuances derivadas dos vários pontos de intersecção entre essas duas formas de linguagem, através das obras de dois artistas: David Hockney (1937, Bradford, Inglaterra) e Tunga (1952, Palmares, Brasil). Essas relações serão apresentadas em duas etapas: mediante um ensaio teórico acompanhado de um projeto curatorial no qual serão explicitadas as linhas de pensamento e seleção de obras e, posteriormente, o projeto expográfico propriamente dito.
De Edvard Munch, Pablo Picasso a Anish Kapoor, vários artistas experimentaram o campo de criação cênica o que por si só garante a importância do tema. Apesar das raízes das artes plásticas e artes cênicas estarem intrinsecamente ligadas, existem poucos estudos sobre as implicações e as relações entre essas duas práticas.
Na arte contemporânea, especialmente nas instalações (interativas ou não) e na performance, há uma apropriação de elementos da linguagem teatral. No entanto, embora exemplos possam ser citados, até onde sei este tema foi pouco discutido, sobretudo através de uma exposição.
A fim de desenvolver a pesquisa com o tema proposto, as obras de dois artistas com linhas de trabalho diferentes foram escolhidos como objeto de estudo: David Hockney e Tunga. Umas das questões importantes do trabalho de David Hockney além de sua duplicidade - artista plástico/cenógrafo - é o fato de ele, mesmo tendo produzido na segunda metade do século XX, época de intensa experimentação no campo dos suportes, ter escolhido a pintura como suporte da sua arte.
Por meio de sua obra é possível estudar a migração da pintura para a cenografia e vice versa, e também abordar as questões referentes à história da cenografia e à transição de uma informação espacial bidimensional para o âmbito do tridimensional.
Já o trabalho de Tunga contrapõe-se ao do seu colega britânico, sobretudo quanto ao uso de suportes. Enquanto Hockney opera preferencialmente com pinturas, isto é, no âmbito bi-dimensional, Tunga, trabalhando com instalações e relacionando-se com aspectos das artes do corpo, faz uso do espaço tridimensional.
Tunga criou o conceito de instauração, que traz em si a possibilidade de estabelecer uma relação com as artes plásticas e a linguagem teatral. Através deste conceito, Tunga, mesmo sem nunca ter feito propriamente cenografia, abre a perspectiva de uma discussão mais conceitual entre as linguagens do teatro e das artes plásticas.
Considerando que essas relações serão examinadas e selecionadas tendo em vista a elaboração de um projeto de uma exposição, o estudo das relações entre os trabalhos destes dois artistas irão convergir para questões relacionadas com a maneira de expor suas obras – expografia – e a mediação que a expografia adotada irá possibilitar ao público.
O principal objetivo deste projeto é demonstrar que não existe linha divisória entre artes plásticas e cenografia. Trata-se de um território ambíguo, cujas nuances devem ser estudados, assim como as possibilidades de relações que eles proporcionam a ambas as práticas artísticas. Com isso atinge-se um outro objetivo: conversão deste trabalho em um material de consulta para profissionais das duas áreas. Para o cumprimento desses objetivos, a pesquisa proposta atingirá seu termo, tendo como produto um projeto curatorial seguido pelo desenvolvimento do anteprojeto de uma exposição.
Neste primeiro semestre do projeto houve uma pesquisa em fontes variadas pautada na busca por artistas cujos trabalhos contemplem o tema da pesquisa. Para tanto, nesta primeira fase foram estudados o campo da performance, buscando relação com a linguagem teatral; e das instalações, buscando uma relação mais específica com a cenografia.
Durante esse processo, vários artistas foram considerados, como Marina Abramovic, Robert Rauschenberg e Bob Wilson até encontrar David Hockney. O artista, além de pintor, tem paixão por óperas e desenvolveu projetos de cenografia para várias montagens. O cruzamento entre a visualidade das telas com a cenografia dentro da obra de Hockney foi determinante para a escolha do artista como objeto de estudo.
O processo para a obtenção do segundo artista, importante para que o estudo estabelecesse uma comparação, seguiu simultaneamente. O segundo selecionado foi o brasileiro Tunga. A relação criada pelo artista ao trabalhar conjuntamente com performance e instalações foi fator determinante para escolhê-lo como objeto de estudo. Autor do conceito de instauração Tunga abriu portas para uma abordagem mais conceitual entre as artes plásticas e a linguagem teatral. O conceito de instauração e a sua relação com o encenador Antonin Artaud, também foi considerado.
Para a etapa seguinte foi necessário um processo de objetivação do conteúdo tendo em vista o produto desta pesquisa: um projeto de curadoria e anteprojeto de uma exposição. Desta maneira, foi realizado um trabalho de seleção das obras de Hockney e Tunga, visando quais obras ressaltariam os aspectos abordados pelo eixo curatorial. Simultaneamente a este estudo, foi desenvolvido o texto de curadoria.
Uma vez concluído o projeto da curadoria, deu-se início ao projeto da arquitetura da exposição. Primeiro estabelecendo o seu programa de necessidades, para depois desenvolver estudos preeliminares, seguidos pelo anteprojeto e a comunicação visual da exposição.
Conclui-se que o estreitamento entre as artes cênicas e as artes plásticas contemporâneas são provenientes de um movimento de expansão dessas duas linguagens, realizado a partir do afastamento dos seus conceitos das convenções estabelecidas para cada área na primeira metade do século XX. A partir da análise desse fenômeno foi possível alcançar todos os objetivos propostos, relacionando os artistas plásticos estudados a conceitos das artes cênicas como a dramaturgia, direção, cenografia, iluminação cênica, atuação e intervenção.
