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secao 4!

Restauro do Moderno:

Teoria + Prática

Karina Terumi Kodaira

Mônica Junqueira de Camargo

O tema escolhido busca entrelaçar algumas questões estudadas ao longo do curso como a arquitetura moderna brasileira e a forma como entendemos, tutelamos e intervimos no nosso patrimônio.

A opção pelo patrimônio moderno se deu não apenas pela sua importância material, mas também pelo seu papel na formação da história da arquitetura brasileira. História esta que corre o risco de ser apagada ou mesmo reescrita não só pelo crescente grau de deterioramento, abandono e descaso que a maioria dos seus exemplares vem sofrendo como também pela forma que vem se direcionando os tratamentos destes problemas.

Apesar disto não ser recorrente apenas as obras de cunho moderno, pois atinge também a grande maioria das obras arquitetônicas de reconhecido valor cultural, julgou-se necessário estudar o patrimônio moderno devido a sua relativa proximidade temporal com o observador e a incompreensão deste – leigo ou estudioso do assunto – em relação a sua importância não só como um documento de uma forma de pensar e fazer arquitetura como também sendo um testemunho da passagem do tempo. Para tanto se optou pelo estudo do patrimônio da arquitetura moderna paulista através da análise de um exemplar desta: a Garagem de Barcos para o Santapaula Iateclube de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (1961 – 1963).

Quando se passa para o campo do restauro, apesar deste possuir um extenso documental teórico – que se desenvolveu ao longo dos séculos através de formulações teóricas e experiências práticas sistemáticas – capaz de responder aos problemas colocados, o que se verifica na prática é uma total falta de coerência na forma de intervenção no patrimônio que muitas vezes renega a teoria e parte para tipos de abordagem que acabam por descaracterizar aquilo que se pretendia preservar.

Antes de entrar no projeto de restauro foi realizado alguns estudos parar entender o tema por completo: retrospecto das teorias de restauro e seus desdobramentos atuais; a forma como foi criado o organismo público de proteção ao patrimônio no Brasil e como isto influi hoje na maneira como tutelamos e intervimos nos nossos bens; análise de alguns casos de intervenção no patrimônio moderno (Casa da Rua Santa Cruz, Teatro Cultura Artística, Casa Olga Baeta) e dos principais desafios para a restauração do patrimônio arquitetônico moderno.

A seguir elaborou-se um projeto de restauro para a Garagem de Barcos que certamente sofrerá alterações quando se passar ao canteiro de obras e as análises de campo forem feitas – por se tratar de um trabalho acadêmico essas investigações não puderam ser realizadas. Essas limitações, no entanto não invalidam de forma alguma o projeto de restauro posto que ele deriva do conhecimento do monumento tanto nas suas características físicas como na sua história. Não se pode esquecer que mesmo um projeto “novo” é passível de mudanças no transcorrer da obra e, portanto também tem suas limitações. O projeto de restauro então serve como guia para as ações a serem realizadas respeitando antes de tudo o monumento.

O que se pretende com este trabalho na verdade não é colocar a teoria contra a prática, mas mostrar como estas podem e devem estar aliadas. O estudo analítico da obra para que se formule uma proposta correta de intervenção livre de arbitrariedades e juízos pessoais deve compreender elementos históricos, artísticos e estáticos – construtivos que não devem jamais ser pensados de forma separada, mas que por força da didática coloca-se desta forma:
- Estudo do manufaturado no seu complexo, no seu particular, na sua relação com o meio ambiente, na sua atual consistência, nos aspectos perdidos ou que jamais foram realizados e no confronto com os monumentos a ele coexistentes.
- Recolhimento de dados:elementos intrínsecos – leitura do edifício, análise da estrutura e levantamento; elementos extrínsecos – literatura, documentação gráfica retrospectiva, manuscritos e documentos.
- Elaboração de dados escritos e gráficos: enquadramento territorial / cartografia; levantamento crítico descritivo, métrico arquitetônico e fotográfico; carta temática – análise dos materiais empregados na construção, das alterações e manifestações de degradação, das fases construtivas, do quadro de fissuras, entre outros.

Apesar do trabalho ter sido restrito pela impossibilidade de realizar as análises verificou-se que o projeto de restauro pode, e deve, ser pensado em conjunto com as teorias. Trata-se de trabalhar com princípios e não com regras fixas. Portanto criar uma estrada alternativa para o restauro da arquitetura moderna seria fechar os horizontes e isto de forma alguma é desejável. Por outro lado é verdade que um esforço maior é exigido no tratamento destas manufaturas, pois ainda não dominamos suficientemente o comportamento destes materiais. Vale lembrar que as teorias correntes não são imutáveis e num futuro os parâmetros podem ser mudados, mas isto não nos exime da responsabilidade da preservação dos bens culturais de forma coerente.

Hoje, infelizmente, são muito recorrentes intervenções em bens culturais que não respeitam o valor histórico, a configuração, os aspectos memoriais e as especificidades e características materiais da obra e que ainda assim reclamam para si o “rótulo” de restauro. Muitas vezes se valem de “trechos” das teorias (nas suas mais variadas vertentes e definições) para justificar uma ou outra ação, mas por serem levianamente “emprestados” acabam por deturpar as teorias segundo as suas conveniências. Estas ações são ditadas por razões pragmáticas e por uma tentativa apressada de dar uma resposta aos monumentos tornando-os “novos em folha” sem nenhum embasamento teórico concreto.

O apelo que se faz é que a teoria e a prática sejam somadas e não colocadas em oposição. Pois de nada adianta termos princípios para as ações de restauro qualificadamente definidos se na prática eles não são aplicados. O que nos interessa é o usufruto pela nossa sociedade desse patrimônio e também a transmissão destes – da forma mais íntegra possível sem desconsiderar suas transformações – para as gerações futuras.

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