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secao 4!

O diálogo entre o antigo e o novo.

Uma Biblioteca no "Fórum Velho"de Botucatu - SP.

Maria Letícia Bassoli Chirinéa

Anália Amorim

O trabalho tem como escopo a intervenção em um edifício histórico e sua adequação a um novo uso. A intervenção será no edifício onde funcionava o antigo Fórum de Botucatu e se deu por meio de levantamento das patologias existentes e proposição de diretrizes de restauro, bem como a elaboração de um projeto do novo bloco para adequá-lo ao uso proposto, uma Biblioteca Municipal.

As diretrizes de restauro foram elaboradas através de levantamento e mapeamento das patologias, visando a compreender as técnicas construtivas utilizadas e as principais causas que levaram aos problemas diagnosticados. Além da restauração, o projeto prevê a ampliação da construção. É com o objetivo de garantir que o edifício receberá um uso compatível com suas características e assim, a devida manutenção, tendo sua vida útil prolongada, que foi proposto nesse trabalho sua adequação para uma Biblioteca Municipal, com a finalidade de suprir as necessidades atuais da Cidade.

Pretende-se, no projeto de ampliação, adotar um partido que concilie o novo edifício e o patrimônio histórico. Uma premissa de projeto foi a busca formal que interfira o mínimo possível na paisagem original do local. A identificação e diferenciação daquilo que é novo e antigo faz-se naturalmente.

O edifício do Fórum Antigo, como é chamado, foi projetado pelo escritório Ramos de Azevedo e tem, assim, um grande valor histórico e arquitetônico.

Desde sua inauguração em fevereiro de 1924, o edifício foi utilizado como fórum e cadeia. Todas as funções eram centralizadas em um único prédio. Após sua interdição pela Defesa Civil, em meados de 2004, o fórum foi descentralizado, passando a separar suas varas em diversos pontos da Cidade. Com a interdição e abandono de suas atividades, o edifício permaneceu fechado e não obteve a manutenção, nem os cuidados necessários. As depredações e pichações são provas do abandono e falta de consciência de algumas pessoas.

O principal objetivo da preservação dos bens arquitetônicos pressupõe que eles sejam apropriados pela sociedade. Talvez a mais importante dessas formas de apropriação seja a capacidade de se atribuir um uso compatível com as características do edifício histórico e também com as necessidades da comunidade. Só mediante o uso é possível preservar artefatos e estruturas arquitetônicas e áreas urbanas. É o uso que reintegra o bem à vida social, impedindo sua degradação: a apropriaçãodo bem pela sociedade. Isso exige a elaboração de um projeto. Projeto que leve em consideração as diversas disciplinas associadas, uma pesquisa histórica bastante detalhada para a total compreensão do edifício, levantando os aspectos a serem preservados e as adaptações necessárias para a compatibilização com o novo uso.

Quanto às diretrizes de projeto, o projeto tem como objetivo aliar questões funcionais ao entendimento das dinâmicas cotidianas já estabelecidas da cidade, bem como trazer à tona o sentido de “bem comum” existente na intervenção. O estudo da escala urbana como problema a ser enfrentado, tanto com relação aos aspectos funcionais quanto aos aspectos memoriais.

O grande desafio do projeto é a tentativa de conciliar a preservação dos testemunhos do passado, de reconhecido valor cultural, atendendo às novas demandas programáticas e simbólicas e às novas tecnologias construtivas, volumetria, implantação, escala, massa, ritmo e cores. No que diz respeito a cada um destes aspectos, a nova arquitetura poderia estabelecer com as preexistências, relações que variam da mais absoluta consonância até a total dissonância. É neste sentido que serão analisadas as relações formais entre as intervenções arquitetônicas e as preexistências edificadas.

Com relação à volumetria, para não entrar em total dissonância com o edifício existente, serão abandonadas formas curvas, respeitando as fachadas verticais planas. Levando em consideração a dicotomia figura/fundo, o volume cilíndrico ou esférico tende a se destacar como uma figura isolada, e os elementos históricos passam a ser visualizados como seu fundo, já que o cilindro e, principalmente, a esfera tendem a se isolar e atuar como volumes independentes. Quanto à implantação do novo edifício, pretende-se contrastá-la com o patrimônio construído. Como este se encontra centralizado na praça, pretende-se alinhar a nova construção com a rua, seguindo as características dos outros imóveis existentes no entorno, porém sem reduzir a visibilidade do antigo prédio. Dado que as construções do entorno são, na maioria, até 2 pavimentos (com exceção de 3 edifícios com 15 andares), não se pretendia ultrapassar o gabarito do edifício do fórum, permanecendo como marco da região, as torres da Catedral da Cidade.

O antigo edifício é construído com paredes autoportantes em alvenaria de tijolo, o que gera uma arquitetura densa e pesada, com predominância dos cheios sobre os vazios, contrastando com a tendência da arquitetura contemporânea que procura ter o menor peso possível, utilizando materiais leves e transparentes. Pretende-se utilizar desses novos materiais e técnica construtiva para criar um edifício com um grau de leveza maior, contrastando com o edifício antigo.

Quanto à fachada, buscaram-se relações de diálogo com o ritmo estabelecido pelo edifício antigo, através da cadência das aberturas de janela, mudança de materiais, cores de acabamentos e pela marcação da estrutura.

Com relação aos novos edifícios, a localização e forma dos novos volumes foi ditada pelo posicionamento do edifício do Fórum e pelas relações com o entorno.

Dessa forma, através de pesquisa bibliográfica tanto das teorias de restauração, quanto de intervenções em sítios históricos, chegou-se ao partido adotado. Consegui-se um uso que ao mesmo tempo em que é compatível com as características do edifício é essencial à população. O restauro, dessa forma, atinge seu objetivo: prolonga a vida útil do edifício na medida em que é apropriado pela sociedade.

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