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secao 4!

O Metrô e a Cidade:

Projeto integrado

Rodrigo Seixas Liboni

Milton Liebentritt de Almeida Braga

Ficha Técnica-Quadro de áreas

TERRENO 35961,67 m²
ÁREA PERMEÁVEL 5628,67 m²
LÂMINAS 33600,00 m²
TORRE 38337,93 m²
ESTAÇÃO DE METRÔ 10049,50 m²
PRAÇA(APENAS ÁREA COMPUTÁVEL) 7096,85 m²
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO 2,48
GARAGENS 47581,78 m²
ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL 136.666,06 m²

Memorial

O Projeto desenvolvido fundamentou-se no ideal de que a conexão de uma região com o sistema metropolitano de transporte, além de possibilitar um aumento na velocidade dos deslocamentos e melhora da qualidade de vida da população atendida, deveria também ser um ponto de partida para uma série de renovações urbanísticas essenciais para a adequação aos novos meios produtivos pós-modernos e superação das defasagens surgidas na era industrial.

A análise das áreas interligadas pela futura linha 5 da Companhia do Metropolitano de São Paulo possibilitou a verificação dos muitos contrastes existentes ao longo desse eixo e a escolha da Estação Adolfo Pinheiro como objeto de estudo. Além de sua posição privilegiada dentro da subprefeitura de Santo Amaro essa área apresenta os diferenciais de estar em uma zona de Centralidade polar e ser vizinha a uma área de Operação Urbana consorciada, que permitiriam novas alternativas de projeto urbanístico. Sua localização destaca-se também dentro da conjuntura sócio-econômica existente ao longo do eixo da linha 5, configurando-se como ponto de contato entre a população que reside nos empreendimentos de “alto padrão”, situados ao nordeste, e os cidadãos de menor poder aquisitivo provenientes do extremo oeste – os quais satisfazem muitas de suas necessidades no subcentro regional da ZEPEC, zona vizinha ao projeto.

A estação de metrô e suas quadras adjacentes foram planejadas de forma simultânea, formando um conjunto diferenciado que, respeitando o entorno, ainda poderia adicionar funcionalidades à região. Adequando este estudo as condições impostas pelo planejamento estratégico, com um alto coeficiente de aproveitamento do terreno, obtivemos um complexo de edificações que se destaca do existente pelo seu porte, mas alinhado as aspirações futuras.

Este conjunto demandaria uma área de desapropriação pouco superior aquela originalmente apresentada no projeto funcional da Companhia do Metropolitano, a base deste trabalho. Apesar disso as edificações propostas poderiam abrigar a grande maioria das atividades que predominam nos dias de hoje, fornecendo espaços de melhor qualidade. Objetivou-se desenvolver um projeto capaz de marcar a área de conexão com a rede de transportes metropolitana como um ponto referencial da vida pública da subprefeitura de Santo Amaro.

A estação, situada completamente no subsolo, se articularia com a cidade através de 3 elementos chave: a praça, a lâmina e a torre.

Praças Baixa e Alta

A Avenida Adolfo Pinheiro atravessaria o terreno do projeto como um pontilhão, permitindo a existência de uma praça baixa, que interligaria as duas quadras, e outra elevada, no nível das vias existentes.

A praça baixa, situada na cota 749,5, incentivaria o tráfego de pedestres no sentido perpendicular ao da avenida, estimulando o passeio e acesso as ruas paralelas a Adolfo Pinheiro. Neste nível podemos encontrar o acesso aos elevadores da parte comercial do edifício lâmina, a recepção da torre e, próximo a ela, um pequeno auditório e os acessos à garagem, tanto para pedestres quanto veículos.

Praticamente todo o perímetro externo deste plano rebaixado é delimitado por grandes muros de arrimo. Paralelos a estas contenções podemos encontrar vários espaços comerciais, restringindo a perspectiva de quem esta dentro do grande vazio central de forma similar as praças regulares típicas do período barroco. As lajes de cobertura destas lojas, que comportam a praça elevada, apresentam largos beirais voltados para o centro da praça baixa, incentivando estes estabelecimentos a se apropriarem do espaço público, distribuindo mesas ao ar-livre para os clientes.

