Barreiras e Transposições em São Paulo
Luís Pompeo Martins
Luís Antonio Jorge
Este trabalho procura analisar o impacto da infra-estrutura viária no espaço urbano de São Paulo, e, a partir disso, realiza uma proposta de criação de uma rede de bibliotecas para o Mini-Anel viário da cidade de São Paulo e uma proposta arquitetônica de uma biblioteca na ponte Cruzeiro do Sul.
Ao tentar elencar os problemas da cidade, notei que a mobilidade intra-urbana é uma questão-chave, assim como em qualquer grande metrópole ao redor do mundo. No entanto, a escolha dos paulistanos pelo automóvel individual, além de trazer inúmeros problemas de mobilidade para seus habitantes, deixou marcas indeléveis no tecido urbano da cidade. O espaço do automóvel em São Paulo é sagrado. Diversos interesses convergem para que o espaço urbano, antes de tudo, possibilite que os automóveis individuais possam circular livremente pela cidade, mesmo que isso signifique acabar com áreas verdes, reduzir calçadas, poluir o ar, a vista, e os ouvidos.
Primeiramente, o trabalho analisa a história da cidade, desde a chegada dos primeiros automóveis na década de 1920, até os grandes investimentos em infra-estrutura viária da década de 1970, que marcam o tecido urbano da cidade até hoje. Ao longo desse período ocorre uma mudança radical na relação e impacto do sistema viário no tecido urbano e de modo a compreendê-la, foi feita uma comparação entre o viaduto do Chá e a Ponte Estaiada da Marginal Pinheiros.
Como forma de intervenção nesse tipo de urbanismo, surge a proposta de criação de uma rede de bibliotecas públicas ao redor do Mini-Anel Viário de São Paulo, como forma de reorganizar espaços da cidade direcionados, a princípio, exclusivamente ao automóvel. Ao analisar os cruzamentos dos principais eixos radiais da cidade com o Mini-Anel Viário, podemos notar na grande maioria dos casos a ausência de urbanidade e de uma escala mais adequada ao pedestre. De modo a qualificar essas potenciais centralidades da cidade, surge a proposta de se trazer programas públicos para os cruzamentos, além de incentivar o uso desses espaços como ponto de baldeação entre diferentes meios de transporte. O projeto propõe a criação de uma rede de bibliotecas públicas em 15 pontos do Mini-Anel viário. Espera-se que o edifício da biblioteca funcione como elemento conector entre os diferentes espaços segregados pelas vias expressas, além de conectar diferentes meios de transporte. A Biblioteca também se torna uma opção de caminho.
Como conclusão do processo, propus um projeto de arquitetura para a Ponte Cruzeiro do Sul. A proposta consiste em construir um edifício-ponte, contendo uma passagem direta e a biblioteca, conectando dois estacionamentos e um sistema de áreas de lazer. O edifício se monta em volta da ponte existente, criando um novo marco para a região. Ao mesmo tempo em que tenta partir de princípios realistas, o trabalho aponta soluções otimistas para a cidade. Em busca de um melhor espaço urbano, menos segregador e mais includente, destaca-se importância de se incentivar alternativas ao automóvel individual, transformando em opção o que hoje é imposição.
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