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secao 4!

Hotel Pousada em São Sebastião

Elaine Rissatto Teixeira

Oreste Bortolli Junior

Apresentação:

O presente trabalho propõe como exercício projetual a criação de um Hotel Pousada no município de São Sebastião voltado para o atendimento do crescente turismo de lazer, especialmente doméstico, proveniente em grande parte da capital paulista. Tal objeto é resultado de levantamentos, análise de mercado e traçado de perfil do turista do litoral paulista associados a uma contextualização histórica, estudo do panorama atual e tendências do setor hoteleiro que contribuiram para propor soluções adequadas a população flutuante e introduzir o conceito de lar temporário. Para tanto, associaram-se infra-estruturas de lazer, serviços complementares e possíveis comércios de caráter local ao programa básico de um hotel de pequeno e médio porte, bem como se diversificou os tipos de quarto somando funcionalidade.

O estudo da região resultou na escolha de um terreno no bairro de Barra do Una por ser um destino turístico freqüente de São Paulo e apresentar paisagens naturais e infra-estruturas necessárias para a implantação do projeto, bem como por características urbanas do bairro compatíveis com o processo de ocupação que vem ocorrendo em todo o município de São Sebastião baseado em construções de veraneio, possibilitando também uma análise critica na questão veranismo versus turismo presente desde a fase de pesquisa até a concepção do edifício projetado.

Portanto o tema trabalhado constitui um exercício completo ao reunir elementos primordiais na constituição do edifício e cidade associando habitação, ainda que temporária a articulação do desenho urbano.

O trabalho se divide em quatro partes: Parte 1 – Fundamentação teoria, onde é apresentada uma síntese da pesquisa desenvolvida para compreensão do tema e definição do objeto de trabalho; Parte 2 – Fundamentos de projeto – aponta levantamentos e estudos da região necessários para o desenvolvimento do projeto; Parte 3 – Estudo preliminar, ilustra a memória do projeto incluindo primeiros croquis e definição de diretrizes; Parte 4 – O Projeto, onde são apresentados desenhos e textos que ilustram o projeto idealizado.

Introdução:

A influência da globalização e dos constantes avanços tecnológicos, bem como o aumento da demanda turística e da infra-estrutura hoteleira impõe a necessidade de acompanhar as mudanças que ocorrem no mundo em relação às diversas formas de habitar, o que resulta em uma busca por aperfeiçoamento e desenvolvimento no modo de projetar o edifício.

No caso da arquitetura e mercado hoteleiro, a exigência na qualidade da prestação dos serviços e concorrência dos variados tipos e programas de hotel estabelece a necessidade constante de investimentos nesta área e a procura de novas formas de acomodação de acordo com as transformações e imposições de carências coletivas, resultando em diversificação de programas conforme segmentações de mercado variadas, tendo em vista viabilizar-se e garantir rotatividade oferecendo ambientes que tendem a ser cada vez mais auto-suficientes.

Em relação ao Estado de São Paulo, especificamente em destinos de atrativo e identidade turística de lazer, como é o caso do litoral paulista, apesar do aumento de instalações hoteleiras, ainda há oferta precária e campo para implantação de hotéis de diferentes portes e, em paralelo, o turismo dito doméstico voltado ao lazer tem aumentado significativamente.

É nesse contexto que complexos de uso misto voltados a lazer e descanso e resorts de pequeno porte vem ganhando ênfase como oportunidades para hotelaria, especialmente em locais que contemplam paisagens paradisíacas e atrativos diversos.

Tal fato instiga a discussão e exercício projetual do tema e permite a proposta de um Hotel Pousada em São Sebastião, visando um programa que atenda ao perfil do turista encontrado na região associado a demais serviços e comércios que podem gerar mais lucro e desenvolvimento tanto para o entorno do local de implantação quanto para o edifício a ser implantado. Além disso, remete a uma crítica das características da arquitetura de veraneio e condomínios fechados, dominantes no cenário atual de São Sebastião e que, por não considerar o entorno geram problemas gravíssimos quanto a demandas de infra-estrutura em picos de consumo de alta-temporada, problemas urbanos de diferentes escalas, bem como agravamento de distinções sociais ao isolar populações caiçaras.

São Sebastião:

Desde a concretização da estrada Rio-Santos, surgiu na região de São Sebastião um processo de ocupação crescente e desordenado que criou uma nova feição ao longo dos bairros do Município, uma vez que estes perderam suas características caiçaras e passaram a sofrer especulações imobiliárias, modificando a estrutura urbana e a economia local. Tal fato fez com que houvesse uma divisão de grande parte desses bairros distinguindo áreas mais valorizadas, onde se instalaram condomínios fechados e casas de veraneio, e áreas menos valorizadas, localizadas no pé de Serra, onde se instalaram os antigos proprietários e moradores.

