logofau
logocatfg
secao 4!

Contribuição ao estudo de ambientes terapêuticos –

Hospital de retaguarda Parelheiros Veludo Azul

Ricardo Cesarini Oliveto

Sílvio Soares Macedo

O ambiente asséptico do ponto de vista estético passou a ser reconhecido como sendo hospitalar. Lamentavelmente, “parece hospital” passou a ser a mais desagradável descrição que poderia receber um ambiente. Em pelo menos alguma medida, nossa sociedade tolera esse hospital tão frio porque acredita que ele seja totalmente necessário.

Essa imagem do hospital, compartilhada por grande parte das pessoas, corresponde a um lugar em que projeto das áreas de circulação priorizam os percursos feitos por médicos,enfermeiros, funcionários do apoio logístico, etc. Grandes áreas são restritas ao acesso geral. Esse hospital como um todo é projetado pensando na cura pela ação dos medicamentos, equipamentos e corpo clínico. Não contempla o cotidiano do paciente, nem se aprofunda no o dia a-dia do processo de melhora e recuperação da saúde.

O hospital modernista é a expressão clara do que se entende como processo projetual estritamente funcionalista.(CLEMESHA, 2003)Infelizmente, a imagem desse hospital não é apreciada, nem pelos usuários nem pelos arquitetos em geral. Nas revistas especializadas de arquitetura, o numero de projetos de unidades de saúde é pequeno, particularmente hospitais.

O hospital é um lugar onde grande parte das pessoas não se sente à vontade. Só se vai ao hospital quando estritamente necessário. Claro que isto está associado a uma série experiencias pessoais, mas os profissionais que hoje trabalham na humanização de hospitais já identificam uma série de fatores comuns para este mal estar. O paciente internado no hospital é despido de sua individualidade; sua relação com o hospital é contratual. É um lugar estranho, cujos sinais a maioria das pessoas desconhece. Os pacientes não se identificam com ele, não tem liberdade para percorre-lo, não controlam seu próprio papel dentro dele. Não dominam um território e sim são supervisionados dentro dele.

A ênfase em funcionalidade e eficiência, custos diretos de obras e códigos sanitários produziu edifícios hospitalares com características institucionais de baixíssima complexidade estética e formal que são estressantes ou de alguma forma inadequadas às necessidades psicológicas de pacientes e visitantes. Os ambientes hospitalares são estressantes em geral por serem complexos e nada familiares.

A proposição do ambiente terapêutico ganha fundamentação cientifica na medida em que buscamos em diversas disciplinas, resultados de diversas pesquisas e evidências que demonstram a medida de que, de fato, o ambiente pode oferecer suporte ou impedimentos ao processo de recuperação dos pacientes e ao trabalho dos funcionários do hospital.

O trabalho então pretendeu discutir as premissas básicas na conformação de espaços hospitalares e o resultado atual do processo de projeto desses espaços. Atualmente, não há como negar que a enfermaria e o quarto do hospital, a sala cirúrgica, o laboratório de patologia, os serviços de diagnóstico de imagem, a administração, a equipe medica e o doente são, cada vez mais, universalmente parecidos. Mas não deveriam ser.

Atualmente, o modelo do hospital geral tem sérias deficiências no atendimento de pacientes com prognostico de longa permanência ou cuidados continuados. Essas deficiências, em grande parte poderiam ser explicadas pela desconsideração do cotidiano do hospital. O espaço do hospital tem que permitir (e por vezes estimular) que o paciente, cuidador/acompanhante e visitantes possam apropriar-se dos espaços, estabelecer redes sociais e reestruturar, na medida do possível uma rotina. Por exemplo, alguns indicadores de saúde da rede de atendimento ao idoso (que figuram como faixa etária de maior porcentagem - mas não o único - em casos de longas internações) mostram que esse tipo de atendimento é o mais custoso e infelizmente, o de pior qualidade.

O atendimento nos hospitais gerais é ainda extremamente focado no tratamento clínico propriamente dito, sem considerar as fases iniciais de prevenção e as mais avançadas de cuidados paliativos.

Propôs-se então um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS) de longa permanência que reúne o atendimento de reabilitação, de doenças crônicas e tratamentos experimentais. A instituição de longa permanência é uma denominação dada a unidades de atendimento a pacientes que necessitam de grandes períodos de reabilitação ou por vezes, sem perspectiva de cura. O atendimento dessas unidades é de grande importância na diminuição da demanda dos hospitais gerais, que pela sua conformação espacial, prestam um atendimento melhor outros tipos de pacientes. Outro nome poderia ser hospital de retaguarda.

A característica mais importante deste tipo de instituição é a manter a percepção da abordagem clínica como sendo importante, mas não a única. O objetivo não é o de enfrentar ou negar a morte, mas de assistir pessoas que se encontram neste processo natural.

Pretendeu-se projetar um ambiente mais simples, menos orientado para tratamento medicamentoso, com pouca ou nenhum vestígio de institucionalização. Ensaiar situações que não priorizem a tecnologia médica.

Diretrizes de programa a partir dessas constatações:
• Aumentar e qualificar espaços de vivência nas diversas escalas do hospital
• No quarto de internação, para o cuidador, familiares e visitantes
• Na unidade de internação, para a equipe de saúde
• No setor de processamento de materiais
• Na espera de UTI, para amigos e familiares
• Na área de pesquisa
• Garantir acesso as 3 comunidades: cientifica, local e familiares/visitantes
• Menor impacto possível no sítio natural
• Reintroduzir o elemento vegetação sempre que possível

Conclui-se finalmente, que o projeto do estabelecimento de saúde (ou hospital) pode ter como ponto de partida alternativo aos modelos normativos o conjunto de dados da experiência concreta do usuário, e se lançar para soluções mais experimentais. É um tema que poderia ser muito mais discutido do que é hoje.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo