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secao 4!

Centro de Esportes Náuticos Guarapiranga

Reciclagem das Instalações do Antigo Santapaula Iateclube

Simone Spano da Silva

Antonio Carlos Barossi

A GUARAPIRANGA

Entre 1906 e 1908 nasceu a represa do Guarapiranga, unicamente para regularizar a vazão do Rio Tietê, mesmo o local tendo um obvio valor recreativo e paisagístico, seguiu como propriedade particular da Light, este potencial era utilizado à revelia de seus proprietários, de maneira informal e precária.

Contrariando a sua postura quanto à Guarapiranga a Light, através da “Cia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro” garantia fácil acesso ao seu empreendimento, fomentando assim essa opção de passeio de fim de semana, que foi se tornando mais habitual e apreciada por todas as camadas da população. Aos poucos a Light permite a presença de alguns poucos clubes particulares, reunindo aficcionados pelo Iatismo.

Com a anexação do município de Santo Amaro em 1935, a região torna-se cada vez mais atrativa para o lazer e investimentos imobiliários, principalmente voltados para a burguesia. Apesar disso a região seguia sem um desenho urbano que organizasse suas margens, nunca chega a haver uma clara proposição para o uso de suas margens de um modo mais qualificado pelos cidadãos em geral.

A partir dos anos 60 com a falta de proposição de uma ocupação adequada ou até mesmo a falta de fiscalização por parte da proprietária para impedir invasões de suas margens, e por parte da prefeitura para impedir a ocupação das áreas vizinhas (grande parte área de mananciais), houve uma intensa ocupação da região por loteamentos irregulares.

Com o encerramento das atividades da Light como companhia privada, a empresa foi englobada por autarquias públicas, as áreas ao redor da represa do Guarapiranga já estavam quase totalmente ocupadas. Os sucessores da Light mantêm a visão funcional, e passam a cuidar ainda menos de suas propriedades, facilitando ainda mais a ocupação irregular e predatória de suas margens, levando à degradação da “Praia Paulistana”.

O BAIRRO DE INTERLAGOS

Entre as décadas de 20 e 30, com a implantação da represa Billings a região entre as duas represas começa a atrair cada vez mais a atenção de investidores privados, e torna-se alvo de vários empreendimentos imobiliários.

Por volta de 1937, após a anexação do município de Santo Amaro à São Paulo, o engenheiro e presidente da Autoestradas S/A, Louis Romero Sanson comprou terras entre as represas Guarapiranga e Billings, contratou o urbanista francês Alfred Agache para projetar um bairro cidade jardim, com áreas comerciais, industriais, residenciais e destinadas ao lazer. Em analogia à região suíça de Interlaken o bairro foi batizado como “Interlagos Cidade Satélite da Capital”.

A implantação do autódromo servia como chamariz para a venda dos lotes residênciais para uma camada social mais abastada. No início dos anos 40, aproveitando o potêncial turistico da região foi formada a praia dos paulistanos, com areia trazida de Santos e para facilitar o acesso à toda a região foram construídas a avenida Interlagos e a ponte Jurubatuba. Porém a Cidade Satélite de Interlagos não chegou a ser concretizada, o loteamento só começou a ser ocupado a partir dos anos 70, quando foi declarada Zona Estritamente Residencial.

A história do bairro está intimamente ligado aos seus caminhos, topografia e principalmente à presença das represas que tem inestimável valor paisagístico, turístico, histórico e ambiental.

Afim de preservar essas características em 2004 o CONPRESP decidiu pelo tombamento da área.

SANTAPAULA IATECLUBE

O desenho da Cidade Satélite Balneária de Interlagos previa além de amplos lotes residenciais, áreas comerciais, de lazer e destinava uma quadra de frente a represa para a instalação de um grande hotel, que apesar de nunca ter sido realizado, teve a estrutura de seus primeiros pavimentos parcialmente aproveitados para a instalação do Clube Santapaula.

A Santapaula Melhoramentos S/A, empresa que atuava na construção e montagem de clubes recreativos comprou em 1960 o terreno junto à represa, no espaço havia a estrutura inacabada do Grande Hotel Interlagos, que seria um centro de convenções e lazer.

No início dos anos 60, Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi realizaram o projeto de uma ampla reforma nas instalações do clube, reorganizando os espaços internos do edifício existente e adicionando o conjunto de piscinas. Os dois blocos de piscinas estão separados por um espaço de circulação que termina em uma passagem subterrânea sob a Avenida Robert Kennedy, dando acesso à área que o clube passou a dispor junto à margem da represa.

Artigas e Cascaldi realizaram alguns estudos para esta área, que denominavam de setor náutico do clube.

“Provavelmente por deficiência na gestão do próprio clube, o edifício nunca chegou a ser extensivamente usado como “Garagem”, ou área de abrigo para veleiros atividade que seria compatível com seu porte, programa e dimensões. Em época pouco posterior à construção da garagem foram realizadas outras coberturas, algumas precárias, na ponta norte desse lote, com essa finalidade; tampouco os depósitos de vela e motores tiveram um uso efetivo enquanto o clube esteve funcionando, de maneira que o edifício era apenas um ponto de apoio do setor náutico do clube.” (ZEIN;OLIVEIRA:2003; p.9)

A decadência e fechamento do clube ocorreu no principio dos anos 80.

