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secao 4!

Respeitável Público:

Projeto de Reativação da Praça Franklin Roosevelt na Cidade de São Paulo

Luís Felipe Abbud

Alexandre Delijaicov

APRESENTAÇÃO

"De certo modo, as cidades hoje são tão incontroláveis, e de tal forma para além do controle, em primeiro lugar, de autoridades. Há uma enorme parcela de envolvimento dos empreendedores, que tm suas próprias agendas. Eu penso que o arquiteto é realmente o último que conseguiria mesmo afirmar: 'Eu gostaria de mudar isso'. Nesse sentido é que nós tentamos aprender com a cidade e com a forma com a qual ela se desenvolve na tentativa de enxergar se em algum modo nossa profissão possa ser relevante diante desse fogo cruzado" - Rem Koolhaas

Durante meus sete anos de estudo de arquitetura e urbanismo, não faltavam argumentos que me fizessem entender que a cidade de São Paulo, composta por uma sociedade que vive determinada por suas diversas condições socioeconômicas, físico-espaciais e temporais, é extremamente carente em espaços públicos. Mais do que isso, sua população, por mais heterognia que seja, se mostra de maneira geral cada vez mais imersa em uma lógica de reclusão social, consequentemente reduzindo a cidade à paisagem que demarca o espaço de seu trânsito sem que se perceba a enorme potencialidade existente para utilização deste espaço com atividades das mais possíveis e variadas.

Ao mesmo tempo em que São Paulo é o resultado de um planejamento cujos agentes entendem espaço público como sinônimo de espaço da infra-estrutura de transportes, o projeto de infra-estrutura urbana muito raramente se estende até sua qualificação para utilização do pedestre. Como consequncia disso, a extensa e complexa cincia da arquitetura do espaço, da forma e da funão enquanto configuradora e organizadora do meio ambiente para realização da vida humana, se mostra cada vez mais insignificante e incompreendida diante do modo em que a cidade se desenvolve.

A partir dessas preocupaões iniciais, procurou-se usar da oportunidade de realização deste trabalho para uma investigação teórica que levasse a um melhor entendimento do conceito de público, e que pudesse ser complementado por um exercício de verificação da possibilidade de resposta projetual para as questões elencadas como pertinentes no contexto específico da cidade de São Paulo.

A reflexão teórica levantou uma quantidade suficiente de questões para elaboração de um projeto configurador um espaço público na cidade de São Paulo, levando em consideração os fenômenos da construão da identidade cultural dos usuários do contexto a ser projetado, enquanto personagens componentes de uma massa heterogenia. Tal proposta se embasou na minha percepão pessoal de que os projetos de arquitetura desenvolvidos nessa cidade segundo a mesma lógica ou intenão tendem a tratar o futuro público usuário do espaço projetado de maneira genérica enquanto uma massa anônima culturalmente neutra, pode-se dizer, praticamente reduzidos a escalas humanas transeuntes, deixando em segundo plano a riqueza de suas identidades culturais e os respectivos hábitos que derivam destas e as caracterizam.

Desta forma, o ponto de partida da proposta deste trabalho é a defesa da idéia de que a complexidade do projeto de arquitetura deva ser proporcional ao teor da própria cultura, a ser compreendida e absorvida de maneira realística e inclusiva.

Para tanto, o partido conceitual almejou a identificação de um contexto em meio à cidade de São Paulo utilizado por um público usuário estabelecido que representasse uma quantidade abrangente de identidades culturais coexistentes e que carecessem de uma atitude projetual preocupada em compreend-las e interrelacioná-las. Uma vez encontrado esse contexto, poderia se partir para a etapa projetual, esta sim, preocupada em conceber um edifício que funcione como um catalisador de atividades públicas, visando proporcionar um cenário que estrategicamente não resulte na futura exclusão de usuários histórica e culturalmente estabelecidos, e que seja igualmente aberto e relacionado com a rede de espaços e edifícios públicos já existentes da cidade.

