logofau
logocatfg
secao 4!

As Histórias em Quadrinhos e o Cinema:

as artes irmãs

Adriano Di Benedetto

Minoru Naruto

Resumo:

O Trabalho Final de Graduação, realizado no decorrer do ano de 2009, consistiu na abordagem das relações existentes entre as histórias em quadrinhos e o cinema. Através da elaboração de um conteúdo teórico e de um projeto gráfico, o estudo buscou aprofundar a reflexão sobre o funcionamento e a constante simbiose entre estas duas mídias.

Há mais de um século, a linguagem gráfica seqüencial, conhecida como histórias em quadrinhos (HQs) ou comics, vem encantando leitores de todo o mundo. Nos últimos dez anos, no entanto, tem-se observado a crescente presença deste gênero adaptado em grandes produções para as telas dos cinemas. Graças a filmes como Homem-Aranha (2002) e Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), as HQs quebraram as barreiras de público e crítica, despertando o interesse dos profissionais e do público em geral, levando às salas de exibição não somente fãs deste tipo de mídia.

O surgimento contemporâneo (final do século XIX) e a evolução concomitante destas duas artes, com nítidas influências de uma sobre a outra, são dois dos principais fatores para esta tão bem sucedida relação, atualmente beneficiada pelos avanços tecnológicos. Graças a estes últimos, a presença dos super-heróis nas telas de cinema está em alta como nunca antes. Em busca de imaginação, inspiração e grandes bilheterias, produtores começaram a recorrer às HQs, investindo bilhões de dólares todos os anos neste tão lucrativo - e promissor - segmento. O número de adaptações de comics para o cinema entre os anos de 1950 a 2000 se equivale ao total de filmes deste gênero lançados de 2001 a 2009, além de muitos outros já em produção ou em desenvolvimento para lançamento nos próximos anos.

Esta nova vertente de Hollywood dada pelo atual desdobramento da linguagem dos quadrinhos em mídia cinematográfica tem despertado grande interesse. Informações sobre o tema podem ser encontradas nos chamados “veículos informais”, tais como sites de notícias, blogs e fóruns de discussão na internet, além de obras específicas sobre cada uma das mídias.

Influências:

O que podemos observar hoje é um “casamento” entre estas duas artes. O cinema tornou-se, além de tudo, uma fonte de grande referência para os autores de quadrinhos em diferentes quesitos. Hoje em dia, uma das influências mais marcantes do cinema nas histórias em quadrinhos está no campo da narrativa. É muito comum, ao abrirmos um gibi, nos depararmos com páginas e mais páginas que poderiam facilmente estar retratadas fielmente em um filme para o cinema, tanto em aspectos de enquadramento, iluminação, planos, seqüência de cortes, entre outros aspectos.

Grandes mestres dos comics tiveram também forte influência sobre os filmes. No começo do século XX, as pranchas de Winsor McCay para Little Nemo In Slumberland surpreendem por apontar já para uma linguagem cinematográfica (rigorosa perspectiva, ricas em detalhes e com angulações inusitadas para o olhar daquela época). Inclusive, muita de sua influência estética pode ser percebida em filmes como King Kong, Dumbo, Mary Poppins e Fantástica Fábrica de Chocolates. Will Eisner, um dos maiores nomes da linguagem dos quadrinhos, teve sua obra caracterizada como cinematográfica, e suas histórias comparadas ao cinema expressionista alemão e a cinema Noir americano.

Outro exemplo notável é de uma história desenhada pelo consagrado ilustrador francês Moebius. O conto produzido em 1976 intitulado “The Long Tomorrow” se passava em uma gigante metrópole vertical, super densa, com passarelas cuja arquitetura é muito similar à Los Angeles futurista retratada por Ridley Scott em Blade Runner (1982). Moebius trabalhou também criando conceitos para filmes como Alien (1979), Tron (1982), Willow (1988), O Segredo do Abismo (1989 e O Quinto Elemento (1997).

Sabe-se que o mercado das HQs ainda está longe de reviver seus melhores dias, entretanto, não se pode negar o impulso gerado nos últimos anos graças a esta recente “parceria” com o meio cinematográfico. É notório que essa união de forças entre o cinema e os comics pode gerar vários frutos, alguns deles muito positivos, permitindo a cada uma das mídias exercerem seu papel de maneira eficaz. Trazendo às telas filmes de incontestável qualidade, como Homem de Ferro (2008), é possível manter o equilíbrio entre a fantasia e a realidade, de maneira a agradar a maior parte do público, que não necessariamente lê suas revistas, revitalizando o universo das HQs.

Embora o leitor queira ver, nos próprios quadrinhos, a estética e a linguagem existentes nos filmes, os autores não podem deixar esta recente influência cinematográfica assumir o controle de suas produções, fazendo com que as HQs percam suas características mais tradicionais, muito menos eliminar seus típicos elementos gráficos e narrativos só porque alguns editores crêem que isso distancia o público dos gibis, ou porque interpretam que estes artifícios criam uma fantasia desnecessária, exagerada e até infantilizada da obra.

Há desenhistas e escritores que discordam desta postura e entendem que os quadrinhos não podem perder os elementos que compõe sua tão rica linguagem. É claro que, ao produzir comics, pode-se fazer uso de sistemas narrativos desta forma de arte e o leitor pode aceitar as funções gráficas desta forma de expressão. Uma história séria, realista, profunda pode ser desenhada com traços mais estilizados.

Enfim, embora próximos, tanto os quadrinhos quanto o cinema mantêm-se distantes graças aos elementos que os tornaram únicos. Nenhum dos dois pode perder o conjunto de sistemas próprios que os define como mídia e como linguagem. Não é necessário aproximar a arte dos quadrinhos de sua irmã cinematográfica para garantir maior aceitação do público. Afinal, por melhor que seja, um filme não substituirá a experiência e a íntima relação que se estabelece entre o autor e o leitor nas HQs, como expõe, em entrevista, o consagrado desenhista Jim Lee: “Tem sido muito bom ver essas histórias e esses personagens pulando para a tela grande, mas ao final do dia eu ainda prefiro ler essas histórias no papel, é lá que a verdadeira mágica acontece”.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo