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secao 4!

Hospital Matarazzo -

Transformando o Patrimônio Histórico em Habitação

Bárbara de Carvalho Raggi Terra

Antonio Carlos Barossi

Conservar e reabilitar o patrimônio arquitetônico são formas de estabelecer no presente, ponte entre o que foi construído no passado para o nosso benefício e o futuro que desejamos transmitir para as próximas gerações. O objetivo desse trabalho é apresentar um projeto de reciclagem de edifício, com o desafio de valorizar os conceitos e características de um edifício construído em outra época e instaurar um novo programa, completamente distinto do original.

Foi realizado um exercício de projeto, buscando alisar a viabilidade de intervir em edifícios com significativo valor histórico e em crescente estado de degradação e aproveitá-los para geração de moradias. O objeto de estudo aqui apresentado é o Hospital Matarazzo, localizado próximo à Avenida Paulista, uma região dotada de infra-estrutura, e conta com uma área de mais de 27.419 m² em desuso.

O Hospital Matarazzo foi inaugurado em 1905, a partir de doações de famílias imigrantes. Entre 1905 e 1938 foram construídos o Pavilhão Administrativo, a Casa de Saúde Francisco Matarazzo, a Casa de Saúde Ermelino Matarazzo, o Pavilhão de Ambulatórios e o Pavilhão Vitório Emanuelle II, formando-se assim um conjunto de 5 prédios incluídos no bloco mais antigo. Todos ostentavam o estilo que foi definido como florentino.

Á direita do bloco antigo destaca-se um outro bloco composto pela Capela Santa Luzia, a Clínica Pediátrica Amélia de Camilis, e a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo. Com proporções e simetrias neoclássicas, destaca-se a sobriedade e a contenção dos detalhes nessa ala nova. Outro ponto a destacar no conjunto é a Galeria Central, que une os edifícios pelo térreo e primeiro pavimento.

Por falta de recursos, o hospital foi entrando em decadência e em 1993, o que restava em funcionamento foi interditado pela Vigilância Sanitária.

Pela conservação da estrutura física dos prédios e pela importância em relação à vida pública e social da cidade de São Paulo, todo o complexo hospitalar, que compreende 10.294,70 m² de área construída, encontra-se tombado pelo Condephaat e Compresp.

Fechada há dezesseis anos, a antiga casa de saúde, composta de nove edifícios, pertence hoje à Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ).

A proposta de intervenção que apresento aqui segue os princípios da reutilização de um edifício reabilitado, porém com a construção de novos edifícios anexos, que se relacionam com os existentes. Busquei criar uma convivência entre os edifícios antigos e os novos, que apresentam diferenças de idades e estilos, envolvidos por diferentes níveis de praças, que os une sem tirar deles suas características.

A idéia foi trabalhar com o contraste, com respeito ao espaço interno, circulação clara, e com a funcionalidade que deve ter o espaço.

O primeiro partido do projeto foi definir, analisando o tombamento, qual dos edifícios seriam mantidos e quais seriam descartados. Depois foram traçados eixos de usos e circulação. Primeiramente os eixos de acessos, que garantiram a permeabilidade pelo lote e depois eixos de usos, sendo o eixo central residencial e paralelamente a ele, um eixo comercial, que convida o pedestre a adentrar o espaço público criado. Uma rua interna também foi criada, possibilitando o acesso aos níveis de estacionamento.

Analisando a implantação e os desníveis do terreno, foram definidos níveis de trabalho. Ao se propor 3 níveis de praça (815, 811 e 808), foi criada uma relação entre a R. Itapeva e a Al. Rio Claro, que antes inexistia.

Inspiração primeira de todo o projeto, a praça 815 é o principal apelo à convivência, assumindo função de um centro de estar, com o objetivo de acolher o cidadão, tornando um espaço abandonado e murado em uma praça pública.

A praça 811, que possui acesso direto pela Rua Itapeva, convida o pedestre a adentrar o conjunto, com suas lojas e galerias voltadas para a rua. Dessa forma a circulação dentro do lote se torna mais dinâmica e cria-se novas opções de percurso.

Foi criado também um patamar na cota 808, por onde se acessa a nova torre residencial. Essa praça se relaciona com o restante do conjunto através das rampas de acesso, escadas e galerias.

Aproveitando o aterro existente no terreno, principalmente na face norte, onde a rua apresenta um grande declive, foram propostos três andares de estacionamento subterâneo, que ao todo somam 380 vagas, o suficiente para garantir 1 vaga pra cada apartamento

Partindo para as intervenções internas, foram traçados alguns partidos: aproveitando o pé-direito duplo, foram criados mezaninos soltos da fachada, por onde passa toda a nova infra-estrutura do apartamento, rasgando as novas divisórias internas de placas cimentícias; acesso pelos dois lados do edifício; nova circulação externa, aumentando assim a área dos apartamentos e preservação das fachadas e lajes existentes.

A proposta de intervenção na Maternidade diferiu dos demais edificios, por esta não apresentar pé direito duplo. O edificio apresenta tombamento nível 1 e, sendo o único que apresenta elevadores e possui banheiros amplos, foi pensado de forma a atender idosos e pessoas com deficiência. As tipologias apresentadas são livres, tendo somente banheiro e cozinha fixos.

Para completar a densidade habitacional, o projeto adotou um edifício de 18 andares habitacionais, com planta circular, o que também permitiu melhor aproveitamento das implantações e melhor destaque visual em relação aos edifícios existentes que foram mantidos. A cada 6 andares existem andares intermediários, para melhorar ventilação e circulação de ar.

Visto que obtivemos um total de 375 apartamentos criados, o que totaliza uma nova população de aproximadamente 1200 pessoas no terreno do hospital, foi desenvolvida uma proposta preliminar de uma creche que servisse 100 crianças por turno. Apesar de ter o acesso pela cota 815, esta implantada na cota 811, garantindo assim um espaço reservado para as crianças.

O desnível em relação a praça proporcionou a implantação de um anfiteatro ao ar livre, voltado para o edifício, potencializando o uso deste pátio como local de estar e acolhimento.

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