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secao 4!

Equipamento de apoio ao turismo popular

Marina Arantes Lessa

Fabio Mariz Gonçalves

Justificativa/ Problemática

Assim como no município de São Sebastião, a ocupação da maioria das praias paulistas foi feita para favorecer o sonho das pessoas que queriam ter a chamada “casa de veraneio”. No entanto, esse tipo de crescimento apenas reforça as especulações imobiliárias e ocupações desordenadas. Os altos estratos da classe média e a classe alta formam um mercado potencialmente importante na aquisição desse tipo de imóvel. Assim, a partir da década de sessenta, ocorre grande surto de crescimento de “segundas residências”, formando-se uma ocupação maciça da orla litorânea paulista com a multiplicação dos edifícios de apartamentos de praia. Esta busca pelo litoral contribui para o aumento da apropriação precária deste espaço, isso porque as cidades litorâneas ficam repletas de imóveis ociosos que permanecem fechados durante grande parte do ano e cujos proprietários não têm qualquer envolvimento sócio-político com a região. Os reflexos disso são o surgimento de bairros dormitórios, o aumento da violência, a degradação ambiental, entre outros. Os que não têm condições de comprar uma segunda residência ou que preferem não ter um destino único em seus momentos de lazer acabam optando pelo chamado turismo de um dia, incentivado pelo tempo cada vez menor para se chegar ao litoral devido à implantação de novas rodovias. No entanto, a falta de infra-estrutura para atender a demanda desse tipo de turista, faz com que eles sejam frequentemente alvos de preconceito, chamados pejorativamente de “farofeiros”. De acordo com o jornalista Eduardo Nunomura em reportagem do Jornal O Estado de São Paulo, para muitos políticos e empresários preocupados com o crescimento desordenado das cidades do litoral paulista, as cidades litorâneas devem repensar suas perspectivas de crescimento econômico. A velha mentalidade de trabalhar com o potencial turístico da região concentrado apenas na temporada dificilmente resultará em melhorias de infra-estrutura nos municípios à beiramar. Segundo eles, as prefeituras e os comerciantes locais devem promover ações que valorizem o turismo o ano inteiro, atraindo visitantes também nos meses de baixa temporada. “É preciso fortalecer a atividade econômica nos meses fora do verão”, diz ele.

Programa

Para se ter uma base do tamanho mínimo de um hotel de lazer de 50 apartamentos, o pré dimensionamento das áreas do programa foi feito com base no método de dimensionamento do professor da Mills College (Oakand, CA), Fred Lawson. Vale salientar que este método não é muito preciso, pois implica algumas variáveis que não foram estabelecidas por ele. Além disso, ao contemplar diversos tipos de usuários, o programa do equipamento que proponho difere dos programas estudados por ele. Mas foi importante para ter uma idéia de qual tamanho de terreno seria necessário: 4500m². Como forma de minimizar os impactos negativos causados pela falta de infra-estrutura, bem como minimizar os efeitos da sazonalidade no turismo da região o programa do equipamento proposto foi desenvolvido para atender diversos tipos de turistas. Jovens, famílias, idosos, casais, ricos ou pobres, objetivo é atender tanto o turista de um dia quanto o turista que pretende pernoitar no litoral, independentemente de classe social ou origem. Dessa maneira, o escopo do projeto abrange os seguintes itens:
• Portaria
• Estacionamento
• Recepção
• Hospedagem (20 apartamentos e 5 chalés)
• Área para camping
• Área administrativa
• Área de Funcionários
• Rouparia
• Lanchonetes/restaurantes
• Cozinha comunitária/churrasqueiras
• Piscinas
• Vestiários com guarda-volumes
• Parque infantil
• Depósitos
• Instalações técnicas

Estudo de referências de projeto

Praia da Aventura – São Sebastião

Durante as visitas de campo descobri que em Dezembro de 2008 foi inaugurada a 1ª fase do Parque da Aventura, por iniciativa da prefeitura de São Sebastião. Praia da Aventura Localizado no antigo Balneário dos Trabalhadores , à 2km do centro da cidade, a área de aproximadamente 35.000m² conta com infraestrutura e diversos equipamentos como pista de bicicross e skate, campos de futebol e vôlei de areia, área para caminhada, quiosques com churrasqueiras, área de eventos, praça de alimentação, garagem para canoas, estacionamento, sanitários, chuveiros. A segunda fase do projeto prevê a construção de uma tirolesa ligando a serra ao mar, parede de escalada e área de arvorismo. Churrasqueiras A construção do parque foi uma tentativa de compensar a sazonalidade do turismo na região. Com uma boa infra-estrutura, a expectativa é que a cidade receba interessados em esportes radicais durante o ano todo. A meu ver é um projeto interessante, uma vez que em todo o litoral paulista não encontrei nenhuma estrutura semelhante com administração pública, no entanto é de se questionar os motivos pelos quais o parque público não pode ser localizado nas praias freqüentadas pelas classes sociais mais elevadas, e sim na praia mais próxima às águas insalubres do porto. Parece que houve o desejo de segregar ainda mais as classes sociais, deixando uma “praia para os pobres” enquanto as demais praias como Cambury, Juquehy, Barra do Sahy, etc, são tomadas por casas de segunda residênca de alto padrão.

SESC – Bertioga

Ao meu ver é um excelente exemplo de equipamento de hospedagem e lazer no litoral. Inaugurado no final da década de 40, o terreno de 1.018.810m² tem capacidade de atendimento para 1000 pessoas/dia em 11 conjuntos de apartamentos e 50 casas. Seu programa abrange: restaurante (em 02 salões), 03 salas de jogos; sala de leitura, sala de TV, bar café, loja SESC; auditório, com 400 lugares; lanchonete; pista de dança, área de estar; administração, sala de reunião e seminários, balneário (para visitantes diaristas, com capacidade máxima para 300 pessoas), posto bancário (CEF), banca de jornais e revistas; sala de ginástica; espaço do corpo; ginásio com quadra poliesportiva coberta; 2 quadras de tênis; campo de futebol oficial; mini campo de grama natural; 2 mini campos de grama sintética; pista para caminhada; 2 canchas de bocha; circuito de arvorismo, parede de escalada e tirolesa; recanto infantil com playground aquático interativo; conjunto aquático com 03 piscinas e solário; 4 quiosques/churrasqueiras; lago para pesca recreativa e prática de canoagem; viveiro de plantas; capela; casa do caiçara; estacionamento coberto. Em visita ao balneário nos dois novos blocos que foram construídos, projeto do escritório Teuba, me chamou a atenção a falta de privacidade entre a circulação e os apartamentos, uma vez que as janelas são baixas e voltadas para a cirulção. Grande parte dos hósedes prefere então manter a veneziana fechada e utilizar a luz artificial.

O Terreno

Após as visitas a campo, cheguei à conclusão que o bairro ideal para a instalação de um hotel para o turista popular era o Bairro de Boiçucanga, pois possui o maior centro comercial e de serviços da costa sul de São Sebastião, contando com Sub-Prefeitura, agência bancária e pronto-socorro. Possui rara beleza natural, com um espetacular pôr-do-sol no mar, cachoeiras e trilhas, além de ser um dos poucos locais do litoral norte que ainda não está tomado por residências de altíssimo padrão à beira-mar, configurando-se como um local propício à “democratização da praia”. Para a implantação do projeto, o local elegido foi o canto norte da praia, junto ao rio Boiçucanga, pois é uma área degradada, mas que, devido à exuberância natural deve ser recuperada. Totalizando 40 000m², o terreno escolhido margeia o rio Boiçucanga e abrange as áreas da antiga pousada e atual marina Itapoá, outras marinas particulares, a vila de pescadores, algumas residências de veraneio e pelo grande terreno livre à beira-mar que possui apenas um pequeno bar, sendo essas áreas permeadas por grandes espaços livres e bastante arborizados. Está localizado muito próximo ao terminal rodoviário de Boiçucanga e à parada de ônibus da empresa Litorânea, que realiza o transporte de ônibus de São Paulo até o centro do município. Outro fator de interesse pela área reside no fato de muitos dos imóveis aí localizados estarem à venda.

Implantação

Para conectar todas essas áreas foi proposta uma rua principal de pedestre de piso intertravado com 8m de largura (suficientes para a passagem de carros para manutenção) da qual saem caminhos de pedra, ou madeira rústica que acompanham o perfil natural do terreno para as edificações e praças. Apenas a ligação entre o estacionamento, a administração e o hotel é coberta por um pergolado de madeira e vidro para dar maior conforto na entrada e saída dos hóspedes com bagagens. Próximo ao hotel, à beira do rio há uma praça de onde saem pequenos barquinhos e caiaques que servem de alternativa de acesso à praia e às piscinas. De forma a resgatar a antiga tradição da peregrinação para o cruzeiro sobre o morro entre Maresias e Boiçucanga, da ponta da praia para o morro foi prevista uma travessia em ponte de madeira que acaba em um deck sobre as pedras que leva até o início da trilha para o cruzeiro, atualmente desativada.

Projeto

“La relación entre naturaleza y construcción es decisiva en arquitectura. Esta relación, fuente permanente de cualquier proyecto, es para mi una especie de obsesión; siempre fue determinante en el curso de la historia y, a pesar de ello, hoy tiende hacia una extinción progresiva.”.(Citação de Alvaro Siza no livro “Imaginar La Evidencia”, publicada em arquitecturasdeprecision.blogspot.com) A frase do arquiteto português Alvaro Siza, em relação ao projeto da Piscina das Marés de Leça da Palmeira serviu de inspiração para o meu projeto. As soluções adotadas tanto na ocupação do terreno, na qual busquei as clareiras nas massas de vegetação para localizar as edificações, quanto nas soluções de arquitetura visavam proporcionar uma íntima relação entre o construído e a natureza, da mesma forma que a comunidade caiçara costumava construir e que está aos poucos sendo abandonada. À exemplo da tradicional comunidade local, que costumava construir casas em taipa de mão e telhados com beirais, para todas as edificações foram propostos grandes telhados com estrutura de madeira. Substituí as telhas cerâmicas por telhas de taubilha ou cavaco, utilizadas por exemplo no Centro de proteção ambiental da usina hidrelétrica de Balbina e na Pousada na Ilha de Silves, ambos projetos do Arq. Severiano Mario Porto, e também amplamente usada em diversos projetos do arquiteto Claudio Bernardes. São telhas artesanais, feitas com sobras de madeira e trata-se de material ecológico, uma vez que sua obtenção ocorre a partir do reaproveitamento de sobras de madeiras e também pelo fato de não requererem produtos químicos para sua conservação.

O Hotel

Foi implantado na direção norte-sul com todos os quartos voltados para leste e circulação a oeste para permitir incidência dos raios solares apenas no início da manhã. De forma a garantir a privacidade dos hóspedes nos quartos, mesmo com grandes janelas os dois blocos foram colocados sobre pilotis, deixando o térreo livre para maior permeabilidade física e visual do turista e abrigar o saguão com recepção, sala de estar, acesso ao pavimento superior, cozinha, bar, espaço para café da manhã, cozinha comunitária, local para jogos e redário. Os dois blocos são deslocados na direção leste-oeste, porém unidos por um átrio central que abriga o saguão do hotel e que restringe o acesso ao pavimento superior. São cobertos por um grande telhado borboleta de taubilha, que requer inclinação mínima de 35%. Tirei partido dessa inclinação para aumentar o ângulo de visão do observador para a copa das árvores e os morros que separam os bairros de Boiçucanga e Maresias a leste do terreno e também para melhorar o conforto térmico dos ambientes em virtude dos pés direitos elevados. A grande altura dos pilares resultante do pé direito elevado exigia que os pilares fossem muito robustos ou que tivessem travamentos que evitassem a flambagem. A solução adotada foi criar uma trama de vigas de madeira que resultassem em um efeito plástico interessante. As alvenarias são de blocos de concreto celular autoclavado (CCA), que garantem bom desempenho termo-acústico, além de serem leves para não sobrecarregar a estrutura. Apesar do que muitos acreditam, de acordo com o Instituto de Pesquisas tecnológicas (IPT), o CCA tem um índice de redução sonora de 42dBA, sendo suficiente para vedar ruídos de até 82dBA (nível de ruído de uma avenida movimentada ou de um rádio caseiro com som elevado, por exemplo). Ainda assim, para minimizar ainda mais os ruídos, típicos em construções de madeira, nos dormitórios foi previsto revestimento em argamassa. À semelhança de Albergues da Juventude, o bloco sul abriga dez quartos comunitários, sendo dois deles sem banheiro, além de vestiários masculino e feminino. O bloco norte é composto por dez suítes, alguns com opção de serem conjugados. Todos os apartamentos possuem varanda com guarda corpo em vidro e que são separadas do vizinho por um vidro e pela porta camarão da veneziana quando aberta. De forma a garantir a ventilação e iluminação permanente, e uma vez que não havia necessidade de completa vedação, como fechamento da cozinha comunitária, assim como no recanto dos pescadores e na cozinha do camping, foi proposto o entrelaçamento de madeiras roliças na vertical e na horizontal que remetesse à estrutura da técnica de pau-à-pique da comunidade caiçara.

