Neste TFG, desenvolveu-se o emprego da pré-fabricação e da racionalização no projeto de habitação econômica.
Refletiu-se sobre como um projeto de habitação social, inserido no centro da cidade de São Paulo, poderia promover uma vida com mais qualidade aos seus moradores e à vizinhança, além de resultar em um preço de venda compatível com a demanda de até 10 salários mínimos.
A primeira etapa foi a escolha de um local para o projeto. Essa seleção deveria considerar a infra-estrutura existente, a oferta de empregos, além de instituições ligadas à educação e à saúde nas proximidades. Uma primeira definição foi possível: a opção pela região central de São Paulo. Pensando na fase de construção do empreendimento, outro fator mostrou-se relevante: a proximidade à linha ferroviária poderia ser um facilitador para a logística de distribuição dos componentes. Com isso, definiu-se a área de intervenção situada ao longo da Rua 25 de Janeiro - Bairro da Luz, com 28.250 m2.
Essa área foi delimitada como ZEIS-3, no Plano Diretor Estratégico de 2002, e também definida como PRIH da Luz, no âmbito do Programa “Morar no Centro”. Recentemente, foi alvo de intervenção promovida pela CAIXA, pela Prefeitura de São Paulo e pela Construtora Engelux. Apesar de se ter formado um “escritório antena” por técnicos municipais, que procuraram gerenciar o conflito de interesses entre os agentes envolvidos, o empreendimento, em vários aspectos, reproduziu a tradicional forma de produzir habitação, privilegiando a quantidade em lugar da qualidade, e pior, inviabilizando a inclusão de famílias de menor renda, devido ao preço final das unidades.
Desenvolveu-se, então, uma contraproposta para o Conjunto 25 de Janeiro, que levantou possibilidades de: aproveitar as regras da ZEIS-3; misturar usos e tipologias; incrementar os espaços de uso público; e respeitar o patrimônio cultural e arquitetônico existente; além de explorar soluções construtivas industrializadas e racionalizadas.
A justificativa para o tema do trabalho se estrutura nas seguintes questões:
• O déficit habitacional no Brasil, em particular na cidade de São Paulo, e a tímida produção de unidades;
• A necessidade de produção de habitação em larga escala e o atraso da indústria da construção civil;
• As oportunidades financeiras e legais que, potencialmente, viabilizariam a provisão de HIS inclusive pela iniciativa privada.
Os ganhos proporcionados pela industrialização da construção podem ser relacionados:
• Aumento de qualidade e precisão de execução;
• Aumento da produtividade;
• Redução de desperdício (de material e mão de obra);
• Especialização da mão de obra, com melhores condições de trabalho;
• Simplificação do canteiro, eliminando uma série de atividades precárias e artesanais.
No entanto, deve-se adotar uma nova forma de projetar: os conceitos de modulação, repetição e racionalização devem balizar a concepção de um projeto desde o início.
Partindo para o local da intervenção, a região da Luz apresenta aspectos específicos, como a presença de cortiços, mas também fatores que extrapolam a própria região, como o sistema viário, o sistema de transporte coletivo, as áreas de comércio especializado e os edifícios de interesse histórico. A área de intervenção está em uma ZEIS 3.
Quanto à área da proposta, os limites foram estabelecidos com o intuito de adensar com HIS e HMP os terrenos subutilizados, criar espaços públicos em locais de grande circulação de pessoas e valorizar o conjunto de interesse cultural. Além disso, era importante que a área da proposta tivesse extensão tal que conformasse uma rua, ocupada no térreo por comércio e serviços.
A implantação dos edifícios buscou atender os seguintes objetivos:
• adensar, sem agredir a noção de escala humana dos espaços;
• criar espaços públicos funcionais, mas que também sirvam ao encontro, ao descanso, ao lazer;
• possibilitar a identidade da população com seu local de morar;
• estabelecer uma relação “solidária” com o conjunto de interesse histórico, que o valorize;
• garantir boas condições de insolação e ventilação nos apartamentos;
• promover a diversidade de usos;
• garantir a privacidade dos moradores.
As unidades HIS e HMP foram diferenciadas pela área e pela vaga de estacionamento.
Os apartamentos foram projetados pensando na flexibilidade de aproveitamento dos espaços, conforme a constituição familiar. As plantas foram moduladas e o bloco hidráulico divide a casa em dois setores: o da sociabilidade e o da privacidade.
A produção em escala foi entendida como uma oportunidade para empregar os princípios da construção racionalizada e industrializada. Nesta proposta, adotaram-se as seguintes tecnologias:
• Fôrmas tipo “túnel”;
• Painéis de fachada pré-fabricados;
• Bloco hidráulico pré-fabricado (“banheiro/cozinha prontos”).
Dentro do âmbito acadêmico, a idéia de desenvolver uma contraproposta para o Conjunto 25 de Janeiro pareceu bastante pertinente, como crítica à primeira intervenção implementada pelo Programa Morar no Centro, no PRIH-Luz.
O desenvolvimento do tema mostrou que, ao mesmo tempo em que a repetitividade era desejável para tornar possível a industrialização do canteiro, esperava-se chegar a uma solução arquitetônica integrada com a paisagem, um espaço com o qual os moradores se identificassem e zelassem por ele. Assim, buscou-se demonstrar que projetar empregando princípios de industrialização não resulta em uma arquitetura monótona.
A realização do trabalho também ensinou que o arquiteto deve pensar o projeto como um todo e que o seu papel é essencial para a continuação do processo de industrialização da construção.