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secao 4!

RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES UMA ABORDAGEM COMPLEXA:

O papel do arquiteto e do designer

MARINA LYMPIUS

MARIA CECILIA LOSCHIAVO

Quando optei pela escolha do tema dos resíduos sólidos, a intenção inicial estava relacionada ao desafio oferecido na criação de objetos de design a partir do reaproveitamento e transformação parcial desses materiais. Contudo, logo nos primeiros estudos, compreendi em parte a magnitude da questão e o foco do trabalho foi drasticamente alterado.

A entrevista realizada com a professora Dione Morita, do departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica, na primeira etapa do trabalho, foi decisiva para essa mudança de foco por possibilitar uma visão mais ampla e crítica do tema.

Nesta entrevista, a apresentação de soluções e sistemas de tratamento pouco difundidos ou não eficientes no Brasil – como incineração e aterros sustentáveis, por exemplo – foi relevante para o desenvolvimento do estudo.

A explanação sobre as condições sub-humanas de trabalhadores envolvidos com o processo de reciclagem foi crucial para a alteração do tema, motivando a busca de qualidade de vida e inclusão social por meio de projeto arquitetônico condizente com os requerimentos necessários para o bom funcionamento de uma cooperativa de triagem.

Além disso, foi introduzida a questão da existência dos brownfields na cidade de São Paulo – resumidamente, podem ser considerados terrenos contaminados pela intensa atividade industrial, que após a mudança do cenário fabril na cidade, foram abandonados e se tornaram entraves urbanos. Esse assunto me era desconhecido, e, segundo a professora Dione, um problema de difícil solução no sentido da atribuição de novos usos coerentes com o tipo de contaminação a qual foram expostos, tratamentos economicamente viáveis e que configurem melhoria no seu entorno (com a escolha de utilização adequada às suas características) e na cidade, como exemplo para outras situações semelhantes.

É importante frisar que quando cito “resíduos” no decorrer do trabalho, estou me referindo aos resíduos sólidos domiciliares. A opção de não utilizar siglas, como “RSD”, é para facilitar a leitura e entendimento.

Pesquisas históricas teriam função meramente ilustrativa, já que a situação por si só minimiza a necessidade de explicações. A produção de resíduos está intrinsecamente atrelada ao novo padrão de consumo da sociedade, e o estudo desse padrão não compete ao presente trabalho. No entanto, é essencial ressaltar que se não houver uma revisão desse padrão em escala industrial, dificilmente no futuro qualquer ação terá efeito sobre as conseqüências que ele gera. Os objetos de consumo são facilmente substituíveis e às vezes o interesse da produção não valoriza a sua durabilidade. São gerados resíduos de bens de consumo duráveis com uma incidência muito maior do que ocorria anteriormente (falando-se apenas dos resíduos gerados no descarte do objeto após o seu consumo, não relacionando os dejetos gerados na sua produção).

Os números dos resíduos estão em constante mudança e não podem ser unicamente considerados, pois no geral referem-se somente ao descarte oficial. Muitas vezes esses números não condizem com a chocante realidade por força de interesses políticos. Grande parte das informações que embasam este trabalho foi obtida em notícias e reportagens de diversos veículos da mídia, por ilustrarem de forma mais direta as condições atuais.

Foi fundamental a tentativa de manter o foco nas informações relevantes, pois devido às mudanças e variações de dados, as fontes são inesgotáveis. O assunto em questão abrange diversos temas intrínsecos, e não é possível construir uma análise isolada.

Para clarificar o entendimento do processo de desenvolvimento do trabalho, foram criados tópicos sucintos sobre:
• A situação dos resíduos em São Paulo;
• A Política Nacional dos Resíduos Sólidos;
• As cooperativas de triagem e o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclado;
• Áreas contaminadas em São Paulo e a escolha do terreno;
• O Projeto;

O esclarecimento das linhas de estudo que embasaram a evolução do trabalho como um todo é importante para legitimar a coesão do mesmo.

Foram realizadas visitas estratégicas para a concepção do projeto: visita à COOPERE, visita à COOPAMARE, visita ao CEDIR USP e à Praça Victor Civita. Além disso, uma palestra proferida por Fábio Feldmann foi importante para uma análise superficial e menos burocrática da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Para a implantação do projeto da cooperativa, foi escolhido o lote dos galpões de adubo da massa falida da Cooperativa Agrícola de Cotia, localizado na esquina da Av. Jaguaré com a Av. Kenkiti Shimomoto. Esta área potencialmente contaminada por organoclorados e metais pesados fez parte das áreas analisadas pela CPI de Danos Ambientais ocorrida em 2009.

Dado o estado de conservação de parte dos galpões, optei por manter somente a parte que estava em condições de uso, e busquei a incorporação dos materiais dos galpões parcialmente demolidos no próprio projeto, evitando assim o seu envio para os aterros.

O projeto foi concebido levando em consideração o fluxo dos veículos envolvidos no funcionamento previsto para a cooperativa, evitando que caminhões atrapalhem o trânsito do entorno.

A implantação de edifício de apoio com biblioteca, salas de aula, sala de informática, ateliers, auditório e espaço de exposições possibilita a interação com a população. Foram criados também dormitórios, refeitório aberto ao público e consultórios médico e dentário. Dessa forma, são asseguradas melhores condições de vida para os trabalhadores.

Como conclusão, fica claro que nenhuma alteração isolada do quadro dos resíduos trará melhorias de fato. É necessário reavaliar o sistema de gerenciamento dos resíduos como um todo, abrangendo desde a diminuição do volume produzido às condições de vida dos trabalhadores que sobrevivem do descarte da sociedade. O projeto realizado é somente parte dessa adequação.

Ficha Técnica:

TERRENO: 23.370m²
ÁREA CONSTRUIDA: 11.136m²
GALPÃO DE TRIAGEM: 4.815m²
PÁTIO DE CAMINHÕES: 3.003m²
EDIFÍCIO DE APOIO: 2.728m²
REFEITÓRIO E DORMITÓRIOS: 590m²
ÁREA VERDE TOTAL: 2.412m²
TRABALHADORES GALPÃO: 110
AUDITÓRIO: 194 LUGARES
SALAS DE AULA: 40 ALUNOS
6 VESTIÁRIOS

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