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secao 4!

Mobiliário Interventivo

Vanessa Hena Lee

Giorgio Giorgi Junior

Este trabalho final de graduação feito ao longo do segundo semestre de 2008 e primeiro semestre de 2009 é resultado de um conjunto de reflexões sobre espaço público, mobiliário urbano, e arte como forma de intervenção na cidade.

A partir dessas idéias, apresento quatro propostas de intervenção na cidade de São Paulo, utilizando o mobiliário urbano com a intenção de transformar o espaço.

Os estudos se aproximam e têm como referência obras de Site Specific Art (1); porque foram propostos para um lugar em específico. Segundo, a observação das situações existentes, da arquitetura local, a fim de criar novas experiências de espaço.

Os projetos são propositivos e por isso, não tem como objetivo chegar a um nível de detalhamento. Sendo assim, foi feito um estudo da região na qual se insere o mobiliário, e leituras acerca da arte pública e design de uma maneira geral. Em seguida, deu-se a concepção das propostas para os lugares escolhidos, pensadas sempre a partir de observações da paisagem e da intenção de trazer algo novo e diferente ao lugar.

A apresentação dos projetos foi feita por croquis, fotomontagens, maquetes eletrônicas e um memorial descritivo.

O mobiliário urbano na cidade de São Paulo, de uma forma em geral, tem preocupações funcionais e pouca atenção com a estética dos modelos. Servem apenas para cumprir uma determinada função. A desatenção dada, em alguns casos, a esses elementos de fundamental importância na cidade - pois assim como a arquitetura, a paisagem, o mobiliário urbano também a caracteriza - me incentivou a conceber um mobiliário preocupado não só com proposições funcionais, como também com a estética e a convivência entre as pessoas.

O mobiliário interventivo tem o propósito de unir idéias arquitetônicas, artísticas e de design. Ele cumpre não só com a sua função de atender aos seus usuários, mas também agrega valores artísticos. Dessa forma, o mobiliário interventivo é uma arte “útil” e pode ser vista como uma possibilidade de torná-la mais acessível a todos. A partir da inserção em sítios específicos, as propostas têm a intenção de transformar o local no qual foram introduzidas, trazendo uma nova impressão, seja organizacional ou provocativa. Na concepção das propostas, a observação do sítio específico foi de extrema importância.

“(...) é anacrônico prosseguir mantendo a oposição entre arte e design. Desde que Duchamp realizou o primeiro ready-made ficou patente que um dos aspectos basilares da produção artística era o questionamento de suas fronteiras. Vale dizer que muito do que hoje se faz em nome da arte é contra as compreensões correntes do que seja arte.” Agnaldo Farias (2)

A partir da análise dos trabalhos de artistas como Richard Serra (1939- ), percebe-se que a obra feita para um lugar, não deve ser resultado de uma simples adequação às características históricas ou tradicionais deste local, de forma a reduzir toda obra à ornamentação. O princípio da arte vai além do interesse plástico, ela pode ser geradora de conflitos e/ou portadora de novas percepções do espaço.

A idéia não é demolir e construir o novo, é pensar a partir do que já existe, pensamento este que surgiu após algumas leituras a respeito da arquitetura parasita.

A arquitetura parasita ou metodologia parasitária é uma proposta de atualização dos espaços arquitetônicos da cidade. A partir da introdução de um novo corpo, a arquitetura parasita permite novas relações no lugar, que poderia modificar o espaço existente.

No início de século XXI, assiste-se na Holanda uma série de projetos arquitetônicos que adotam o termo parasita. Como as mostras Las Palmas Parasite (2001), Parasite Paradise, Manifesto for Temporary Architecture and Flexible Urbanism (2003) e School Parasite.

O parasitismo como é conhecido em sua definição clássica é a relação entre dois organismos, da qual um, o parasita, vive sob, sobre ou dentro de outro, o hospedeiro. Sabe-se que essa relação ecológica de dependência fisiológica ou metabólica pode levar à morte do hospedeiro. Quando não ocasiona a total supressão do hospedeiro, o parasitismo traz uma nova energia a ambas as partes.

No âmbito da arquitetura, o parasitismo acontece pela instalação de um novo organismo na obra preexistente ou pela colocação de novas arquiteturas em espaços obsoletos, como o caso da mostra Parasite Paradise. Desta forma, a arquitetura parasita reconfigura o espaço, trazendo novas relações ao local.

O projeto Palco Brancusi foi proposto para os missionários e ouvintes; com forte referência artística, é um projeto de mobiliário que cumpre a sua função de apoio aos usuários e modifica a percepção visual das pessoas no local. O Chá da Tarde modifica as relações sociais e reestrutura o espaço ao transformar o lugar de passagem em local de permanência. O Ifigênia Elevada é um mobiliário com diversos usos, que reconfigura o lugar e possibilita novas experiências. O Fita Vermelha reorganiza a paisagem, modifica a percepção visual e traz novas sensações.

Devemos olhar sem preconceitos à nossa volta. O que vem sendo proposto? Quais são as novas idéias? O estático já não é palavra de ordem. Estamos em constante mutação e é assim que devemos proceder propondo novos discursos e novos pontos de vista, a fim de estimular o cidadão em uma época em que a individualidade está mais e mais presente. Seja pela interação entre as pessoas, pela mudança na sua percepção ou pela propagação de novas sensações.

Por meio de um olhar mais atento e experimentações podemos propor novos projetos sem nos preocuparmos com as idéias que nos foram impostas e já estão consolidadas.

A experimentação é necessária.

(1) Site Specific Art são obras feitas a partir das características dos locais onde estão instaladas, e que em qualquer outro lugar ganhariam conotação e sentido diversos.
(2) www.vitruvius.com.br

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