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secao 4!

Rede de Percursos: permeabilidade na paisagem.

Intervenção no entorno construído do Parque Ecológico do Tietê

Martha Hitner dos Santos

Alexandre Delijaicov

Introdução

Este trabalho é um fragmento que compõe uma discussão feita coletivamente durante o primeiro semestre de TFG junto a outros orientandos do Professor Delijaicov, trabalhos este direcionados à mesma região subordinada à subprefeitura da Penha. O trabalho de Tammy Almeida procurou a criação de uma frente urbana para o Parque Ecológico do Tietê, através da ocupação da faixa ociosa entre a Rodovia Ayrton Senna e a ferrovia; o outro, de Oliver de Luccia, se ocupou com um ensaio sobre navegabilidade dos córregos Água Rasa e Tiquatira, objetivando conexões através de parque linear. O presente trabalho tem o propósito de articular esta nova paisagem que se forma por meio de sugestões de uma rede de percursos a pé pela região.

Conduziu-se uma discussão coletiva de alguns conceitos e de propostas integradas visando à criação de um sistema de intervenções, pois se acredita que isso contribui para a forma e qualidade urbanas, não prevendo intervenções pontuais que acentuariam a desigualdade do desenvolvimento urbano. São as melhorias pontuais promovidas pelo poder público que fazem com que determinadas regiões da cidade sejam alvo de especulação e valorização, aprofundando ainda mais as diferenças urbanas, sociais e econômicas*.

É necessário destacar também que este trabalho não chegará a um nível de projeto pela proporção de escala que ele tomou: ele estabelece diretrizes e sugestões conforme leituras feitas do local. O que se busca é a continuidade da paisagem para o olhar e também para o pedestre e articulação das infra-estruturas - no plano objetivos da arquitetura e do urbanismo - e o estímulo do encontro, da vivência da paisagem urbana e do pertencimento ao lugar, no plano mais subjetivo das questões referentes ao exercício da arquitetura e do urbanismo.

Num primeiro momento, apresentam-se conceituações referentes à paisagem e ao lugar e considerações acerca do crescimento da cidade de São Paulo, necessárias para a consolidação das idéias, juntamente com estudos e referências com os quais se aproximou durante o percurso deste trabalho, que contribuem para a montagem de um quadro teórico de referências.

Logo após, uma proposta de redesenho para a região escolhida, desenvolvida em conjunto com Tammy Almeida, chamado Plano Geral, que propõe uma reorganização do entorno do Parque Ecológico do Tietê, com intuito de incrementar e articular as infraestruturas, a fim de balizar cada trabalho individual.

Conclui-se o caderno com diagnósticos e leituras específicas no que concerne ao Morro da Cangaíba e à rede de percursos a pé, bem como desenhos e croquis com intenções de projeto a fim de criar situações-tipo que pudessem ser reproduzidas em outros lugares com as mesmas características.

O estudo da paisagem

Estudar a paisagem é observá-la, apreendê-la e interpretá-la, de forma a poder propor intervenções. Se a paisagem é uma herança, um testemunho das ações e interações da natureza e do homem - ou a expressão dessas interações ao longo do tempo (ALVAREZ, 2005), logo podemos extrair dela seus conflitos, expressos no âmbito da arquitetura e do urbanismo, na qualidade, forma e configuração de seus espaços.

A paisagem, segundo ALVAREZ, é essa “acumulação dinâmica de produtos e processos sociais e naturais que resultam numa fisionomia percebida pelo observador de um dado instante, possibilitando a descoberta do novo. O novo percebido no cotidiano pode ser identificado como fragmentos ou unidades da paisagem”. Ainda nesse sentido, para Milton Santos, paisagem é o espaço onde ocorre a instância social, isto é, o homem faz parte deste espaço, atua sobre ele e a paisagem nada mais é do que a expressão dessas ações e interações, suscetível sempre a mutações.

São Paulo reflete, pois, na sua paisagem, o conflito dessas interações, seja na ação do vento e das águas que esculpiu o relevo de maneira a configurar os espaços de várzea e de espigões (FRANCO, 2005), como também na ação do homem, individual e coletivamente, que assenta sobre esse relevo sua cidade e estabelece suas relações sociais. O processo ecônomico que proporcionou um perverso e acelerado crescimento da cidade, um desigual desenvolvimento das regiões e a consolidação do veículo sobre rodas como principal opção de mobilidade, acabou por resultar uma paisagem urbana em grande parte degradada e desconexa, favorecendo a constituição de barreiras e desvalorização do espaço público por parte da população.

“Estudar paisagem é, nesse entendimento, estabelecer uma discussão da cultura, de implicações políticas, ou não a perceber como paisagem. Sociedades organizam o território em função de suas necessidades e valores, definindo suas condições de existência. Discutir a paisagem é discutir como nos vimos, como nos vemos, como gostaríamos de ser vistos. É reconhecer, antecipadamente, como seremos vistos como sociedade. Nesse sentido, por vezes, a paisagem incomoda (e muito): evidencia nossas práticas para além dos discursos que a camuflam, questiona valores correntes, aponta para um desejo possível de mudança - o que nos proporciona alguma esperança e faz brotar um sentimento de urgência” (SANDEVILLE, 2005).

Assim, é possível verificar hoje os contrastes existentes na cidade na oferta de infra-estrutura, equipamentos públicos e áreas livres coletivas de qualidade, acentuando, na paisagem, a fragmentação na imagem e na forma da cidade.

A partir dessas observações, este trabalho tratará de perceber potencialidades que a paisagem urbana pode oferecer para recriar conexões, garantir continuidades e oferta de espaços de qualidade, minimizando as interferências das barreiras construídas ao longo do tempo. Se a paisagem, segundo Milton Santos, “é a acumulação desigual no tempo”³, o papel do arquiteto reside na capacidade de articular esses vários tempos - expressos na paisagem por meio de seus pontos de conflito.

“Ler a paisagem é extrair formas de organização do espaço, estruturas, fluxos, tensões, direções e limites, centralidades e periferias”(BESSE, 2006).

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