Foi o fator veraneio o principal responsável pela apropriação e transformação do espaço que marcou o desenho e a estrutura de assentamento de São Sebastião que passou de um turismo incipiente anterior a Rio-Santos, para uma fase de veranismo apoiada pelo mercado imobiliário, revelando uma falha gravíssima no que diz respeito ao excessivo comprometimento do espaço pela urbanização e parcelamento inadequados ilustrado pelos inúmeros e crescentes condomínios fechados que não consideram e/ou não estabelecem relação com o meio externo, bem como obstruem passagens e visões com muros altos que contrastam com as soluções habitacionais inadequadas e mal planejadas dos caiçaras deslocados.

Soma-se a este quadro a baixa utilização dos imóveis na chamada “baixa-estação” o que configura picos de consumo muitas vezes não compatíveis com a oferta de infra-estrutura existente em altas temporadas e a disparidade socioeconômica. Como conseqüência, o município se viu em um quadro com diversos problemas e distorções econômicas, urbanas e ambientais.

Quanto ao turismo, trata-se de uma atividade positiva para a economia local tendo em vista o alto nível de retorno econômico além da tendência a indução de empregos diretos e indiretos e a necessidade de preservar as atrações naturais e paisagens por meio de sua capacidade econômica de internalizar medidas de proteção, resultando em um comportamento oportuno no aspecto ambiental e, nesse sentido, opondo-se ao veranismo pela maneira de agenciar formas mais intensivas de produtividade e neutralidade quanto a demais atividades econômicas e desenho urbano.

salienta-se o potencial turístico do município, cuja configuração geográfica propicia praias diversificadas e de grande valor paisagístico, sem deixar de mencionar o centro histórico tombado pelo CONDEPHAAT.

Objetivou-se, portanto, através do projeto ressaltar essa crítica da situação atual do município de São Sebastião, acima de tudo da arquitetura de veraneio e atividade imobiliária quem vem dominando o cenário e acirrando problemas na região.

O projeto:

O projeto para o Hotel Pousada em São Sebastião teve como principal desafio a conciliação entre programa arquitetônico e análise crítica da expansão urbana no município, de forma a promover um projeto mais unificado com a paisagem.

O terreno de aproximadamente 17.000m2 de natureza privilegiada pela contemplação do mar configura um ponto relevante e, portanto, uma prerrogativa do projeto. Sendo assim, buscou-se uma implantação e volumetria que promovessem relações mais harmônicas e possibilitassem eliminar obstruções e barreiras visuais.

A edificação proposta consiste no programa de necessidades de um hotel associado a atividades de recreação, comércio e serviços, organizados em blocos funcionais e distribuídos em uma volumetria de fácil leitura, onde as atividades complementares foram dispostas em formato de um “C” no pavimento térreo, conectadas pelo eixo principal de apartamentos no pavimento superior, estruturado sobre pilotis, proporcionando a conformação de um conjunto cujas partes se integram a partir da área de lazer. Dessa forma garantiu-se a permeabilidade e a privacidade dos hóspedes, uma vez que as áreas coletivas concentram-se no térreo, liberando o pavimento superior somente para acomodações do hotel.

Ainda abrangendo a implantação, foi proposta uma área para acesso e passeio público, incorporando a estreita e única passagem existente para a praia na lateral do terreno, onde foi criado um calçadão iniciado por uma praça com lojas, ladeado pelo bloco recreativo e finalizado por um restaurante a beira-mar que atende tanto ao hotel quanto aos usuários da praia. Sendo assim foi necessário criar uma distinção entre área pública e privada, cuja solução encontrada foi a elevação do piso do hotel que, não somente apresenta eficácia na questão apontada como também garante a liberação de uma extensa área permeável no terreno abrangendo conforto térmico, manutenção dos materiais construtivos e sustentabilidade, evitando grandes impactos na região, no entanto rampas contemplam a questão de acessibilidade.

A simplicidade da estrutura em concreto armado permitiu trabalhar com transparência e leveza nas vedações, dessa forma consolidou-se a idéia de permeabilidade e fluidez do conjunto, além de garantir a valorização de elementos importantes para o projeto, como é o caso da piscina que recebeu cuidado especial por ser um componente chave, pois além de ter um papel fundamental no programa, se torna instrumento de integração entre hotel e praia com sua borda infinita e seu contrastante formato orgânico em relação ao desenho retilíneo do edifício. Esse arrojo também é destacado no volume que se sobressai na fachada principal, cujo revestimento em madeira forma um cubo sólido em contraste com o branco e o fechamento de vidro. A madeira ainda aparece nas venezianas dos quartos e caixilhos proporcionando uma combinação harmônica entre os materiais.