A praça elevada tem como principal função a articulação dos fluxos de pedestres provenientes das vias vizinhas e do deslocamento vertical. Neste nível temos os diversos acessos que levam à praça baixa(e ao metrô e garagem) assim como os elevadores e escadas que levam às áreas públicas e residenciais da lâmina. Importante ressaltar que a praça “alta” situa-se sobre a laje dos estabelecimentos comerciais do nível inferior, que acompanham o desnível das vias que delimitam a área do projeto. Esta coincidência com o nível existente é imprescindível para garantir a permeabilidade do conjunto além de garantir maior amplitude visual ao pedestre.

O Metrô e subsolos

A Estação Adolfo Pinheiro proposta neste trabalho encontra-se na mesma posição da apresentada no projeto funcional da companhia do Metropolitano de São Paulo, obedecendo às diretrizes do planejamento já desenvolvido. Apesar disso seu partido arquitetônico é completamente diferente.

A possibilidade de modificar o terreno existente, propondo um plano rebaixado com a avenida passando acima como um pontilhão, tornou-se um diferencial não apenas pela possibilidade de criar um novo espaço público para a região, mas também por fornecer alternativas de baixa tecnologia e custo que melhorariam muito as condições de conforto ambiental da estação.

Uma grande fenda no centro da praça baixa marca a presença do metrô, abertura através da qual a luz natural pode chegar até o nível da plataforma. Um mezanino de distribuição, partindo dos bloqueios, é a única interrupção no espaço deste átrio central. A grande área deste vazio possibilita uma melhor ventilação natural, tornando desnecessária a existência de um sistema de insuflação para as áreas públicas. Apenas a exaustão mecânica, que evita o acúmulo de CO² e gases nocivos produzidos pela frenagem dos trens, seria imprescindível. Complementando a função do pontilhão uma leve cobertura de vidro foi proposta sobre parte desta abertura, impedindo que as águas das chuvas atinjam os níveis abaixo.

Os acessos específicos da estação, tanto de elevadores quanto escadas, situam-se apenas no plano da praça baixa, próximos a grande abertura zenital. Para atingir este nível os usuários teriam de se utilizar das circulações verticais próprias da praça, que estão fisicamente próximas às do metrô e possuem dimensionamento similar. A grande escavação em “cut and cover” que compõe o corpo da estação, é dividida em duas regiões pelas circulações verticais e o átrio central, apresentando, no nível do hall de bilheterias, um setor sudeste que corresponde às áreas públicas e interliga-se diretamente com a garagem, e outro noroeste que comporta as salas operacionais e técnicas, integrados tanto por circulações na área paga quanto pública.

O nível das plataformas obedece todas as normas de dimensionamento da Companhia do Metropolitano, com uma largura pouco superior ao mínimo estabelecido, de 4 metros. Devido ao seu longo comprimento, superior a 130 metros, foi necessário gerar prolongamentos em NATM a partir da escavação original, mesmo método construtivo empregado nos túneis dos trens deste setor da linha (que utilizará um shield a partir da estação Borba Gato). Neste mesmo nível podemos encontrar os ventiladores responsáveis pela exaustão, responsáveis por retira o ar através de dutos situados abaixo da plataforma e o libera na superfície por saídas próximas aos elevadores.

As garagens deste projeto são distribuídas em 3 níveis diferentes, com as cotas coincidindo, respectivamente, com o hall de bilheterias do metrô, com o porão de cabos das salas técnicas e com o porão de cabos da plataforma. Todos estes pisos de estacionamento possuiriam uma portaria da lâmina e outra da torre, com acesso controlado por sistema automático. Anexos a estes acessos seriam distribuídas, em vários níveis, as áreas técnicas de cada edificação como caixas d`água, maquinário de ventilação, entre outros.

Lâminas

Duas grandes lâminas paralelas a Rua Padre José Anchieta delimitam o conjunto á nordeste, passando sobre a Avenida Adolfo Pinheiro, o que conferiria a estas edificações um caráter marcante na paisagem do eixo.

Ao longo dos mais de 200 metros de comprimento estes dois edifícios independentes apresentariam uso prioritariamente residencial, com exceção dos espaços coincidentes com a transição sobre a avenida. A diferença de usos seria marcada também na fachada das lâminas, com uma grande estrutura de brises-soleil protegendo os apartamentos enquanto os ambientes situados no centro dos prédios possuiriam fechamento em material transparente ou translúcido, configurando uma grande vitrine, e um pórtico, que se abriria para os dois sentidos da avenida.

