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secao 4!

Escola Dialógica em Santo André

Arthur Santos Francisco

Angelo Bucci

Proposta Pedagógica

Escola dialógica refere-se ao termo empregado por Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido: o diálogo, a ação dialógica. Essa concepção é uma contraposição ao modelo amplamente difundido na educação formal (aqui, no sentido que István Mészáros aplica à educação obrigatória, ou mesmo na educação complementar que segue os mesmos moldes), o modelo em que o estudante é agente passivo na ação de aprender, objeto ao qual se depositam os conteúdos, representantes dos interesses dos grupos sociais dominantes.

A educação dialógica visa, ao contrário, buscar os conteúdos diretamente na realidade concreta dos grupos sociais (de quaisquer dimensões de recorte) que demandam o auxílio de determinados especialistas. Esses especialistas têm, hoje, a incumbência de retirar de seu estado dormente esses homens para emergirem à dimensão de sujeitos no processo de seu aprendizado e de sua transformação social e cultural.

Como sujeitos, os homens não conseguirão efetivar seu aprendizado confinados a espaços que não estejam instrumentados para essa ação. Nesse sentido, surge a proposta de edifício escolar dialógico apresentado neste trabalho.

A edificação consiste em justapor equipamentos pedagógicos que possibilitem, principalmente, o diálogo, a pesquisa, o trabalho e o planejamento.

O planejamento pedagógico assume o papel de pivô das atividades em desenvolvimento. Antes que qualquer atividade seja oferecida pela instituição, os especialistas têm de inserir-se no ambiente em investigação para dele extraírem as temáticas. Nesse processo, as discussões interdisciplinares de apreensão dos temas, que contarão certamente com os não-especialistas interessados, precisam de um espaço de atividades onde possam ser elaborados também parte dos materiais didáticos e codificações a serem apreciados pelos estudantes.

Consolidada a temática e iniciadas as atividades, os estudantes e educadores dispõem de outros três equipamentos. O primeiro deles, um amplo estúdio, onde poderão se desenvolver os experimentos, as práticas, as leituras coletivas, num espaço reorganizável sem divisões. Caso haja necessidade de uma atividade reservada, há uma sala com iluminação e acústica mais controladas.

Um infocentro (combinação de biblioteca, midiateca e recursos de informática) com capacidade de cerca de 60 mil volumes foi disposto no andar superior do edifício. Esse equipamento busca aproximar o ato de investigação, indispensável ao processo de aprendizagem, ao ato de trabalho, realizado no estúdio. De modo algum esse infocentro busca suprimir as investigações que devem ser feitas diretamente sobre a realidade, mas permitir que se conheçam referências distantes a esta, além de, certamente, permitir análises históricas sobre os temas. Disposto no mesmo nível que a praça superior - que conecta as áreas externas (como veremos mais adiante) -, esse infocentro pode funcionar independentemente do restante da instituição, com entradas e controles específicos. Assim, a escola oferece à cidade um segundo equipamento, aberto mesmo àqueles que nenhuma atividade desenvolvam junto à instituição.

Fazendo a conexão entre esses equipamentos está um auditório, mas certamente não um auditório cujas funções acústicas sejam infalíveis. Longe disso, deve ser um espaço onde a escola possa se voltar a si mesma, onde os outros ambientes se comuniquem e possam atender às discussões que lá decorram. É um lugar de síntese coletiva, que viabilize o que de mais importante essa instituição intenta: a conversa entre os homens que buscam sempre “ser mais”, nas palavras de Paulo Freire, e evitar o “silêncio” que os imobiliza.

Finalmente, observamos que essa não é uma instituição elaborada para defender os mesmos princípios que defende a educação formal. E nesse momento não proponho uma reforma educacional, como alerta Mészáros. Uma reforma certamente estaria impregnada dos valores e projetos vindos “de cima para baixo”, sobre uma população que continuaria refém de um sistema, na “melhor” das hipóteses, populista. Instituições como esta, mais ou menos ocultas em nossa sociedade, estarão à margem enquanto o real objetivo da educação universal não for libertar, mas aprisionar os homens a modelos sociais predatórios, baseados em “círculos viciosos de desperdício e escassez” (Mészaros), em que a sustentabilidade - palavrão contemporâneo - de que tanto se fala, impressionantemente capaz de gerar mais produtos e mais desperdício, é uma enorme falácia.

Inserção Urbana

A determinação do lugar da escola foi balizada por critérios de associação a outras redes de equipamentos, de modo que bem se articulasse com a cidade e, por sua parte, articulasse melhor o território a partir de sua implantação.

O primeiro desses critérios é a justaposição à rede de transportes públicos, a fim de garantir bom acesso, não apenas local, mas até mesmo metropolitano, permitindo assim que a escola enfatize seu caráter pedagógico além do tradicional, e adquirindo força de instituição referencial.

A Parada Paraíso fica à altura do número 80 da Avenida Pereira Barreto em Santo André, às margens de um terreno íngreme que sobe cerca de 20 metros até a rua Dr. Henrique Calderazzo, onde está a entrada principal do Hospital Regional de Clínicas Mário Covas.

Por essa leitura transversal que se fez, uma diretriz que marca o projeto desde o princípio é estabelecer uma ligação entre essas duas cotas da cidade, através de outro meio de transporte público, o elevador, externo ao edifício, o que garante seu funcionamento independente.

Em termos de projeto, a reformulação da parada e acesso inferior ao elevador se dão à cota 776,5 da Avenida Pereira Barreto. Subindo, chega-se à cota 794,5, onde se estende uma praça que é acesso ao edifício escolar e ligação à porta principal do Hospital.

Além do sistema de transporte e do hospital, a escola está próxima a um grande parque do município, o Parque Central, que conta com, além de vários equipamentos recreativos e uma generosa área verde, o Museu Escola-Parque do Conhecimento, ou Sabina, projeto de Paulo Mendes da Rocha, que contém uma série de exposições e experimentos lúdicos que, certamente, poderão complementar as atividades da escola por seu caráter direto e prático sobre as muitas vezes distantes teorias científicas apresentadas no ensino formal.

Ficha Técnica

Área aproximada de Terreno: 30.000 m²
Area construída (projeção em planta): 4.900m²
Principais materiais:
Esqueleto estrutural em aço, lajes de concreto protendido alveolares, pré-fabricadas, painéis pré-fabricados de concreto com miolo, termo-acústico, chapa de aço expandida (brise), vidro

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