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secao 4!

Estudo sobre a ilustração no livro infanto-juvenil brasileiro

Michelle Nakazato Mikaro

Clice de Toledo Sanjar Mazzilli

Um mesmo texto permite muitas aproximações e interpretações, e quando uma imagem é produzida, ela carrega um pouco de seu autor, sua visão de mundo e suas experiências.

O estudo das imagens a partir das diversas adaptações e recriações de alguns livros ajuda-nos a compreender as diversas leituras visuais dos textos, possibilitando um melhor conhecimento da produção gráfica e de como se vê a literatura infantil e a criança nos últimos anos.

A escolha do livro infanto-juvenil como objeto de estudo foi feita pela forte interação entre a linguagem escrita e a visual, constituindo um interessante projeto de design. Foram feitos recortes, escolhendo apenas obras cujos autores e ilustradores fossem brasileiros, e livros literários, com texto e ilustrações, excluindo os livros didáticos, pois neles a relação texto-imagem deve ser de representação e descrição do objeto, permitindo poucas interpretações. A época focada é a partir da década de 1970, pois antes dela havia poucas obras de literatura infantil no mercado brasileiro, e menos ainda de autores nacionais. Foi a partir dessa década que alguns desenhistas começaram a buscar uma expressão para as histórias infantis de escritores então iniciantes como Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Sylvia Orthof, Joel Rufino dos Santos.

O principal objetivo deste trabalho é mostrar que diferentes ilustrações passam uma apreensão diferente da mesma história. Também pretende-se refletir sobre como cada ilustração se relaciona com o texto, ou seja, o quanto ela enriquece a leitura e que aspectos novos, reflexivos, lúdicos são apresentados.

Para isso realizou-se uma breve pesquisa sobre a história da ilustração no livro infantil brasileiro, as relações entre ilustração e texto, os elementos da linguagem visual e estudos de caso, escolhendo Livros cujas ilustrações apresentavam diferenças significativas conforme a edição, constituindo bons exemplos para ilustrar o objetivo deste trabalho.

Utilizando os conhecimentos adquiridos durante este período, partiu-se então para a ilustração do livro Mulheres de coragem, de Ruth Rocha. Embora exista uma versão recente, a idéia é propor uma solução diferente para a ilustração desse texto.

A escolha do livro Mulheres de coragem para reformulação ocorreu devido a uma afinidade pessoal com a história e à possibilidade de trabalhar com a linguagem do Art Nouveau, que sempre me interessou.

O caráter heróico das três histórias, somado ao fato de as protagonistas serem personagens femininas, me fizeram pensar no art nouveau, especialmente nas obras de Alphonse Mucha como inspiração principal (Figura 32).

Quis resgatar também as molduras, que eram bastante presentes tanto no art nouveau quanto na arte medieval. Inspirada nas iluminuras, pensei em fazer desenhos de cenas paralelas dentro das molduras, mas ao colocar o texto junto com a imagem percebi que faltaria um respiro para o olhar. Então, optei por uma moldura simples, baseada no livro Saint George and the dragon ilustrado por Trina Schart Hyman (Figura 33).

Foi escolhido o formato horizontal como referência aos murais e afrescos, que foram utilizados para narrar histórias desde o Antigo Egito.

Observando os formatos disponíveis à venda , o escolhido foi 28 X 21 cm, o mesmo utilizado na Coleção Dedinho de Prosa da Editora Cosac Naify. Este formato se encaixa e tem bom aproveitamento nas lâminas de tamanho 87 X 114 cm (Figura 28), que é o formato em que é encontrado o papel escolhido.

Definido o formato, dividi o texto nas páginas de acordo com o desenrolar das cenas e procurei desenhar de acordo com a atmosfera que sentia conforme lia a história. O partido adotado para o desenho foi a monocromia em marrom escuro, com contornos pesados que remetessem ao art nouveau. Para criar mais interesse na imagem e acrescentar uma identidade a cada conto, foi adicionada uma cor mais saturada para destacar algumas partes da ilustração. As referências para essa forma de uso das cores foi o livro Lampião e Lancelote, de Fernando Vilela e as ilustrações que permeiam o livro Pelos Jardins Boboli, de Rui de Oliveira. Optei pelo desenho a lápis e lápis de cor para preservar a textura do papel na ilustração, também inspirada pelos desenhos de Rui de Oliveira. As cores escolhidas foram: azul, representando a nobreza das mulheres que ficaram ao lado de seus maridos; vermelho, representando a bravura de Isabel e a guerra. E o amarelo e o laranja, simbolizando a irreverência de Beatriz.

Devido ao conteúdo da história e ao partido adotado para as ilustrações, optou-se por um papel de cor amarelada e com um pouco de textura, que ajuda a criar a atmosfera de época. O papel ideal seria o Pólen Rustic creme, de gramatura 120g/m2, para que não ocorra problema de transparência. Foi escolhida a encadernação com lombada quadrada, por dar mais visibilidade ao livro nas prateleiras das livrarias. Para acomodar bem o texto e as imagens, e ter o número de páginas suficiente para criar o volume necessário para a encadernação com lombada quadrada, o livro tem 40 páginas.

Com a intenção de escolher um tipo que fosse um pouco como as protagonistas das histórias, que não se encaixam no padrão de mulher da época, optei por um tipo semi serifado, a Optima 12/18pt.

Mantive a separação entre os contos com uma folha de rosto. Nessa folha e na capa foi utilizada uma fonte mais desenhada para compor os títulos. Também pensando nos livros medievais, há uma capitular no início de cada história. A primeira história é mais curta que as outras, mas procurei estendê-la para que seu ritmo fosse mais lento e houvesse tempo de apreciá-la.

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