O primeiro andar de cada um destes edifícios atuaria como um térreo elevado para os apartamentos, comportando, além dos espaços comuns como salão de festas, as duas portarias, com importante papel tanto na circulação horizontal quanto vertical. Permitiriam a transição dos moradores entre os elevadores que partem da garagem até este nível, passando pela praça elevada, para aqueles exclusivos das lâminas, distribuídos ao longo do seu comprimento.

Como pode ser verificado nas plantas, cada dois apartamentos desta lâmina são servidos por uma escada de emergência e um elevador. No quarto e quinto andares substituiu-se a modulação de algumas moradias por pátios e corredores, respectivamente. Além de gerar vazios diferenciados dentro do volume das lâminas estas circulações diminuem a demanda por elevadores, pois permitem a transição em nível de um módulo de circulação para outro, reduzindo a distância a ser percorrida através das escadas caso um dos ascensores esteja inoperante.

A cobertura destes edifícios também pertence inteiramente ao conjunto residencial, abrigando as piscinas e um solário. A grande área deste nível possibilitaria a implantação de diversos sistemas capazes de reduzir o consumo energético, como painéis solares fotovoltaicos e para o aquecimento de água.

As grandes transições sobre a avenida funcionariam como edificações independentes das áreas residenciais, com circulações verticais próprias, apesar de inteiramente contidas no volume de cada uma das lâminas. A já citada fachada em forma de “vitrine”, que garante permeabilidade visual deste espaço tanto para quem está na avenida quanto para quem o utiliza, serviria de grande publicidade para as atividades desenvolvidas nestes ambientes. Justificaria a opção de transformar os espaços da lâmina sul em áreas comerciais, abrigando estabelecimentos como restaurantes, academias, centros de especialização ou qualquer atividade que gere vínculos com o usuário. Já a transição da lâmina norte seria inteiramente destinada a uma grande biblioteca, que possuiria cerca de 3500m².

Torre

O último elemento caracterizador desta proposta, a Torre, seria um edifício preferencialmente multifuncional, no qual predominariam escritórios, consolidando uma nova atividade na região. Assim como as lâminas, poderia vir a ser desenvolvido pela iniciativa privada, possivelmente em parceria com o poder público, enquanto os espaços da praça seriam empreendimentos associados, de propriedade da Companhia do Metropolitano. Os escritórios deste edifício foram organizados em conjuntos, “vilas”, que ocupam 3 pisos. Em cada um dos andares temos dois núcleos de serviço diferenciados, “opacos”, responsáveis principalmente pela circulação vertical da torre, e duas áreas de trabalho “translúcidas”, conectadas por uma circulação central. Três diferentes tipologias de andar se repetem ao longo do prédio, interligadas por uma escada ao ar livre e um pequeno elevador, servindo pessoas de mobilidade reduzida. Na primeira tipologia temos o que seria o térreo da vila, andar que se destaca pelo espaço “de estar” entre as duas áreas de trabalho, um vazio bem ventilado que possuí uma pequena área verde. A segunda diferencia-se por abrigar o hall dos elevadores da torre, distribuindo os usuários através da vila priorizando a escada central, responsável pelos deslocamentos verticais menores, muito mais constantes. O último piso diferencia-se dos outros pelo seu superior pé direito, que garante um conforto térmico ainda maior e também obedece aos pré-requisitos técnicos dos elevadores locais.

A busca pelo conforto ambiental dentro deste edifício foi uma das principais questões almejadas pelo projeto. A maior fachada da torre está voltada para a praça, para o nordeste e leste, dialogando com o conjunto e recebendo uma luminosidade constante, controlada por um sistema de brise-soleil que também protege a pequena fachada oeste da área de trabalho. Grande parte da luminosidade proveniente do oeste e sudoeste é bloqueada pelos núcleos de serviços, opacos, que, em conjunto com o sistema de brises, impedem que o prisma das áreas de trabalho receba calor diretamente.

As pontes que ligam os escritórios ás áreas de serviço delimitam dois átrios distintos. A diferença de temperatura entre as camadas de ar sobre a cobertura do edifício e no nível da praça ocasionariam um ciclo constante de convecção dentro destes dutos verticais. Ventiladores em cada andar retirariam este ar em movimento, mais frio, e o distribuiriam dentro da torre, após uma filtragem responsável pela retirada de poluentes e partículas em suspensão. A poluição sonora proveniente da avenida seria barrada tanto pelo núcleo de serviços quanto pelo caixilho da fachada oeste da área de trabalho, que seria o único sem possibilidade de abertura.

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