Desde o princípio a intenção foi propor um projeto residencial de baixa densidade; trabalhar a escala da casa. Somou-se a isso a curiosidade pessoal pelo caráter construtivo; a vontade de propor um desenho consciente dos meios que o fazem possível.
Para moldar o que de fato seria este projeto, assim como fazer a escolha adequada do sistema construtivo, mostrou-se necessário entender a que tipo de condições estaria sujeito. Por não haver um proprietário definido, ficou estabelecido que o cliente seria o mercado imobiliário. Por questões práticas, escolhi trabalhar na cidade de São Paulo.
Resolvi tomar como partido a contraposição entre a baixa densidade da proposta e a alta densidade existente na maior parte do município. Após encontrar algumas referências interessantes de projeto, pensei que uma boa forma de trabalhar essa divergência de densidades seria explorar um lote de miolo de quadra. Um outro ponto que justifica a escolha específica desse tipo de lote é a dificuldade de se construir um prédio nessas condições. Com isso em mente, o projeto já toma outra forma; a casa dá lugar a um pequeno conjunto de casas.
Dos poucos terrenos disponíveis com as características desejadas, o que se mostrou mais coerente fica na região dos Jardins, próximo à Av. Paulista e ao Parque Trianon. É o miolo da quadra entre a Al. Ministro Rocha Azevedo, a Al. Franca, a Rua Peixoto Gomide e a Rua José Maria Lisboa. A partir daqui fica traçado o objetivo: projetar um condomínio no miolo de uma quadra nos Jardins, tendo em vista o sistema construtivo a ser empregado.
A quadra, de localização já citada, faz parte da SubPrefeitura de Pinheiros, dentro de uma ZM-3b. Tirando a extensão da rampa de acesso, que tem origem na Al Franca, o lote tem 24 x 40m totalizando 960m². Segundo a legislação vigente, é possível construir entre 192 e 1920m², desde que respeitados os 480m² de ocupação máxima e os 144m² de área permeável.
Com exceção de uma construção baixa localizada na R. Peixoto Gomide, todo o restante da quadra está ocupado por prédios de 13 a 23 andares. A divisa com os lotes vizinhos é marcada por alguns muros altos e grades, no entanto o corpo das edificações altas respeita o mínimo de 3m de afastamento.
O terreno em si possui alguma vegetação mas está quase todo livre, salvo por uma construção residencial, em estado precário de conservação. Apesar da altura dos prédios, a partir de estudos feitos com modelo virtual, foi possível ver que mesmo na situação mais complicada do sol de inverno, ainda há uma boa incidência de sol nas “fachadas” voltadas para noroeste.
A definição do sistema construtivo não é como o lote ou o programa que podem ser escolhidos arbitrariamente. Cada tipo de material tem um determinado desempenho numa determinada condição, sendo mais ou menos adequado em diferentes situações.
No caso específico do projeto em questão, sabendo de limitantes como, por exemplo, a dificuldade de acesso ao lote (5m de largura numa rampa bastante íngrime), o pequeno porte dos vãos e da edificação em geral, e sua localização/região onde se encontra na cidade, já é possível avaliar que tipo de material pode ser mais adequado e eliminar as possibilidades cuja execução é inviável sob as condições existentes.
Pesquisei de forma geral uma série de sistemas disponíveis e montei um método simples de comparação para poder chegar a uma decisão contundente. Ordenei as informações sob algumas caracteríscas, mais ou menos importantes para as condições em questão.
Essa organização resultou numa tabela, que lista critérios, e destaca os que, neste caso, merecem atenção particular. Dessa forma, a partir da interpretação das informações coletados durante a pesquisa, foi possível avaliar comparativamente o desempenho de cada sistema listado.
Ao fim da comparação proposta no esquema da tabela, destacam-se três sistemas que, sob os critérios ali colocados, mostram-se equivalentemente adequados: alvenaria estrutural, steel frame e wood frame. Escolhi steel frame por se tratar de um sistema diferente, ainda pouco utilizado no país; resolvi aproveitar a oportunidade para aprender e entender melhor seu funcionamento.
A estrutura de steel frame tem como padrão espaçamentos entre os perfis estruturais 40cm ou 60cm. Frente a isso, estabeleci uma malha de 1,20x1,20m na qual caberiam ambas possibilidades.
Sendo 960m² a área total e o C.A. básico = 2, me propus a construir uma vez a área do terreno, respeitando a T.O. de 50%, o que implica em no mínimo 2 pavimentos.
Como a incidência solar é comprometida pelo prédios em volta, evitar a concentração de várias unidades em um único volume diminue a criação de zonas internas de sombreamento total. Assim, espaçar as unidades, mesmo que não isolando uma a uma, é uma forma de minimizar essa condição.
Após estudar a volumetria, para trabalhá-la junto ao relevo (na menor dimensão do terreno há um declive de praticamente 5m), a solução foi planificar em 2 níveis com diferença equivalente a 2 pés direitos. Um deles seria destinado a garagem, fazendo com que o térreo se desenvolvesse em 2 níveis com diferença de um pé direito.
A proposta final foram 3 volumes lineares com 6m de largura, espaçados também por 6m, com alturas entre 2 e 3 pavimentos. São 7 unidades, 5 tipologias diferentes e dois tamanhos: 110m² e 145m².
Em termos construtivos, as paredes são compostas pela estrutura em perfis de aço galvanizado, placas de fechamento externo em osb e interno em drywall. O meio recebe isolamento e possue espaço para passagem de tubulações de elétrica e hidráulica. A parte externa recebe um tratamento anti água e vento que pode ser uma lâmina plástica abaixo da massa de revestimento da fachada ou um componente integrado na própria massa. A estrutura da laje é similar, só que pela solicitação estrutural, os perfis e placas são mais espessos. No caso das coberturas, o osb pode receber diretamente a camada impermeabilizante.
