Este trabalho tem como proposta a construção de um edifício residencial para idosos em conjunto com um edifício cultural, unidos por um térreo comercial. Localizado na Avenida Liberdade (números 326,338,364 e 368), o conjunto pretende oferecer maior qualidade de vida aos seus moradores e seus visitantes, combinando diferentes demandas existentes à um programa conjunto.
O programa existente tem como principal objetivo, integrar os moradores do edifício residencial aos usuários temporários do conjunto, garantindo sua permanência e influência na comunidade como um todo. A configuração do conjunto proposto têm como base principal esta integração, oferecendo à população idosa meios de manter-se em atividade e oferecendo à sociedade sua cultura e experiência.
A escolha de focar este empreendimento para a comunidade Nikkei de São Paulo resultou em outros dois grupos de parâmetros de projeto a serem considerados. O primeiro está ligado aos costumes e atividades culturais desta comunidade e o segundo, à arquitetura em si, desde os detalhes e elementos arquitetônicos tipicamente utilizados, até às configurações espaciais. É importante ressaltar que o conceito de Comunidade Nikkei extende-se também aos não-descendentes interessados.
As considerações acima citadas estiveram presentes durante todas as estapas do projeto, direcionando e interligando as diretrizes propostas. Embora a combinação edifício residencial, edifício cultural e térreo comercial tenha sido estabelecida desde o início, a maneira com que estes se relacionam, está diretamente ligada às descobertas realizadas ao longo do projeto.
Tendo em mente o crescimento da população idosa como uma realidade mundial, o Brasil está hoje em uma fase de transição quando analisamos o gráfico da pirâmide etária absoluta. Embora a população acima de 80 anos seja todavia menor que nas outras faixas etárias, estamos caminhando para a igualdade destes números e, infelizmente, não estamos preparados para assistir esta camada da população.
Prevendo a impossibilidade governamental de suprir esta demanda, este projeto baseia sua realização através de investimentos privados e da auto-manutenção futura, através do Centro Cultural e do Térreo Comercial, cabendo aos moradores contribuições financeiras simbólicas e/ou participações através de trabalho voluntário.
Este projeto também é pensado como um modelo a ser seguido em demais áreas da cidade de São Paulo como um equipamento que auxilia o processo de revitalização por incentivar a circulação de pessoas como um pólo de atração cultural.
A diferenciação do programa tradicional de uma Casa de Repouso ou Asilo tem como objetivo principal exatamente confrontar o pensamento de que este tipo de habitação requeira a reclusão do idoso. Obviamente, todo tipo de habitação requer tranquilidade por ser sobretudo o local onde descansamos. Porém, isso não imediata que as atividades diárias de um idoso devam manter-se alienadas do cotidiano da cidade.
A localização do projeto em um bairro central enfatiza a tentativa de inclusão desta população, permitindo sua mobilidade dentro da cidade e também diminuindo o isolamento perante seus visitantes, que, usufruindo da infra-estrutura de transportes já existente e do programa de atividades do Centro Cultural, podem realizar atividades conjuntas, Estes fatores buscam aumentar o número de visitas realizadas aos moradores, excluindo o caráter de obrigatoriedade, possibilitando o nascimento de interesses comuns.
O Centro Cultural e o Térreo Comercial representam portanto, as fontes de manutenção do Edifício Residencial tanto monetariamente, quanto psicologicamente. O contato diário com pessoas distintas e a possibilidade de envolver-se em algum projeto promovido pelo Centro ou o simples observar da atividade diária do térreo significa a constante atividade física e mental dos moradores.
Os três grandes blocos funcionais estão claramente divididos, visto que se separam em 2 edifícios implantados em um térreo comercial. No entanto, os espaços de transição procuram justamente relacioná-los, induzindo quem está na situação mais privada (residente), caminhar ao mais público (visitante) e vice-versa, utilizando o Centro de Atividades (usuário) como situação intermediária.
As circulações, de dimensões generosas, foram pensadas para transformar o deslocamento nos edifícios e entre os edifícios em passeios. Munidos de bancos, corrimãos e situações de interesse, para que o deslocamento possa ser realizado de maneira pausada, criando espaços de convívio, estar e contemplação.
O Edifício Residencial possui 11 pavimentos residenciais, totalizando 146 unidades que foram pensadas para adequarem-se desde a autonomia às possíveis debilidades físicas dos moradores. Foram propostas unidades privativas, porém, a unidade não descarta a acomodação de dois moradores, no caso de casais, ou o conforto de um visitante por um período longo, no caso do residente necessitar acompanhamento 24 horas.
As atividades propostas para o Centro Cultural foram elegidas dentre as mais praticadas entre a Comunidade Nikkei, dispostas conforme a previsão de público. A configuração do Centro Cultural como um edifício enfatiza sua existência como, primeiramente, parte do programa da Residência e, consecutivamente, a potencialização dos recursos investidos ao abrir-se ao público.
É necessário enfatizar a singularidade desta situação, partido primário do projeto, que proporciona oportunidades para o encontro de gerações e culturas. As atividades propostas agem como um segundo plano para a comunicação mais profunda e o descobrimento de aspectos ímpares do legado cultural nipo-brasileiro, alcançados somente através do convívio diário.
A especificidade da proposta exigiu uma profunda pesquisa tanto de aspectos técnicos, quanto culturais. Enriquecendo o resultado final que é a tradução das descobertas realizadas.
Terreno: 4.000m2
Números atingidos pelo projeto:
CA: 3.97
TO: 0.70
Permeabilidade: 0.25
Nº unidades: 146
Nº vagas carros/motos: 288/127
Residencial: 8.632m2
Circulação: 871m2
Cultural: 4.979m2
Comercial: 1.810m2
ATC: 16.813m2