A GARAGEM DE BARCOS

A garagem de barcos do Clube Santapaula em Interlagos, é uma das obras mais revolucionárias do brutalismo, dada a sua solução original solução estrutural, baseada no raciocínio técnico e apuradíssimo cálculo de estrutura.

O projeto foi concebido como um grande monolito de concreto armado de 70 metros de comprimento constituído por três lajes nervuradas , a laje central é rebaixada, formando vãos horizontais na cobertura, que trazem uma importante claridade à garagem, as lajes foram engastadas a duas vigas longitudinais que trabalham como pórticos, cada viga é sustentada por quatro pilares que fazem parte da viga pórtico como uma continuação natural, os pilares, diferentes entre si, mesmo fazendo parte da viga pórtico se destacam dela e vão se afinando em direção ao solo, terminando sobre uma placa de ferro que compõe a articulação, toda essa estrutura é praticamente independente das fundações sobre as quais se apóia, parece simplesmente pousar sobre os pesados muros de pedra.

A preocupação com a continuidade do espaço da fase orgânica que a partir de 1945 foi ampliada para a ligação entre o interior e o exterior encontra nesta obra sua expressão máxima, qualquer tipo de fechamento, mesmo quando feito por caixilhos com vidro, desapareceu, somente diferenças de nível e algumas paredes baixas separam os locais destinados a funções diferentes, o bar não passa de um terraço abrigado de onde se vislumbra a paisagem da represa.

“E, apesar de tudo, essa interpenetração absoluta da parte de fora na parte de dentro não prejudica a clara definição da arquitetura, tanto num sentido, quanto noutro; a abolição de todos os detalhes que normalmente contribuem de modo ativo para esse papel teve como conseqüência a concentração de toda a atenção apenas na estrutura” (Yves Bruand)

Como um expoente da arquitetura brutalista a concepção deste edifício abrange os principais conceitos desta fase, como o uso dos materiais puros: pedra bruta na base, ferro maciço nas articulações e o concreto como sai das formas, sem retoques e apresentando a estampa das tábuas de madeira.

SITUAÇÃO ATUAL

O edifício da Garagem de Barcos encontra-se em um estado de conservação muito ruim, com infiltrações por toda a cobertura, o que ocasionou a oxidação da armadura do concreto e o rompimento do mesmo em diversos pontos, o que agrava e acelera ainda mais o processo de degradação. Aparentemente há poucos anos foi construído do lado sul da garagem, onde as infiltrações eram mais graves, um telhado, que fica escondido por uma platibanda de alvenaria, também do lado Sul da edificação foram construídas alvenarias de fechamento, que causam uma grande descaracterização no projeto.

Nos anos 90 a área do antigo clube passou a ser usada como depósito de diversos produtos que eram importados, como roupas, bolsas, calçados, etc. Apesar de estar sendo utilizado durante todos estes anos e contar com a presença de funcionários que impediam a invasão do local, a área não foi devidamente conservada. A Sede Social encontra-se bastante degradada, internamente pela falta de manutenção, externamente pela ação de vândalos e pichadores.

Parte do último pavimento da sede social nunca foi concluído, e se encontra até hoje apenas na alvenaria, ou no reboco.

Em 27 de Fevereiro de 2007 o CONPRESP decidiu por unanimidade pelo tombamento do conjunto arquitetônico do antigo Santapaula Iateclube, considerando seu valor histórico, ambiental e arquitetônico, sua integração com o bairro de Interlagos e a Represa do Grarapiranga, de inegável valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico.

PROPOSTA DE TRABALHO

Este trabalho tem como ponto de partida que a garagem de barcos, o clube Santapaula, a Represa e todo seu entorno estão totalmente relacionados e não devem ser estudados separadamente, e sim de forma relacionada, ampla e integrada.

Esse trabalho não propõe a valorização da Garagem de Barcos como um monumento, e sim analisar, propor, recuperar e revalorizar a mesma como parte de um conjunto de importância arquitetônica, urbana, paisagística, etc, visando a recuperação do conjunto, não como uma propriedade particular, e sim como um local que atenda os interesses dos cidadãos em geral, não só da região, mas de toda a cidade.

Acreditando que a melhor forma de preservar um bem é o seu uso de fato, e de preferência para os fins para qual foi projetado, pretende-se desenvolver um projeto de um centro esportivo (náutico), onde a Garagem de Barcos servirá como apoio às suas atividades.

A idéia principal deste projeto é utilizar as instalações do antigo Santapaula para unir em um mesmo local um clube público, uma escola de esportes náuticos (que são muito presentes na região da Guarapiranga) e outros cursos relacionados com a represa, como a carpintaria naval, espaço de exposições, uma parte administrativa que comporte a administração do conjunto e as federações de diversos esportes praticados na Guarapiranga, alojamentos para acomodar esportistas, uma academia para o apoio dos mesmos durante o periodo de competições e para alguns dos cursos, e áreas como biblioteca e auditório, que poderão dar apoio tanto à escola, como às exposições ou até mesmo às federações.

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