A PRAçA FRANKLIN ROOSEVELT - CONTEXTUALIZAÇÃO FíSICA E ESPACIAL

A pesquisa realizada sobre o histórico da Praça Roosevelt mostra que esta teve usos variados ao longo do tempo, mesmo que não fosse um espaço planejado. No início do século XX tinha seu uso relacionado a práticas esportivas quando abrigou o Velódromo de São Paulo, onde se encontrava um campo de futebol. O velódromo foi desapropriado em 1950 para dar espaço à Rua Nestor Pestana, provavelmente quando a praça ganhou o formato do quarteirão de sua implantação atual, e foi asfaltada na década de 1960 passando a funcionar como um grande estacionamento que abrigava uma feira livre às quartas-feiras e sábados. O No final da década de 1960, a Praça sofreu uma reforma como parte de um projeto de implementação da extensa obra de infra-estrutura de transporte rodoviário, conectando em seu subterrâneo o fluxo viário provindo do Elevado Costa e Silva e da Avenida Radial Leste-Oeste. O tempo mostrou que essa praça apresenta mais barreiras do que proporciona conexões diretas e desimpedidas para pedestres que queiram realizar o trajeto em direão da Rua da Consolação para a Rua Augusta, se mostrando desastroso enquanto iniciativa de transformar a condião de vazio urbano não planejado do local em praça pública com um desenho ordenado que proporcionasse o estabelecimento de atividades humanas.

AS PERSONAGENS DA PRAçA ROOSEVELT

" Todas as contradições do Centro de São Paulo continuam na Praça Roosevelt, é uma mentira pensar que não." - Rodolfo Garcia Vasquez, diretor do Grupo de Teatro Os Satyros

A Praça Roosevelt traz uma rica variedade de personagens que gravita em seu entorno, mais ou menos próximo dela, cada qual com um perfil distinto e fortemente identificável, mas com grande potencial de inter-relacionamento. Diante disso, é fascinante perceber que o fenômeno da atividade humana conseguiu sobreviver às falhas arquitetônicas do projeto de 1970, estabelecendo e reinventando seus próprios usos. Diante disso, registrou-se na praça a presena de grupos culturais distintos, cujas interpretação das especificidades do uso do espaço praça possibilitou a formulação dos programas a serem nela instalados.

ESTRATÉGIA DE PROJETO

De modo a evitar a frequente atitude de gradeamento das tentativas da arquitetura paulista de proporcionar espaços livres e abertos para a cidade, o projeto foi concebido de forma a garantir que o volume do edifício pudesse ser transformado em um uma superfície pública, de modo a permanecer livre para seu uso independente do encerramento das atividades realizadas no interior do edifício. Essa manobra com a forma bruta do edifício visa ainda estimular resultados espaciais inusitados que representam possibilidades desafiadoras de organização do espaço interno de sua ocupação, não segundo a lógica de otimização racional quantitativa do espaço de atividades, mas sim poética e qualitiativa.

A PRAçA PLíNIO MARCOS

Os programas da praça foram concebidos com o propósito de unir a heterogeneidade de seu público frequentador e dos programas do seu entorno e inter-relacionar seus diferentes usuários de modo que as atividades características de um possam influenciar no comportamento do outro mutuamente, aumentando o potencial de harmonização de suas convivncias ao invés do isolamento em grupos culturalmente distintos. A localização desses programas, bem como a das principais aberturas da praça visou a integração direta com os eixos da cidade.

A formalização de uma estrutura que integre o uso misto já existente no contexto urbano que gravita em torno do espaço da Praça e evidencie o caráter público e convidativo para atrair pessoas de diversas procedncias culturais. Um edifício-praça cuja estrutura possa ser utilizável 24 horas por dia independente do funcionamento do programa, uma vez que a vida noturna é uma característica essencial desse contexto específico.

A estratégia de preservação e estímulo ao exercício do desempenho espacial de atividades coletivas no espaço urbano visa conjugar ainda a organização física do projeto com a elaboração de uma estrutura política gestora para proteger as intenões projetuais. Propõe-se que a praça seja gerida por um conselho composto por representantes de cada um dos grupos culturais distintos, especificamente pelos agentes promotores desses programas correspondentes à estrutura particular de cada um deles, mas eleitos pelo público usuário como um todo, ocupando o cargo administrativo mais elevado da praça com um mandato de tempo curto o suficiente para promover atividades relacionadas a sua classe e manter uma rotatividade contínua e sequencial dos demais membros do conselho. Busca-se desse modo manter um diálogo saudável e contínuo entre os diferentes grupos culturais, bem como estimular o exercício da atividade política ativa de cada um dos usuários: seja minimamente em relação à praça, seja para além dela enquanto esses se perceberem cidadãos.

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