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secao 4!

Projeto de Escola Técnica em Guarulhos

Rafael de Albuquerque Montezi

Eduardo de Jesus Rodrigues

O sítio

Buscamos, para a definição do sítio, um local conectado à metrópole, mas não voltado exclusivamente a ela. Um sítio que não desse as costas a bairros recentes, de pouca infra-estrutura, na direção norte e leste da cidade, mas que não fosse alheio às locações históricas do sudeste da cidade e à sua representação simbólica enquanto rosto de uma cidade que procura identidade e progresso.

A quadra escolhida é formada por um conjunto de lotes menores ocupados por comércios e serviços de baixa qualificação urbanística e por lotes desocupados que, ao invés de cumprir uma pressuposta função social, funcionam como instrumentos de especulação imobiliária. Esses mesmo lotes, apesar de apresentarem resquícios de mata nativa e suas permeabilidades serem benéficas em relação à coleta das águas pluviais da várzea do Córrego dos Japoneses, terminam por prestar um desfavor urbano: são propriedades privadas cercadas e descuidadas, estorvo na vizinhança, focos de propagação de animais e insetos nocivos à vida humana, tudo isso além da insegurança pública que estimulam ao cair da noite, quando a falta de iluminação e visibilidade são convites à prática de crimes e atividades ilícitas. Limitam, ainda, a mobilidade na região, configurando um bloco de lotes que se fecham entre si e para a cidade, engessando a já precária travessia do córrego, que, assim, continuará sendo uma cicatriz na malha urbana.

Já não fosse o sítio, pelas condições citadas, interessante e carente do ponto de vista da pauta atual de discussões da arquitetura – a saber, os rios e as cicatrizes no tecido urbano, a falta de planejamento e fiscalização na ocupação das várzeas, o próprio papel da captação de águas e esgoto em cidades do terceiro mundo frente a uma oferta cada vez menor de água potável, a memória das cidades – não bastasse tudo isso, o terreno é contíguo ao Parque Bom Clima, onde se situa o Paço Municipal de Guarulhos, no topo do espigão do Bom Clima, olhando para essa várzea dos Japoneses em primeiro plano e, a seguir, para a cidade, que se desdobra até o próximo espigão, formado pelos bairros do Paraventi e Pinhal, que ainda descerá em direção ao Maia antes de subir de novo para o Centro, a partir da Praça Getúlio Vargas.

O terreno e o Parque Bom Clima estão separados tão somente pela Av. Tiradentes, um dos principais, senão o principal eixo de circulação do centro em direção aos bairros. Av. Tiradentes, cujo traçado é exatamente a descrição anterior do relevo até o centro, baixando uma vez mais em direção à Via Dutra, à várzea do Rio Tietê, entre as cidades de S. Paulo e Rio de Janeiro.

É na altura do terreno escolhido que a Av. Tiradentes, enquanto segue em direção ao leste e ao aeroporto e aos bairros da região do Cecap e Bonsucesso, passando antes por bairros de urbanização recente e precária, não-planejada, nos arredores do aeroporto, é na altura do terreno, dizia, que a Av. Tiradentes se bifurca na Av. Brigadeiro Faria Lima, que leva ao norte de Guarulhos, em direção ao Cocaia e à região dos Morros, ao norte da cidade e seu contato indiscriminado com a Serra da Cantareira. As duas avenidas citadas, portanto, são relevantíssimas como rotas de transporte público extremamente acessíveis desde a escala metropolitana até a escala dos bairros. O terreno fica, pois, no meio do caminho entre o centro histórico consolidado pela Tramway Cantareira e pela precursora Av. Guarulhos, Vila Augusta, Vila Barros, Centro, e os bairros de urbanização mais recente, carentes de infra-estrutura mínima.

O partido.

É nesse território que a Escola Técnica se propõe, primeiramente, como um instrumento urbano, cívico, significativo, como um fator de identificação para a cidade. A implantação do prédio na direção norte-sul, em toda a extensão da Av. Brig. Faria Lima frente à quadra, reconstrói a superfície já ocupada pelos usos anteriores e protege a mata e a várzea preservadas permeáveis na parte oeste do terreno tanto quanto possível.

O espaço coberto de reunião coletiva urbana é possibilitado pela opção pelo térreo livre, espaço intermediário entre a rua e a várzea. Contíguo ao Paço Municipal e conectado ao seu parque por meio de passarela, é de se observar o caráter cívico pretendido para tal espaço, imaginado palco de reunião, manifestação e afirmação da identidade cultural e política da cidade. Acima, atrás dos panos de vidro, as oficinas, de um lado, a atividade didática exposta como um produto da cidade, propriedade de cada cidadão que usufrua a praça e contemple seu uso. Abaixo, meio piso em relação à praça, a biblioteca, acessível aos olhos e às mãos, convidativa ao participar como cenário próximo do passeio coberto. A estrutura de concreto aos pés é, como dizia Wright, a boa ruína na qual toda boa arquitetura se converteria. A ágora, a biblioteca, o auditório, ambientes em cavaleiro em relação à várzea. Acima disso tudo, erguido para permitir a ‘loggia’ e baixo o suficiente para manter as visuais do horizonte da cidade nos espigões próximos, o volume prismático regular, paralelepípedo de lados iguais de aproximadamente 22m a abrigar o programa.

A opção pela estrutura metálica visa reduzir a altura perdida com estrutura entre um e outro pavimento, redução de altura que possibilita a preservação da visual da linha do horizonte da cidade acima do prédio. Serve, a estrutura metálica, ainda a permitir a volumetria pretendida para o edifício, dependente de componentes em tração. O desenvolvimento do programa em meios níveis otimiza o desempenho das rampas e se mostrou fundamental à qualidade e continuidade visual dos espaços criados.

Ficha Técnica:

Escola Técnica em Guarulhos/SP
Endereço: Av. Tiradentes x Av. Brigadeiro Faria Lima. Bom Clima. Guarulhos/SP
Área do terreno: 18.200m²
Área construída: 17.914m²
20 salas de aula + 2 salas de apoio + 2 salas de projeção
1 quadra poliesportiva
Biblioteca
Auditório para 450 pessoas
Estacionamento para 120 carros

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