logofau
logocatfg
secao 4!

Interações Músico-Plásticas

Ana Heloisa Santos Fuzzo Santiago Pinto

Agnaldo Aricê Caldas Farias

A questão central que motivou a pesquisa desde suas primeiras investigações foi compreender como duas disciplinas artísticas, no caso, as artes plásticas e a música, poderiam manifestar-se segundo parâmetros e idéias similares, inseridas sob um mesmo contexto sócio-cultural. O primeiro recorte estabelecido foi temporal. Tomamos de saída o século 20, por reconhecermos no período uma aproximação programática entre as artes que estudamos, em especial por artistas que se empenharam na prática interdisciplinar. O objetivo do trabalho seria, pois, reunir alguns desses artistas sob bases comparativas que os aproximasse.

De início, selecionamos casos evidentes em que o estreitamento entre as duas disciplinas se manifestava: a relação entre o austríaco Arnold Schoenberg e o russo Wassily Kandinsky, que trocaram correspondências na década de 1910 e reconheceram entre suas próprias produções características similares no que diz respeito à concepção estética; e a proximidade que se estabeleceu entre John Cage e Robert Rauschenberg em meados do século 20, a partir do encontro entre o compositor e o artista plástico, que resultou tanto em uma influência mútua na produção individual de cada um, como na colaboração em projetos comuns.

No desenvolvimento da pesquisa, decidimos analisar mais minuciosamente uma das duplas propostas, em parte devido à restrição de tempo pertinente ao trabalho final de graduação e em parte por compreendermos que tal recorte ofereceria material suficientemente extenso para uma primeira abordagem do tema. Decidiu-se, assim, por tratar em maior profundidade da relação entre e Cage e Rauschenberg, dada a maior disponibilidade de bibliografia específica sobre o assunto e o caráter manifesto de permeabilidade entre suas produções.

Delimitado o recorte temporal e objeto de estudo, estruturou-se o texto cronologicamente: apresentamos uma primeira abordagem do problema com algumas aproximações entre as artes visuais e a música no início do século 20, partindo da investigação da crise de representação que conduziu à abstração nas artes plásticas e à atonalidade na música, com Kandinsky e Schoenberg, e de alguns posteriores desenvolvimentos que decorreram diretamente do advento da abstração e da atonalidade – a abstração geométrica e o serialismo dodecafônico.

Deste terreno, partimos para a análise da produção de Cage e Rauschenberg, tomando-a no contexto de uma segunda crise de representação em meados do século 20, que caracterizou a transição do pensamento modernista para o pensamento pós-moderno. O texto trará, então, uma primeira contextualização deste pensamento, inserindo a produção de Rauschenberg e Cage no âmbito do pós-modernismo. Deste ponto, abordaremos em maior profundidade a obra de Cage e de Rauschenberg separadamente.

Na análise da produção de John Cage, principiamos, também cronologicamente, das obras compostas entre os 1930 e 1940, em que o compositor trabalha com a estrutura baseada em durações, tomando como foco as obras para piano preparado e percussão. Aqui, investigaremos como as essas obras prenunciaram o uso da indeterminação posteriormente empregada pelo compositor nas peças que caracterizam o segundo grupo, de obras compostas a partir de operações de acaso nos anos 1950, da livre aleatoriedade em trabalhos como “4’33””, de 1953 e nas peças dos anos 1960, em que examinaremos o uso da colagem e das referências históricas.

A obra de Rauschenberg será apresentada em três grandes grupos. O primeiro trata da produção no início dos anos 1950, reunindo as “White Paintings” de 1951, o grupo de monocromos pretos realizados entre 1951 e 1952 e as pinturas predominantemente vermelhas, da mesma época. Em um segundo momento, agrupamos o conjunto de caixas com fragmentos do ambiente e objetos pessoais do artista colecionados no Marrocos por volta de 1952 e as combine paintings a partir de “Collection”, produzida em 1954. Um terceiro grupo reunirá obras dos anos 60, a partir das primeiras produções em transfer e silkscreen. As obras serão, assim, aquelas situadas entre os anos 50 e 60, momento que consideramos mais expressivo na obra do artista e em que identificamos um desenvolvimento no sentido da estética do acaso e da inexpressão que conecta a produção de Rauschenberg à de Cage.

Finalmente, observados os aspectos que caracterizam as obras dos dois artistas em questão, apontaremos as proximidades entre seus projetos estéticos, a partir de princípios comuns que nortearam a produção de ambos: o esvaziamento do sentido de obra de arte como objeto fechado, fruto da expressão individual do artista; a arte vista fora dos limites que a separam da vida cotidiana; e a concepção de acaso e abertura como princípio gerador da obra de arte.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo