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secao 4!

Igreja Cristã em São Paulo

Rosana Yamaguti

Antonio Gil da Silva Andrade

Carregados de simbolismos e tradições, os espaços religiosos tem um enorme potencial de fazer sentir e de transmitir ideais, mesmo àqueles que não compartilhem do mesmo credo. Constituem espaços de reflexão, de refúgio do caos contemporâneo e, por conseguinte, patrimônios de toda a sociedade.

Para o desenvolvimento de um espaço com tais características buscou-se, primeiramente, estudos e visitas a projetos de referência. A partir disso, definiu-se uma igreja com assembléia para 300 pessoas, presbitério, batistério e torre, além de um bloco de apoio, com administração, sacristia, casa paroquial, salas multiuso e biblioteca, dando ênfase ao papel social dessa instituição.

O terreno escolhido foi uma quadra na subprefeitura da Mooca, entre as ruas Dianópolis e Barão de Monte Santo, de propriedade da empresa Exxon Mobil Corporation, antiga Esso Brasileira de Petróleo. A área de cerca de 98 mil metros quadrados foi utilizada entre 1945 e 2001 como base de armazenamento de combustíveis, o que provocou a contaminação do subsolo. Atualmente, o terreno está em fase final de descontaminação.

O entorno é diversificado, formado por edifícios residenciais, sobrados e alguns locais de uso misto, na área da rua Barão de Monte Santo, e por galpões industriais próximos à rua Dianópolis. A topografia bem acentuada na área residencial e praticamente plana no terreno do projeto e no restante da área industrial, possibilita que o projeto possa ser visto de grande parte do alto da Mooca. Esta característica, associada à forte pressão da comunidade para que o local se torne um parque que sirva à comunidade e à presença da área residencial e da favela da Vila Prudente, justificam a implantação da igreja no local.

Devido à grande dimensão do terreno, uma parte dele foi reservada para a implantação de um parque público. Buscou-se, todavia, uma implantação que sugerisse uma continuidade em relação a igreja. Para tanto, o local no qual se ergue o projeto foi rebaixado 3 m em relação ao nível do terreno, delimitando o ádrio da igreja e fazendo com que as pessoas se desloquem simbolicamente de seu cotidiano para adentrar em um espaço diferenciado e místico.

Um longo muro lateral, em concreto revestido com pedra, foi a “pedra inicial”. Ele limita uma das laterais do ádrio e é por ele que se dá a conexão com o bloco de apoio. Ao redor dele, uma vedação mais leve, também em concreto, se ergue delimitando a nave, implantada no eixo leste-oeste, conforme a tradição na construção de igrejas.

A proporção áurea e a curva de Fibonacci foram aplicadas como um resgate de relações antigamente utilizadas como determinantes da arquitetura, especialmente em obras religiosas. A curva foi gerada a partir de um círculo circunscrito no terreno e, a partir dela, uma malha foi criada. As proporções do projeto foram adequadas a essa malha, que também definiu a forma do ádrio, a localização da torre (no final da curva), a forma e localização do bloco de apoio e as diretrizes do paisagismo.

O bloco de apoio se formou a partir de um eixo alinhado com a fachada do presbitério, dividindo-se em duas lâminas. A primeira delas, com 4,5m de altura,abriga o salão de festas, cozinha e sanitários. A segunda, com 9m e diretamente ligada ao corpo principal por uma passagem no subsolo, dá espaço à administração, sacristia, casa paroquial, salas multiuso e biblioteca. Passarelas ligariam diferentes blocos em cada andar, chegando até a fachada da igreja, onde uma abertura permite que se veja o interior. Dessa forma, essas passarelas também constituiriam uma espécie de mirante, tanto do interior da igreja, quando da praça que circunda o projeto. O bloco de apoio está modulado de 3 em 3 metros e há um recorte no terreno para possibilitar a entrada de luz no subsolo do edifício maior.

A água foi utilizada como elemento estruturador do paisagismo, ressaltando o simbolismo de purificação, renovação e vida que ela possui. Com base nos eixos que a curva de Fibonacci colocou, espelhos d´água foram colocados na extensão do muro lateral, finalizando na torre, e em um eixo ortogonal a esse, no limite do ádrio. Através dessa disposição, a associação do paisagismo com a área construída da igreja forma um crucifixo quando visto em planta.

O espelho d’água se estende ao longo das fachadas norte e oeste da igreja, adentrando-a. Internamente, segue desde o altar até a entrada, estendendo-se no ponto do batistério, o que faz com que a água presente em todo o projeto tenha ligação simbólica com a fonte utilizada no batismo.

A inserção de uma parede próximo à entrada deu origem a um átrio, dando acesso ao interior de maneira lateral. Um corredor central, divide o interior pela metade e leva ao presbitério, elevado 1 metro em relação ao nível da assembléia. Um recorte no presbitério leva à ligação com o edifício de apoio.

A volumetria do projeto foi definida através de estudos com maquete física, optando-se por uma variação gradual dos 20 m de altura do altar para 7,5 na entrada, formando uma cobertura em 3 águas.

Pensou-se as aberturas com base em estudos com a carta solar analisando a posição do sol em horários importantes para o cerimonial católico, associando a essas aberturas uma coloração diferenciada, de forma que a passagem do dia seja sentida dentro da igreja. Uma fenda de piso a teto na face sudeste, com coloração azulada, marca o final da madrugada e início da manhã. Nas costas do presbitério, um painel de concreto se ergue deixando livre suas duas laterais, nas quais brises horizontais de madeira protegem do sol direto do meio-dia. Essas lateriais apresentam uma cor esverdeada e marcam a passagem da manhã. Na fachada norte, uma nova fenda, de piso a teto, porém vedada com filetes de concreto desencontrados, possibilita a entrada de uma luz filtrada, uma espécie de renda que cobre o altar em determinados horários. Um painel de vidro amarelado veda essas aberturas exteriormente. Por fim, uma pequena fresta se abre no ponto em que é colocado o batistério, na fachada sul. Com coloração avermelhada, essa fenda possibilita uma luz pontual e marca o final da tarde.

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