Cabanas

Foram implantadas no único lugar do terreno em que as curvas de nível se aproximam para garantir ainda maior distanciamento entre o hóspede da cabana e quem passeia pelo jardim. Com coberturas inclinadas, voltadas para leste, contam com um quarto, um banheiro, e uma pequena cozinha dispostos lado a lado com uma grande varanda frontal. Em frente à porta do banheiro há um painel de trama de madeira roliça onde podem se concentrar todas as portas e venezianas e assim ampliar a relação com a paisagem natural.

Corredor de Serviços

Grande cobertura inclinada que abriga cozinha do restaurante, recanto dos pescadores, vestiários das piscinas, vestiários públicos, salas para exame médico, enfermaria, segurança, administração, bombeiros e depósitos. A circulação, voltada para norte, é coberta e possui um leve fechamento de ripado de madeira que, ao mesmo tempo que evita o acesso às casas da vila, permite a visibilidade do jardim e a passagem de luz.

Vestiários

Com pé-direito elevado para ventilação e iluminação natural, a planta foi definida de forma a separar a área de banho da área seca.

Restaurante

A cozinha está localiada sob a cobertura porém as mesas ficam localizadas mais próximas ao mar, sob o pegolado de madeira. Conta com um louceiro externo, área de preparação de alimentos,, sala de refrigeração, estoques, administração, sala e vestiário de funcionários, banheiros, sala de gás e depósito de lixo.

Piscinas

O conjunto de piscinas é composto pelas piscinas naturais, que nada mais são do que decks projetados sobre o rio e as piscinas de água tratada. A área de piscinas tratada foi pensada de maneira diferente das piscinas tradicionais. Em geral temos um grande piso com uma ou mais piscinas ao centro. Com referência nas Piscinas de Leça da Palmeira e também nas piscinas de Porto Moniz, na Ilha da Madeira, a idéia foi criar uma grande piscina com algumas áreas secas. Para não retirar as árvores existentes e facilitar o controle de acesso, a superfície da água das piscinas está na cota 2,40m e as áreas secas são um deck de madeira suspenso, na cota 2,50m, com furos para a passagem do tronco das árvores. Para aumentar a sensação de que todo o espaço é uma grande piscina e que inclusive se confundisse com o mar, à norte da escada de acesso à praia, onde existe maior relação com o mar aberto, a piscina possui borda infinita. Além disso, a saída do vestiário acontece diretamente dentro da água, obviamente, que em um local com profundidade de apenas 15cm. A profundidade da piscina é bem variável, e possui caminhos onde a profundidade se mantém a apenas 15 cm para ligar as áreas secas e dar acesso também à praia. Os pilares da cobertura do corredor de serviços chega diretamente dentro da piscina. Para evitar a proliferação de fungos, assim como a água, esses pilares são de madeira tratada, dessa forma a madeira que fica molhada e em contato com o ar é preservada, bem como a parte submersa. O desnível entre a piscina e a praia é vencido por amplas rampas e escadas, e um muro em pedra. Com a mesma tonalidade da areia, para minimizar o impacto entre o muro e a praia, nesse muro foram propostas aberturas de vidro que permitem que quem passeia pela praia veja pessoa dentro d’água.

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