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secao 4!

Projeto de infraestrutura, equipamentos e habitação nos vales da bacia do córrego Tiquatira.

Oliver Paes de Barros De Luccia

Alexandre Delijaicov

O sítio urbano de São Paulo está inserido na bacia hidrográfica do Alto Tietê, recortada por inúmeros córregos e ribeirões. Os principais rios que compõe essa bacia são o Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva.

O processo de urbanização da cidade foi extremamente acelerado e orquestrado por especuladores imobiliários, resultando em uma forte periferização, escassez de espaços públicos e ocupação em áreas de várzea e mananciais. Este processo não ocorre por acaso, é importante observar que ele serve à manutenção da organização social elitista existente no país.

Aliado à escolha do automóvel como principal meio de transporte da cidade, este processo teve como conseqüência o padrão de ocupação do fundo de vales com grandes avenidas, canalização de rios e córregos, assoreamento dos rios e impermeabilização progressiva do solo.

Os fundos de vale, áreas de várzea que serviam aos regimes de cheias dos cursos d’água, foram ocupados e impermeabilizados de maneira extremamente agressiva, e hoje são cenários de grandes congestionamentos de veículos e de alagamentos constantes.

A cidade tem como uma de suas características mais marcantes do ponto de vista urbanístico a fragmentação e segregação espacial, gerando espaços bem distintos: seu centro, com infra-estrutura abundante, é o maior pólo de empregos da metrópole, e passa, porém, por um processo de degradação e abandono habitacional, possuindo um enorme número de prédios residenciais vazios à espera de uma valorização imobiliária da região. Ao redor dele desenvolve-se uma cidade servida de transporte, serviços e infra-estrutura, porém repleta de condomínios fechados e shoppings, onde as classes mais altas se protegem da violência urbana. Na periferia mais distante, cresce outra cidade de proporções gigantescas, que abriga a maior parte da população de média e baixa renda. Sem infra-estrutura e planejamento, esta região torna-se extremamente dependente do centro da metrópole.

Este desenvolvimento perverso da cidade obriga um vai e vem de milhões de pessoas, imposto pela distância entre a moradia e o emprego.

Desta dependência e necessidade de deslocamento entre os bairros mais distantes e o centro surge a necessidade de um desenvolvimento inverso, que una moradia – emprego – infra-estrutura – equipamentos, com a criação de espaços com qualidade de estrutura ambiental urbana e que propiciem formas coletivas de habitar a cidade, resgatando a noção do humano no espaço.

Surgem desta maneira, a meu ver, duas possibilidades principais de intervenção: por um lado, é preciso aproveitar o potencial desperdiçado de infra-estrutura nas zonas centrais da cidade, incentivando a oferta de habitação nessas áreas, dando garantia de acesso de todas as classes sociais às moradias. Teríamos assim uma redução significativa no deslocamento diário de boa parte da população, e uma maior vitalidade nos bairros centrais.

Por outro lado, é necessária uma intervenção expressiva com o objetivo de infra-estruturar as regiões periféricas da metrópole, consolidando dinâmicas locais nos bairros mais distantes, incentivando assim o surgimento de novas centralidades e pólos de emprego, diminuindo a dependência dessas regiões do centro de São Paulo.

Optei por estudar a zona leste de São Paulo, mais especificamente a região das subprefeituras Penha e Ermelino Matarazzo. Esta escolha foi em função de visitas feitas à região com outros alunos que desenvolviam seus trabalhos próximos ao Parque Ecológico do Tietê. Destas visitas, surgiu o interesse em pensar possibilidades de ação nos morros e vales da região, cujo relevo é dificilmente apreendido por quem lá passeia, devido à ocupação extremamente densa.

É marcante na região a falta de espaços livres e de infra-estrutura urbana, fruto de uma ocupação veloz nas décadas de 50 e 60, com pouca ou nenhuma participação do poder público no planejamento do espaço.

O projeto parte da idéia de reconstruir a área de várzea dos córregos da bacia do Tiquatira. Esta área, por possuir uma inclinação constante que segue o curso dos córregos, possui grande potencial para utilização, porém deve ser tratada com especial atenção à preservação dos recursos hídricos da cidade.

Saindo do padrão de canalização em cova profunda, impermeabilização das margens e construção de eixos viários ao longo dos cursos d’água, estudei as possibilidades de utilizar a área de várzea dos córregos como eixos de infraestrutura urbana, visando consolidar a região e permitir um crescimento com melhor qualidade ambiental e social.

Deste modo, o projeto consiste na construção de uma hidrovia com 14 km de extensão, ao longo dos córregos Tiquatira, Franquinho e Ponte Rasa, e na reconstrução de suas margens, com a implantação de linhas de VLT (veículo leve sobre trilhos, ou tramway), conectando as estações de metrô e CPTM da região. Ao longo dos canais está o parque fluvial, o cais para atracarem os barcos, os prédios de habitação pública com comércio no térreo e os equipamentos públicos.

A rede de VLT funcionaria neste caso como uma rede de transporte capilar, na escala do bairro, permitindo um fácil acesso à rede de metrô e CPTM, mas criando uma dinâmica local que visa consolidar a região, criando novas centralidades.

É importante salientar que o projeto parte do pressuposto da existência de uma malha metroviária que atenda de maneira homogênea a região metropolitana, e da possibilidade de navegação ao longo do anel hidroviário de São Paulo, que conectaria os rios Tietê, Pinheiros as represas Billings, Guarapiranga e a Represa de Taiaçupeba. Desta maneira, tanto a hidrovia quanto a rede de VLT da bacia do córrego Tiquatira serviriam como capilaridades de uma rede primária de transporte mais consistente.

O transporte hidroviário em São Paulo é uma possibilidade real e viável, necessária para aliviar o tráfego pesado de caminhões que percorrem a cidade. Com um equilíbrio maior entre os transportes hidro, ferro e rodoviário, poderíamos pensar em novas maneiras de ocupar as margens dos rios, pois teríamos menos necessidade de vias para circulação de veículos.

Desta maneira, seria possível pensar num redesenho da cidade a partir dos seus rios e suas áreas de várzea. O rio voltaria a ter um papel importante não só na construção da cidade, mas também na construção cultural e social dos habitantes.

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