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secao 4!

Reconversão e Retrofit:

Patrimônio Industrial da Mooca

Débora Mayumi Torii

Norberto Corrêa da Silva Moura

O presente trabalho é resultado de pesquisa e reflexões a respeito de três temas principais e seus desdobramentos: tecnologia da arquitetura, retrofit e conservação/ reutilização do patrimônio histórico.

A proposta do projeto aqui apresentado pode ser resumida como uma intervenção e reconversão de uso aplicada a um edifício pertencente ao patrimônio industrial de São Paulo, com enfoque nas questões de preservação patrimonial, atualização arquitetônica e tecnológica e eficiência energética – através da otimização do funcionamento da edificação.

A edificação escolhida para o presente projeto foi selecionada por ser uma construção subutilizada, que apresenta certo valor patrimonial (justificando sua manutenção e não demolição) e que permite alguma liberdade projetual, tanto para possibilitar a implantação de novos usos, quanto para que a sua arquitetura possa ser modificada, de forma a tornar possível o uso das tecnologias passivas. As¬sim houve o primeiro contato com a idéia de patrimônio industrial, já que edifícios subutilizados (até mesmo abandonados) com esta tipologia podem ser facilmente encontrados e sua planta mais livre permite que sejam propostos diversos partidos de projeto e maior liberdade para intervenções arquitetônicas. Foi escolhido o edifício da antiga Cooperativa dos funcionários do Banco do Brasil, localizado na Mooca, devido também ao seu belo aspecto visual, diferenciado dos galpões industriais comuns.

Sem dúvida alguma, as primeiras impressões causadas ao se ter contato com a forma e a história do antigo edifício da Cooperativa são de surpresa, num bom sentido, com relação à peculiaridade de seus traços. Os galpões se destacam na paisagem por sua beleza e elegância, que em nada remetem ao modelo tradicional de fachada de edifícios industriais. Esta impressão somada à descaracterização natural sofrida pela edificação em decorrência da (não adequadamente projetada) mudança de uso pela qual passou, traz quase que imediatamente um princípio que guiou toda a concepção do projeto: a busca por uma recuperação, não da forma, mas sim do caráter industrial original do edifício. A partir desta diretriz surgem diversas ramificações, sendo a principal delas a necessidade de permitir ao usuário que possa entender e apreender o espaço do edifício como um todo, conhecer a dimensão do local que está visitando, sentir de alguma forma o impacto causado pela monumentalidade imposta pelo prédio. E isso até já pode ser observado horizontalmente, pela ampla conexão interna existente entre os galpões. Mas o mesmo não ocorre no sentido vertical, pois a laje fechada e maciça que divide os dois pavimentos dos volumes centrais faz com que se esqueça que aquele espaço se prolonga também para cima. Desta forma, a proposta de intervenção mais ousada é a remoção de grande parte da laje do pavimento superior, de modo a conformar uma expressiva abertura central, que traz mais leveza ao espaço, tornando único novamente de forma imediata e eficiente. No andar superior, esta abertura central faz com que as lajes remanescentes nas laterais, deixadas para permitir a circulação dos visitantes, ganhem caráter de passarelas. Mas sua largura permite, ainda assim, que funcionem também como varandas de onde se pode observar o que acontece no andar de baixo – onde podem ocorrer inclusive shows e apresentações, por exemplo.

A arquitetura e a inserção urbana do edifício utilizado como objeto do projeto, bem como a mudança de uso que se decidiu ali instaurar, geraram diversos outros desdobramentos ao trabalho, cujo aprofundamento foi inevitável. A escolha de uma edificação existente demandava que fossem realizadas diversas visitas, medições e análises para que fossem compreendidas sua configuração e situação atuais. Além disso, devido ao tombamento do prédio escolhido, o entendimento de questões a respeito de patrimônio tornou-se essencial, assim como um estudo da região em que se insere o edifício, de forma a embasar o uso a ser proposto no novo projeto. Esta determinação de uso, que desde o início enveredou-se para fins culturais, também demandou alguma pesquisa para a constituição de um programa de uso e entendimento de seu funcionamento. Estas novas questões, que por um lado ampliaram o foco do trabalho – o que poderia torna-lo confuso e disperso –, trouxeram à tona assuntos de grande importância e interesse que, devidamente conectados e posicionados na linha de raciocínio do projeto, permitiram seu maior aprofundamento e tornaram-no mais completo.

O objeto final, portanto, vai além da proposta inicial – que surgiu de uma vontade de explorar a renovação tecnológica de uma edificação – ao lidar com um edíficio remanescente do período de industrialização da cidade de São Paulo. Desta forma, não se pode propor qualquer intervenção sem que haja antes alguma reflexão a respeito do que e por que preser¬var e de que forma alterar o uso e os sistemas da edificação sem desrespeitar seu caráter e valor estético e histórico, ainda mais em se tratando de um edifício industrial, cuja definição como patrimônio envolve diversas peculiaridades. Deve-se levar em conta também que o retrofit proposto – neste trabalho sendo apresentado com enfoque na reconversão – não irá apenas reabilitar a construção para sua conservação, visando também adapta-la a um novo uso, o que se reflete em modificações construtivas e principalmente funcionais.

Quanto ao projeto especificamente, considerando as restrições impostas pela situação existente, bem como as novas exigências trazidas pela mudança de uso, procurou-se alcançar uma compatibilidade funcional e construtiva entre o novo programa de necessidades e a disponibilidade que oferece o existente, utilizando soluções em prol de uma maior eficiência energética e sem ignorar as questões pertinentes ao patrimônio.

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