As acomodações do hotel foram elaboradas conforme o perfil dos turistas da região, sendo preciso abranger a variação de apartamentos e a multiplicidade de usos para atender suas necessidades. Como resultado criou-se cinco tipos de apartamento: casal (1 cama de casal), solteiro (2 camas de solteiro), casal e solteiro (1 cama de casal + uma cama de solteiro), acessível (1 cama de casal + 1 cama de solteiro, apartamento equipado para pessoas portadoras de deficiência física) e família (1 cama de casal + 2 camas de solteiro). Todos dispõem de mobiliário padrão: cama, criado mudo, armário, mesa com cadeiras, maleiro, móvel para TV, poltrona e equipamentos eletrônicos necessários para lazer e conforto dos usuários.

Para certificar que todos os apartamentos tivessem visuais da praia, estes foram dispostos de forma perpendicular a ela, no eixo norte-sul e ainda contam com terraços cobertos para possibilitar proteção da iluminação direta e consecutivamente conforto interno.

Ainda no pavimento superior, localiza-se o café da manhã, que dispõe de uma área com pergolado de madeira aberta para o hóspede contemplar a vista para o mar. O espelho d’água criado na extremidade do deck objetiva a extensão a praia, criando assim uma continuidade especial. O café da manhã conta com uma área de apoio que está diretamente ligada a cozinha do restaurante, economizando equipamentos e evitando o sub-aproveitamento dos espaços.

Por atender ao restaurante, café da manhã e bar, a cozinha do hotel requereu bastante atenção, sendo projetada visando facilidade e organização de fluxos com passagens amplas e conexões entre recebimento, armazenagem, pré-preparo e finalização. Isso foi possível ao soltar as paredes formando uma circulação ao redor da cozinha e uma ligação interna que permite o fluxo de preparo por dentro e o fluxo de pratos prontos e resíduos por fora.

O restaurante foi pensado para ser o mais transparente e aberto possível, por isso sua vedação foi feita com painéis de correr em vidro que se abrem por completo possibilitando a flexibilidade do espaço. Além disso, bar e restaurante se integram, o que permite seu funcionamento contínuo.

Outro ponto de ressalva é o teto jardim acessível para os hóspedes que funciona como uma praça elevada ampliando a área de paisagismo e lazer disponível no hotel, bem como promovendo novamente a integração edifício-natureza, além de ser mais um elemento crucial para o conforto interno nos ambientes.

Um dos aspectos mais atrativos do projeto é a integração dos espaços que também acontece no corte do edifício a partir de vazios abertos na circulação do pavimento superior, oferecendo não somente integração vertical entre os pavimentos como também a ventilação contínua possibilitada pela abertura na laje superior. Tal aspecto é reforçado pela cobertura suspensa que permite a passagem do ar, além de formar uma camada de proteção térmica, melhorando a sensação de calor nos apartamentos que contam com venezianas para manter essa circulação de ar sempre ativa.

Quanto à iluminação, primeiramente garantida pela transparência no térreo, no pavimento superior ela se projeta a partir de um eixo de iluminação zenital central que abrange toda a área de hospedagem, sendo interrompida somente nas dependências do home theater e sala de internet devido, obviamente, a questões funcionais. Essa solução partiu da idéia de valorizar o hall de acesso aos apartamentos cujo principal elemento é a incorporação de uma Palmeira existente no terreno e que ganha vida dentro do edifício.

Os acessos foram diferenciados para hóspedes e funcionários permitindo a livre circulação sem cruzamento de fluxos. Além disso, a área administrativa e de serviços do hotel foi disposta em um ponto estratégico para garantir seu funcionamento e atendimento sem grandes perturbações ao hóspede.

O estacionamento foi dimensionado em função dos hóspedes, uma vez que a pesquisa realizada mostrou que os funcionários de pousadas são sempre moradores da região e o intuído de trabalhar com hotel e turismo é também gerar empregos locais, o que permite que todas as vagas sejam contabilizadas para as hospedagens.

Em suma, o projeto buscou abordar todos os pontos estudados em pesquisa que permitiram a concepção de um exercício completo em termos de arquitetura e urbanismo, cujo resultado se apresenta nos desenhos e imagens a seguir.

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