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secao 4!

Intervenção na represa do Guarapiranga.

Um estudo da relação entre o homem, o meio biofísico e a estética do projeto paisagístico.

Roberto Rusche

Vladimir Bartalini

Apesar do processo de deterioração dos seus recursos naturais, devido principalmente à ocupação urbana em torno de suas margens, a Guarapiranga ainda possui grande valor estratégico quanto à infra-estrutura, ao abastecimento e ao lazer na metrópole paulista. Além disso, a totalidade de suas características ambientais configura, no atual contexto urbano, uma paisagem bastante própria e diferenciada, com grande valor cênico.

A existência desta importante estrutura ambiental inserida no contexto metropolitano reforça a possibilidade de nos voltarmos a uma atitude sensível diante da paisagem e do amplo horizonte que é desvendado a partir de sua contemplação.

O local de estudo escolhido, situado na porção norte da Guarapiranga, corresponde à barragem da represa. Além de se tratar da própria barragem da represa de Guarapiranga, outros aspectos que relacionam a área de projeto ao sistema de infra-estrutura urbana são bastante evidentes, como por exemplo, a existência de áreas institucionais no seu entorno e uma linha de transmissão de alta tensão, a qual é presente ao longo de todo o eixo da barragem.

Do ponto de vista paisagístico e ambiental, a área escolhida para o desenvolvimento do projeto proposto apresenta formas e compartimentos bastante definidos, orientados por uma estrutura fortemente linear, cujo eixo principal corresponde à própria barragem do reservatório. Além de estruturar o ambiente, tal eixo segmenta dois compartimentos bastante definidos e restritos em seus respectivos domínios.

O primeiro eixo, que corresponde à via de acesso existente entre a Avenida Robert Kennedy e a área de operação da EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia, localiza-se sobre a barragem na sua cota mais elevada. Além de estruturar o percurso nessa porção do terreno, o eixo oferece visão privilegiada da intervenção proposta e do seu entorno, sejam as águas da represa, as verticalizações na Avenida João de Barros, ou mesmo, as quadras, áreas de estar e caminhos propostos. Inicialmente, junto à Avenida Robert Kennedy, uma praça de recepção e um pergolado pontuam o início do percurso junto à barragem da represa.

Na porção setentrional à via de acesso mencionada, é estabelecido um programa mais detalhado de atividades de caráter ativo, como maneira de absorver a demanda local por centros de práticas esportivas e recreativas, amparados inclusive por uma área de apoio às atividades ali realizadas.

Caminhos em diferentes cotas de implantação buscam formas alternativas de conexão entre os extremos leste e oeste da barragem, através da valorização dos diferentes aspectos cênicos, sensoriais e de contemplação do ambiente criado.

É válido ressaltar que a incorporação da rede de alta tensão, do seu efeito plástico e visual, tem por objetivo destacar a função infra-estrutural da área de atuação e também pontuar o percurso criado, sugerindo ritmo ao deslocamento do pedestre.

Na porção ao sul da barragem, em contato com as águas da Guarapiranga e em diálogo com as estruturas metálicas da rede de alta tensão, foram sugeridos piers perpendiculares à estrutura da barragem. Atividades contemplativas e náuticas, ou mesmo a pesca e o banho, seriam proporcionados através da criação dessas estruturas longilíneas e palafitadas. Mais uma vez, a repetição dessa solução tem por objetivo a ênfase nos aspectos rítmicos e de percurso ao longo do eixo existente.

Como forma de atração ao deslocamento do público visitante ao longo deste eixo paralelo à Avenida João de Barros, é previsto nos limites da área de intervenção uma pista de skate, na parcela norte, e um mirante, na parcela sul. Ambos não só funcionariam como atrativo ao extremo oeste do parque, mas também criariam um fluxo de pedestres que, por sua vez, garantiria uma vivacidade a essa área específica do projeto, cuja freqüência de ocupação nos dias atuais é praticamente inexistente. Ambos os equipamentos visam também emoldurar o fim da área de intervenção, criando um fechamento e um desenho do todo mais conciso e acolhedor.

Em relação ao quadrante sul do projeto, este é marcado por um segundo eixo de conexão proposto. Um extenso arco palafitado, acessado ao solo por meio de rampas, percorre desde o primeiro eixo existente sobre a barragem até o acesso da Avenida Dr. Caetano Sobrinho, onde se encontra uma praça voltada ao uso pela vizinhança no seu entorno. Tal praça possui, além de espaços para estar, mesas para jogos e uma área de quiosques sobre um piso tipo deck elevado.

Praticamente toda a extensão do quadrante sul da intervenção proposta está sujeita a grande variação de suas condições naturais de morfologia e vegetação devido ao regime de cheias e vazões do reservatório. No período de seca, podemos observar um predomínio de uma vegetação herbácea rasteira e outra em formato arbustivo, além de um solo argiloso em quase a totalidade área do projeto. Nesse período do ano, ainda atualmente ocorre a apropriação pela população local dessa área por meio de atividades. Por outro lado, no período de cheias, a água encobre o solo até as proximidades com as vias de entorno. As atividades de lazer, empreendidas pelos visitantes locais, passam a ser, então, a da pesca e do banho. A vegetação permanece elevada, desaparecendo, porém, nos trechos onde a água atinge uma maior profundidade. O solo mantem-se como um grande alagado na região não diretamente atingida pelas cheias.

Poucas são as manchas arbóreas originais significativas. Assim sendo, a introdução de espécies arbóreas teve por objetivo pontuar o percurso ao longo desse eixo semicircular palafitado, criar áreas sombreadas e também condicionar diferentes situações paisagísticas com a alternância dessas manchas vegetais.

A intervenção projetual na área sujeita a alagamentos procura não intervir na capacidade de armazenamento de água pelo reservatório, permitindo também os fluxos naturais de cheias e vazões.

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