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secao 4!

CARRO URBANO

Américo Teruo Miyaura

João Bezerra de Menezes

O trabalho apresenta uma proposta para carro urbano. Para isso se consideram as características atuais do produto automóvel, e os problemas enfrentados pela cidade que agravam o congestionamento, tomando-se São Paulo como exemplo.

O uso intenso do automóvel particular, que representa 45% dos deslocamentos motorizados em São Paulo (pesquisa OD 2007), é causador de níveis de congestionamento sempre crescentes. Várias medidas foram tomadas para conter o congestionamento: o rodízio de veículos (que retira parte da frota por um dia da semana nos horários de pico), proibição de estacionamento em vagas nas ruas ou ampliação de áreas pagas em forma de “Zona Azul”, restrição de circulação dos “fretados” (transporte coletivo privado), e a possível implantação do pedágio urbano (Pitu 2025).

Tais medidas priorizam a utilização do modo coletivo, como não poderia deixar de ser. Porém, existem outros problemas mais relacionados ao processo de urbanização ou planejamento da cidade do que o “excesso” de carros nas ruas, como exemplos:
• O processo de periferização do município de São Paulo e de sua região metropolitana devido à oferta de moradias baratas, porém longe dos locais de trabalho, além da subutilização da infra-estrutura já instalada nas áreas centrais;
• O uso do solo, representado pela segregação em zonas especializadas, que cria áreas de intensa atividade durante o dia, mas desertas à noite. Isso poderia ser evitado com a criação de zonas mistas;
• O zoneamento, na forma de edificações com gabaritos elevados, geradores de demanda de garagem acima do porte do sistema viário existente;
• A histórica falta de investimentos no transporte coletivo de grande capacidade (Metrô), priorizando o transporte por ônibus, de implantação barata e imediata;

A proposta apresentada, apesar de enfocar o modo de transporte particular, considera as questões levantadas. Para isso se propõe a minimização dos impactos causados por este modo na sua utilização urbana. As características da proposta são:
• Utilização como 2º carro em substituição ao carro convencional (maior e poluidor), procurando evitar a relação direta de motorização e número de carros nas ruas;
• Carroceria leve para dois ocupantes, racionalizando o projeto do veículo para o uso exclusivo nas cidades. Em São Paulo, a taxa de ocupação é de 1,2 pessoa por veículo, demonstrando a capacidade excedente do carro comum, de tamanho e velocidade máxima acima das necessidades de uso no contexto urbano;
• Tamanho reduzido e possibilidade de estacionamento de frente para a calçada em vagas na rua, como nas motos, poupando espaço;
• Tração elétrica, com emissão zero de poluentes e baixos níveis de ruído, que influi na qualidade de vida da população;
• Autonomia limitada pelas baterias, que permite o uso contido do automóvel, em trajetos mais curtos. Com isso há margem, por exemplo, para associar políticas de estacionamento junto aos terminais de transporte coletivo. Porém, a restrição ao uso do automóvel não se daria por limitações técnicas, mas devido às medidas de desestímulo e encarecimento de seu uso.

Para a realização da proposta foi realizada uma busca de referências de mini carros, sejam de modelos produzidos ou de carros conceito. Nas referências foram observados os aspectos técnicos, recursos de estilo ou atributos de uso. Após a pesquisa, foram delineadas as características da proposta. A combinação de características de moto (transporte individual básico de dimensões compactas) com o carro comum (confortável e protegido das intempéries) foi observada dentre as referências encontradas na pesquisa e serviu de inspiração.

Essa combinação sugeria uma volumetria muito distinta e desafiadora, com os ocupantes em fila e carroceria alta e estreita. Ainda assim a idéia foi desenvolvida por considerar importante a redução de tamanho e ser mais inovadora, distanciando-se de propostas muito semelhantes aos carros já em produção.

Para prosseguimento da proposta foi realizado o estudo ergonômico com base nos dados de estatura da norma NBR 6068 e nas zonas de conforto apresentadas por Diffrient. Esse estudo foi feito em forma de elevações e cortes em 2D, e definiu o envelope básico para a definição de todo o projeto, como a localização das rodas, baterias, motores, definição do tipo de porta, etc.

A precisão das proporções foi obtida através do modelamento em 3D no software Alias Studio. Em paralelo a este trabalho, foram feitos alguns esboços manuais com alternativas de desenho sobre as imagens impressas do 3D. A escolha foi baseada na harmonia, equilíbrio, limpeza e durabilidade de desenho, buscando um caráter moderno, ainda que sutilmente. As superfícies obtidas no software 3D também permitiram gerar imagens renderizadas em diversos ângulos, reflexos e efeitos, como o “raio x”.

Um modelo físico, na escala 1:10, testou a volumetria do veículo. Os materiais empregados foram o poliuretano expandido e resina, e foi confeccionado manualmente através de impressos com as vistas ortogonais e cortes nos três eixos. Um outro modelo na mesma escala foi obtido através da usinagem em CNC (controle numérico computadorizado) do mesmo arquivo 3D usado para as renderizações. Diferentemente do modelo anterior, este não recebeu a resina e nem pintura, permanecendo no poliuretano expandido: prevaleceu a precisão das formas e análise volumétrica das proporções tais como definidas no modelamento digital.

Ao final do trabalho, a maneira como foi encarado o modal particular (para o uso contido em distâncias curtas e integração com modais coletivos), e as críticas ao consumo do automóvel convencional (grande e potente demais para as cidades) produziu uma proposta bastante peculiar. A proposição do automóvel para o uso exclusivamente urbano sugere uma linha mais racional de projeto de automóvel. Os procedimentos adotados como a pesquisa por referências, o esboço da concepção mecânica, estudos de ergonomia, propostas de estilo e aplicação de recursos de representação (modelamento, renderizações e modelos físicos) buscaram aproximar a proposta ao imaginário de sua aplicação.

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