A proposta geral deste trabalho é, além de regenerar parte dos serviços ambientais que as pessoas desfrutam a partir de ecossistemas saudáveis, o projeto de reocupação de uma paisagem pós-industrial envolvendo a delimitação de diretrizes para a futura ocupação e o projeto de um parque – uma infra-estrutura que atenderá as demandas da população local e que pretende ser parte da solução de alguns dos problemas encontrados na região.
A área de 69 hectares escolhida para o projeto encontra-se na conurbação do município de São Paulo e de São Caetano do Sul e no limite da Operação Urbana Diagonal Sul, de onde foi retirada a base para algumas diretrizes para o plano geral do projeto, que pode ser explicado a partir de camadas significativas.
Recriar uma várzea para o rio Tamanduateí para a acomodação das águas das cheias que provocam severas enchentes na região demandará grande movimentação de terra. O volume retirado das escavações do lago e margens será utilizado na construção dos morros artificiais que servirão de passagem sobre a ferrovia e sobre a Avenida do Estado. Para o gerenciamento ideal do solo, por todo o parque, pequenos morrotes serão construídos para compor a paisagem.
A maior parte dos programas será locada nos edifícios da I.F.R.M. e pontuam o parque alguns edifícios que conterão as instalações de vestiários e arquibancada para praça de esportes, restaurantes, sanitários e a estação Parque dos Meninos. Na Praça das Químicas consta uma estufa, centro para idosos e sanitários; e na Praça Hidráulica os vestiários e piscina coberta, além de casa de bombas para o sistema de tratamento.
A partir do estudo dos principais fluxos esperados no parque foram projetados três diferentes larguras de passeios. O principal eixo de 8m serve de conexão urbana e é o único que contém uma faixa de ciclovia claramente delimitada. Este eixo liga os principais pontos de interesse dentro do parque e as entradas de maior demanda. A segunda escala de passeios tem 5m de largura e também atendem às médias solicitações. Estes dois primeiros tipos de passeio podem receber trânsito de veículo leve para o abastecimento e manutenção dos edifícios. No último nível estão os passeios de 3m, que corresponde a passagem de 4 pessoas lado a lado, e é a mais freqüente no projeto. As circulações são definidas por elementos intertravados e de madeira plástica. Este último, associado ao aço aparece em pontes e passarelas.
Foram definidas apenas as massas vegetadas superiores, com maior adensamento nas zonas de fitorremediação do solo no bosque central e na já existente área de conservação na parte sul do projeto. As árvores foram sugeridas a partir de eixos assim como foram idealizados os passeios. A vegetação também oferece caminhos sombreados durante a maior parte do dia. Diferentes micro biomas são sugeridos, de alagados a recomposição de mata ciliar e mata atlântica.
Dois métodos são utilizados para o controle das cheias. No primeiro, o Córrego dos Meninos é represado na porção central do projeto para formar um lago que por meio de extravasadores controlam a vazão das águas em direção ao Tamanduateí.
Os cortes nas margens do Tamanduateí acomodam cerca de 100mil m³ a mais do que a situação anterior. Apenas este projeto não será suficiente para resolver os problemas de enchentes da bacia do alto Tamanduateí, apenas diminuindo suas conseqüências. A solução virá da soma de ações que vão desde o aumento de áreas permeáveis na cidade a modificações no sistema de drenagem que retenham as águas pluviais por mais tempo antes de devolvê-los a corpos d’água ou em sumidouros que promovam a recarga dos lençóis freáticos.
As estratégias de descontaminação escolhida para as zonas previamente delimitadas levam em conta o tempo, a viabilidade operacional do processo e o grau de descontaminação após a aplicação, sendo que, segundo CETESB, para os fins residenciais e de lazer o grau de contaminação para deve ser nulo.
Para a primeira área, contaminada com BHC, e em razão da intensa remodelação topográfica do local, 3 processos de descontaminação serão utilizados. O leito retrabalhado do Córrego dos Meninos, assim como parte do braço seco e a base para o monte artificial a ser construído serão tratados através do processo de biorredução, com altas taxas de remoção, que consiste na intensa mistura do solo ex-situ de modo a estimular o processo de conversão microbiológica.
Porém este esforço não será necessário onde as áreas serão impermeabilizadas, como no novo traçado da Avenida do Estado e as fundações dos muros de arrimos que conterão os morros artificiais que farão a passagem sobre a via.
A terceira condição, assim como a área contaminada por mercúrio, está nas áreas entre estes dois extremos, onde a circulação e o risco de contato com a população é reduzido. Para estas zonas é indicada a fitorremediação, com a retenção dos contaminantes no sistema radicular e em outros tecidos vegetais.
O sistema de tratamento de água proposto não pretende ser em si a solução para a poluição do Rio Tamanduateí e o Córrego dos Meninos, mas sim uma contribuição importante para esta meta.
O primeiro passo seria a completa coleta e tratamento do esgoto. O tratamento nas tradicionais ETEs geralmente devolve a água para o sistema hídrico após o tratamento secundário, com diminuição de cerca de 90% de DBO.
É a partir deste ponto que o sistema proposto passa a atuar. Além de complementar o tratamento prévio, ele também atua na poluição difusa depositada nas superfícies e que é lavada pelas chuvas e carregada para os corpos d’água. No tratamento a água coletada é distribuída por patamares onde é tratada por sistema de raízes ou alagados, onde a vegetação retém os contaminantes.
Ao pontuar a cidade com este modelo é possível criar um sistema metropolitano que, além de compreender a retenção das águas e o seu tratamento, também ofereça a possibilidade de áreas de lazer, criando assim um sistema de espaços livres estruturados pelos rios.