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secao 4!

Vila Mukwano:

uma vila heterogênea para reinserção comunitária de crianças e adolescentes abrigados na cidade de São Paulo

Suellen Oliveira Maia

Artur Simões Rozestraten

A proposta era fazer um abrigo para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal ou social, encaminhadas para um trabalho de reinserção familiar e comunitária na cidade de São Paulo.

O projeto se iniciou como um conjunto de quatro casas independentes, contendo no máximo 20 crianças e adolescentes por casa, além dos educadores, ou pais sociais (mãe ou casal).

Entretanto, o período entre o momento em que são retiradas de suas famílias e o momento em que são devolvidas, não precisa ser de reclusão social, aliás, não deve ser. Essas crianças precisam ser preparadas para a sociedade que a espera. Portanto a idéia das quatro casas cresceu, evoluiu para a escala do bairro, para o projeto de um trecho de cidade onde essas crianças possam ter a experiência de vivenciar o bairro, os vizinhos, os comércios, os equipamentos. Assim, escolha do terreno foi feita levando-se em consideração os sistemas de Educação, Lazer, Saúde e Transporte.

A reflexão sobre a inserção no bairro, o contexto da cidade, me levou a projetar não só o abrigo, mas um local que insere essas crianças e adolescentes num ambiente onde a exclusão social, geralmente já incorporada ao tema abrigo, não fosse uma realidade. A estigmatização de crianças abandonadas, o preconceito que elas sofrem deve ser eliminado, proporcionando a essas crianças um ambiente familiar e de boa vizinhança, a integração social que eles precisam.

Assim surgiu a vila, com uso misto, onde a instituição está misturada a habitações de 1, 2 ou 3 dormitórios, e qualquer pessoa possa ser vizinho dessas crianças. Na administração encontram-se salas para psicólogo, assistente social, reunião, administração, e um depósito para as doações, além de banheiros, cozinha e copa.

O comércio também foi incorporado para dialogar com o bairro, pois a via de maior movimento é predominantemente comercial, assim também a vila ganharia mais vida e movimento. Sugiro um comércio de uso mais local como lanchonete, banca de jornal, farmácia, armarinho ou bazar.

Uma praça no interior da quadra faz o papel principal dessa integração, além de reunir os acessos ao estacionamento, reservado aos moradores e comerciantes, e aos pavimentos superiores, a praça é um local de passagem e de permanência.

O estudo volumétrico foi feito com o uso da modelagem que não foi utilizada apenas como representação dos desenhos, mas como ferramenta de projeto em si. Grande parte do projeto saiu dos modelos e grandes problemas resolvidos neles. O estudo da volumetria começou com peças de LEGO, depois comecei a utilizar o LEGO Digital Designer e então o modelo com papel, tudo com ajuda de croquis.

A partir desses estudos, pesquisas e conversas realizados, surgiu o desenho da Vila Mukwano, como resposta do conceito aqui criado.

O desnível de três metros no terreno, no sentido leste-oeste, possibilitou a criação de patamares diversificados. O comércio fica situado na cota mais baixa e por isso ganhou um pé-direito duplo, ficando a critério do comerciante como utilizá-lo. As únicas áreas definidas são as áreas molhadas.

O estacionamento fica no lado oposto, semi-enterrado, com 33 vagas para moradores, comerciantes da vila e funcionários da administração do abrigo, foi colocado no mesmo nível do comércio, entretanto seu acesso é na rua mais alta, pedindo assim a rampa, projetada em curva para poupar espaço utilizado para criação de vagas. O estacionamento possui um sistema de cancelas e luzes, para coordenar o tráfico, pois o acesso é de uma via, não exigindo mais pela baixa rotatividade do estacionamento.

As unidades residenciais de diferentes tipologias, de 1 (45m²), 2 (60m²), e 3 dormitórios (80m²), estão espalhadas pelos três pavimentos, assim como as unidades voltadas ao abrigo (125m²), permitindo assim mais integração entre as mais diferentes pessoas.

Os materiais foram escolhidos para conferir mais aconchego à vila, para a vedação o tijolo aparente e cobogós, também utilizado como guarda-corpo, e para os caixilhos a madeira. A estrutura é metálica e independente, permitindo maior mobilidade.

As fachadas têm tratamentos diferentes. A fachada nordeste apresenta portas que correm por fora, na fachada, que levam os moradores do 3º pavimento a um terraço exclusivo para algumas unidades. A fachada noroeste apresenta brises para proteger do sol mais forte. Já as fachadas sudeste e sudoeste apresentam tijolos de vidro junto às janelas. Todos os elementos conferem movimento às fachadas.

O pergolado foi escolhido como cobertura alternativa em algumas áreas, produzindo sombreamento e aconchego. Na cobertura do edifício foi projetada uma pista para corrida, além de áreas de lazer e áreas ajardinadas.

Para o único muro que divide a vila foi pensado um jardim vertical, que conversa com outros trechos de jardins verticais dentro da própria vila. Esse jardim continua no chão, configurando uma área de brincar para as crianças com árvores e gramados. Ele se estende ainda ao longo da parede da garagem, onde também é utilizado do cobogó, permitindo ventilação e iluminação dentro do estacionamento, sem a visibilidade de quem está do lado de fora.

A vila reúne então conceitos retirados desse estudo específico e de toda a formação acadêmica na FAU. O que pretendi fazer com esse trabalho foi uma crítica ao modelo de abrigos existentes, ao modelo de institucionalização e segregação utilizado com essas crianças e adolescentes. O projeto da unidade, do quarto, da sala ou do banheiro, apesar de terem sido pensados, não foram prioridades aqui, a prioridade foi o conjunto, a integração da vila com a cidade e, portanto, das crianças com a sociedade que a rodeia, para que se desenvolvam agentes transformadores de seu meio.

Ficha Técnica:

Projeto: Vila Mukwano
Local: Santo Amaro, São Paulo, SP
Data: 2010
Área do terreno: 3.500 m²

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