O presente trabalho consiste na elaboração de um conjunto habitacional para a Favela Nelson Cruz, no Belenzinho, em São Paulo.
Esta favela situa-se em frente ao novo Parque do Belém, que está sendo implantado no terreno da antiga Febém do Tatuapé, desativada em 2005.
Apesar dos investimentos em melhorias para a área, tanto devido ao novo parque, mas também às previsões de implantação de uma linha de metrô na Av. Celso Garcia, não há nenhum projeto para reurbanização desta favela. Daí a tentativa de se fazer um projeto não só de habitação social, mas de inserção urbana e requalificação de um espaço degradado.
Inicialmente, estudei a história da região do Brás e da extensão da Av. Celso Garcia, assim como o sua evolução ao longo do tempo. Grande parte da ocupação dessa região se deu a partir da avenida, se extendendo à sul, até a linha de trem, e à norte, até o rio Tietê.
Até a construção da Radial Leste, esta via era o principal caminho para a Zona Leste, daí sua importância no contexto urbano. Com a construção da Radial Leste, na década de 60, presominou o transporte de ônibus dessa avenida. Esse trânsito de passagem é o responsável pela degradação da avenida.
Em meio a lojas fechadas e cortiços, existe a favela, cuja ocupação iniciou-se em 1977. Hoje, alcança a marca de 600 moradias, sem abastecimento de água e energia, em área com estrutura e equipamentos públicos em abundância.
O maior desafio para a elaboração do projeto foi suprir a demanda das 600 moradias, pois trata-se de um lote muito estreito e de difícil ocupação. A saída foi verticalizar e adensar.
Outra preocupação no projeto foi a de propor unidades com acessibilidade universal, boas condições de iluminação e ventilação natural, versatilidade na ocupação dos cômodos. Para elaborar este projeto da unidade, me baseei nos estudos do arquiteto português Baptista Coelho, sobre qualidade arquitetônica residencial, que foi fundamental para meu projeto. O arquiteto, além de estudar a configuração interna do espaço, também estuda as relações de vizinhança, os fatores de atratividade de um lugar, acessibilidade, conviviabilidade, etc.
Para desenhar os espaços comuns, tentei utilizar esses conceitos.
O conjunto é constituído por quatro edifícios de 15 andares, com blocos de dois apartamentos servidos por um módulo de circulação vertical. Ao todo são 20 blocos, sendo dois edifícios com 4 blocos, um com 3, e um maior, situado no interior do lote, com 9 blocos. Os blocos foram disposto longitudinalmente ao lote, devido à sua forma, à orientação norte-sul e à criação de uma rua interna, a fim de permitir a permeabilidade do espaço. Essa rua é destinada à circulação de pedestres, porém possibilitando a eventual entrada de veículos de serviço ou em emergências.
Essa rua tem um suave declive, acompanhando o nível da Rua Nelson Cruz, a fim de dar continuidade a este espaço, de ambas as ruas (Celso Garcia e Nelson Cruz) para o interior da quadra.
Foi adotado o uso misto, com a implantação de unidades comerciais voltadas para a rua, de uma escola para ensino fundamental no interior do lote, de espaços para cultos religiosos, a fim de manter as atividades exercidas atualmente, e de um cinema, a fim de resgatar antigas características do bairro, que são os cinemas de rua.
O cinema foi implantado do lado oposto à Av. Celso Garcia, a fim de estimular o percurso pelo meio do lote, pelo comércio e edifícios, seguindo um dos fatores de qualidade de Coelho, que é o desenho do percurso e sua atratividade.
Também aproveitou-se a declividade do terreno, deixando este espaço com pé-direito duplo, e desenhando uma cafeteria quase que flutuante, voltada para a rua interna, com um espelho d’água abaixo da mesma.
A fim de separar este nível do volume das habitações, há um terraço para convivência dos moradores do conjunto, que articula todos os blocos e contém salões para eventos e um grande espaço com piscinas.
Apesar da grande quantidade e variedade de oferta de transporte público, para dar as mesmas condições a todas as unidades, foi criado um subsolo em toda projeção do lote, a fim de abrigar os 600 veículos dos moradores do conjunto. Também no térreo foram criados espaço para abrigo de bicicletas.
Para a concepção volumétrica, me baseei nos prédios modernos de Artigas, como o Louveira, e na modulação dos prédios de Sanovicz e Eduardo de Almeida para os projetos da FormaEspaço.
Nome: Conjunto Habitacional Nelson Cruz
Área do terreno: 18750,41m²
Número de unidades: 600
Área útil da unidade: 82m²
Equipamentos adicionais: escola de ensino fundamental, cinema, salas comerciais.
