O presente Trabalho Final de Graduação tem como objetivo a proposição de um design habitacional, a partir do estudo da casa tradicional japonesa.
A proposta teve início com um intercâmbio realizado em 2007 na cidade de Yamaguchi – Japão. Este intercâmbio com duração de 6 meses, consistiu em um estágio no escritório de arquitetura Imai, que projeta seguindo o estilo tradicional japonês. A partir dessa experiência surgiu a vontade de prosseguir e aprofundar a investigação dessa arquitetura tradicional e extremamente rica, tomando essa pesquisa como base para o trabalho final de graduação. Desde o início contudo, a intenção não era apenas a pesquisa teórica da arquitetura japonesa, e sim apropriar-se dessa visão projetual e interpreta-la em uma proposição, um objeto.
No ocidente, a arquitetura clássica grega segue proporções áureas para a construção. Os templos que resistiram ao tempo, são documentos que provam o refinamento na concepção do projeto. Mesmo tendo restado apenas alguns vestígios de obras tão magníficas é possível observar nestas ruínas uma grande harmonia estética.
Ao analisarmos a casa japonesa tem-se a mesma sensação de harmonia, tanto na estética, no olhar, quanto ao vivenciar os espaços. Há uma simplicidade nas formas, uma ausência de adornos, uma edificação projetada para contemplar o exterior.E é nisso onde reside uma das principais diferenças da arquitetura ocidental. Ainda que existam suntuosos templos e castelos, todos seguem os mesmos princípios. Ao longo dos tempos, pelas dificuldades impostas pelo meio e pelos próprios homens, a residência desenvolveu uma ordem tão harmônica quanto as ordens clássicas, uma ordem popular, que não se restringe as grandes obras suntuosas.
Tal ordem na construção japonesa se dá principalmente em sua simplicidade: o uso de materiais naturais, emprego de técnicas artesanais e a articulação das propriedades de cada material. Outro elemento importante, é o uso da medida humana como base para uma modulação, que apesar de apresentar certa diferença nas medidas, fornece suporte para a construção.
Partindo desse princípio, que a casa japonesa atende ao japonês, a proposta é estudar as soluções formais, e projetar uma habitação em um contexto totalmente diferenciado, o brasileiro. O protótipo experimental tem como objetivo o estudo das conformações espaciais, bem como o emprego de uma técnica construtiva altenativa.
A habitação sempre foi tema recorrente no campo da arquitetura. A revolução industrial que teve início em meados do século XVIII será um dos fatores mais determinantes na história contemporânea. As relações que nascem das fábricas, alteraram não apenas o modo de produção, mas a forma como se organizam os núcleos familiares.Esse modelo de família nuclear, que se consagrou no século XIX, vai novamente se transformando em uma dinâmica cada vez mais veloz. No Brasil esta perspectiva não poderia ser diferente. Marcelo Tramontando defende que “Basta notar a família nuclear convencional, que vem perdendo espaço no total de grupos domésticos do país. De modelo absolutamente dominante até os anos 1960, sua participação vem caindo e chega atualmente a pouco mais de 60% dos grupos. Além de a própria família nuclear já não ser mais a mesma, já que as relações entre seus membros têm se modificado profundamente, ocorre também que os mais de 30% restantes não se refe-rem a um único formato familiar, mas a uma grande e crescente variedade de arranjos cada vez mais aceitos socialmente.”
Diante desses novos paradigmas, vê se cada vez mais urgente pensar novas espacialidades para esse novo modo de vida. De modo geral, os conceitos que continuam norteando a configuração dos espaços hoje são a antiga casa burguesa ou as concepções trazidas pelo movimento moderno europeu durante a primeira metade do século XX. Não apenas quando se trata da espacialidade, mas também, ao observarmos os métodos construtivos que ainda seguem em geral técnicas como alvenaria de tijolo, ou mesmo outras técnicas vernaculares, sem uma melhora substancial no desempenho.
Se fosse necessário resumir uma das principais características da casa japonesa, esta sem dúvida seria flexibilidade. Flexibilidade para ampliar e reduzir cômodos além de agregar multiplas funções, na circulação e manutenção da casa.
O conceito espacial do projeto proposto, toma como ponto de partida a necessidade de promover ambientes mutáveis dependendo da necessidade do usuário que, como já foi dito, tem um perfil cada vez mais variável. Partindo dessa premissa, a primeira questão colocada foi, qual então seria a área mínima para uma habitação nos parâmetros nacionais? Como resultado final, a partir do estudos das áreas mínimas, chegou-se ao módulo 01. O projeto apresenta como proposta a possibilidade de anexar módulos a estrutura principal - módulo 01 - através de encaixes, de forma relativamente simples.
O módulo 02 e 03 possuem a mesma área (9,6m²) e permitem ao usuário expandir ou retrair a casa conforme necessidade. Podem ser conectados ao módulo principal tanto um ou os dois módulos simultaneamente.
Tomando como princípio a casa japonesa, desde o início a idéia foi explorar o uso da madeira, visto que tal técnica permite grande adaptabilidade, e no Brasil de modo geral, é uma técnica pouco utilizada . Duas premissas se mostraram muito claras: a necessidade de pré-fabricação dos elementos construtivos, para uma projeto mais racional e de fácil construção e o uso das dimensões de produtos já industrializados como base para modulação.
O trabalho apresentado é um exercício de reflexão sobre formas alternativas de espacialidade e de construção. Pensar em um canteiro mais racional requer que todo o sistema construtivo seja otimizado e pensando em conjunto, para evitar falhas e desperdícios. Tomar como base o design da casa japonesa, permitiu refletir sobre as técnicas construtivas, mas além do canteiro: uma outra forma de pensar o projeto, os espaços e o significado desses espaços.
