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secao 4!

Arquitetura do território

Gabriel Kogan

Alexandre Delijaicov

Capítulo 1

Os projetos selecionados para este capítulo são intervenções do Homem sobre o espaço, desenvolvidos ao longo da história. A escala de tempo desses projetos é, quase sempre, expandida; transformando a percepção da escala de tempo usual da arquitetura contemporânea - de semanas, meses, anos - em outra escala mais larga - de décadas, séculos, milênios - mais próxima da escala da natureza e das transformações da terra. As autorias desses projetos são dissolvidas pelo grande número de agentes envolvidos, pela complexidade dessas intervenções, pelo desenvolvimento progressivo dos conhecimentos necessários e também, pela essa escala temporal: são produções coletivas e públicas. Essas arquiteturas do território superam em muito a geração de um homem. Para cada arquitetura do território, existem centenas, talvez milhares, de projetos.

Hidrovia Norte-Sul - A noção de construção do espaço interior, a urbanização e estabelecimento de infra-estrutura no território americano; encontra no projeto sul-americano da hidrovia um discurso emblemático. A história da hidrovia, ao se funde com a história da USP

Brasília - Uma espécie de síntese moderna que acaba por constituir a mais forte referência de projeto territorial da arquitetura brasileira. Enquanto a história da nova capital revela a possibilidade de domínio do homem sobre o espaço, sobre o território, revela também como este Homem americano ainda não prescinde da história colonial das nações para desdobrar seus novos costumes.

Rio de Janeiro - Se por um lado é uma construção e domínio do Homem do seu território, em processos seculares de drenagem de lagos, remodelação da topografia e implementação de aterros; por outro lado, estes projetos nem sempre foram movidos por preocupações humanísticas.

TVA (Tennessee Valley Authority), - após a grande recessão de 1929. O projeto no vale do Rio Tennessee despertou grande desenvolvimento econômico para a região mais pobre dos Estados Unidos e se sustenta até hoje como uma infra-estrutura importante para o país.

Qanats – Os Qanats podem ser considerados uma das primeiras grandes estruturas da humanidade, e seu nome e conceito inspiraram os canais. Tratavam-se de longos túneis subterrâneos que afloravam o lençol freático e conduziam água potável à superfície.

Polders Holandeses - São talvez o mais sofisticado e bem sucedido dos casos aqui analisados, mais uma vez, a construção dos diques e drenagem dos terrenos alagados é uma necessidade para existência do território, e do próprio país. A velocidade de consolidação desse espaço pode parecer surpreendentemente lenta, mas os mais de nove séculos de trabalho nos Países Baixos possibilitou que os polders fossem assimilados culturalmente e desenvolvessem valores estéticos e referenciais para a paisagem.

Canal du Midi - Do século XVII, é uma referência fundamental para a engenharia moderna e para a possibilidade de domínio do Estado sobre seu espaço. Considerado um grande feito para época, o canal não apenas conectou o Mar Mediterrâneo ao Atlântico, como promoveu uma grande alteração dos lugares por onde passa.

Contar a história dessas arquiteturas do território é remontar uma espécie de história secreta, ou ao menos mal contada, dos estabelecimentos humanos. A princípio porque o campo de atuação pode parecer abrangente demais: como o Homem dominou sua terra e como a transformou em habitável? Enquanto construções coletivas, as arquiteturas do território, passam necessariamente pelo âmbito político. A formulação desse pequeno repertório de sete casos ilumina questões relevantes para a formulação dessa ciência do território e do constante trabalho humano de ‘tornar habitável’.

Capítulo 2

Epistemologicamente, esta pesquisa busca a possibilidade de se vislumbrar um embrião científico (que poderia adquirir a forma de uma contribuição propedêutica) de uma arquitetura do território; uma arquitetura dos rios, do solo, da organização espacial de um país, de um continente.

Todos os lugares do mundo já foram, de alguma forma, transformados pelo Homem que os modificou tecnicamente ou, inserindo-os na sua engrenagem, conferiu-lhes significados. Em outras palavras, o mundo se tornou uma cidade e a atividade de construção do espaço territorial pode ser entendida como a construção de todos os lugares. A idéia de uma arquitetura do território lida, antes de tudo, com a noção de que o território deve se tornar habitável e que esta transformação de todos os lugares deve fazer com que o espaço do homem possa ser ocupado, de forma otimizada para cada situação, em cada limite natural e tecnológico.

O domínio do Homem sobre a terra desenvolveu metodologias de trabalho sempre reincidentes ao longo da história. Tratam-se de formas de trabalho tecnológico sobre a terra que permeiam milênios da ocupação humana, e aparecem, por vezes com um aspecto mais complexo e avançado, por vezes com aspecto rudimentar. A existência do Homem no planeta está sempre condicionada à água e a formas de manipulação e uso dela. A organização, portanto, dos Homens no espaço, os estabelecimentos, dependem da possibilidade de obtenção da água, seja em quantidades abundantes ou mínimas para sobrevivência. A construção da terra, do solo, é também uma construção das águas.

Capítulo 3

A transposição do Rio São Francisco é uma das mais importantes intervenções públicas sobre o território realizadas ou sendo realizadas nas últimas décadas no Brasil. Este capítulo é um estudo de caso sobre o projeto, a partir do conceito de arquitetura do território. Mais do que uma pesquisa de uma intervenção contemporânea, o estudo de caso da transposição do Rio São Francisco é uma tentativa de aproximar um conhecimento teórico de uma atividade concreta e atual. Além disso, esta pesquisa deve servir como um alerta sobre os impactos do projeto e a forma de aplicação de dinheiro público na construção do território, destacando os problemas relacionados à geração de energia, à política e distribuição fundiária, à drenagem da terra e ao destino das águas da transposição.

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