A partir das primeiras propostas de volumetria, decidi experimentar uma implantação que respeitasse o vazio hoje existente entre a praça e a rua Aurora, mantendo na medida do possível as vistas dos edifícios para a praça e a ventilação. Também achei importante a existência de uma fenda entre os prédios da rua Aurora que se estendia até o Largo do Arouche, e quis manter essa continuidade até a Praça da República. Assim, o projeto foi dividido em dois corpos, um apoiado na empena vizinha e outro, mais grosso, paralelo e no lado oposto. O volume que encosta na empena seria mais estreito que o outro, pois teria só uma fachada para os quartos, enquanto o outro edifício teria as duas fachadas maiores livres, o que permitiria ter quartos aos dois lados do corredor com luz e ventilação natural. O terreno está localizado na borda noroeste da Praça da República, no centro de São Paulo. Tem aproximadamente 4000 m2 e duas frentes opostas: uma na rua Aurora e outra na rua que rodeia a Praça da República. O edifício adjacente no linde nordeste tem uma empena cega com quatro fossos abertos diretamente para o terreno do meu projeto. Esta empena esta muito degradada, e uma das primeiras diretrizes de projeto, que foi mantida até o final foi a de encostar um volume sobre ela. No limite sudoeste, há um hotel com uma fachada lindeira similar à do limite oposto. Porém, esta fachada ocupa menos de um terço do linde, tem um fosso maior, e está em boas condições. Além disso, dão para o terreno os fundos de um pequeno edifício de 3 pavimentos e do edifício do metrô República. Atualmente, o terreno é usado como estacionamento e não tem construções.
Uma das questões centrais do meu projeto é como criar um edifício a partir da repetição de um módulo e ao mesmo tempo fugir da monotonia e dar qualidade aos espaços. Por isso, desde o começo, decidi trabalhar com uma modulação e uma estrutura que permitisse certo grau de flexibilidade no projeto. Trabalhei com um elemento pré-fabricado para a vedação interna dos quartos, e outro para a vedação externa. Assim, o prédio foi pensado como um conjunto compacto de elementos repetidos contendo espaços para o alojamento dos estudantes. Desse volume, posteriormente, foram retiradas algumas partes formando assim os espaços livres que permeiam o edifício. Esse vazios, além de aumentar a entrada de luz e a circulação de ar, dão uma forma especial ao prédio, e permitem a referenciação dos espaços no todo. Um determinado quarto, por exemplo, não é mais uma coordenada espacial dentro de um volume homogêneo, é um ponto do edifício diferente de todos os outros, por estar mais longe ou mais perto de um ou outro vazio. Para incrementar essa idéia de diferenciação dentro do edifício, a cada pavimento foi atribuída uma cor.
Uma idéia importante dentro do projeto foi a da criação de subgrupos, dividindo o alojamento em núcleos nos quais cada aluno se relacionaria com os vizinhos, dando uso, assim, às áreas coletivas. No meta-projeto, estes núcleos estão definidos como grupos de 16 alunos que compartilham uma serie de equipamentos e espaços ao redor de uma circulação comum. No prédio verticalizado cada núcleo foi igualado a um pavimento de cada volume, ou seja, cada pavimento em cada um dos dois volumes do alojamento seria um núcleo. Foi também adicionado mais um nível de subdivisão: o agrupamento de três andares ao redor de um dos grandes vazios dentro do edifício. Cada pavimento, portanto, teria os equipamentos coletivos próprios e uma área externa compartilhada com mais dois pavimentos.
O programa do conjunto está dividido em duas partes, sendo um deles pertencente ao meta-projeto original, ou seja, do alojamento estudantil, e outro que foi adicionado como decorrência das características do terreno e do entorno no decorrer do projeto. No setor do alojamento, existem, além dos quartos e espaços de estar, espaços abertos distribuídos pelo prédio, agrupando 3 pavimentos ao redor de cada um deles.Banheiros, chuveiros, cozinhas e áreas de estar foram mantidos, mas rearranjados. O meta-projeto previa o agrupamento dos estudantes em núcleos de dezesseis quartos ao redor de uma serie de instalações coletivas, como banheiros, chuveiros, cozinha e estar. e uma circulação. No projeto final, cada pavimento de cada prédio, com aproximadamente 24 e 14 quartos, é um desses núcleos. Além disso, cada três pavimentos dividem um pátio aberto, criando mais uma etapa de sub-divisão. Os ambientes de uso geral do alojamento, como a cantina, o auditório, a sala de leitura e a sala de jogos foram colocados no primeiro pavimento, que funciona como “segundo térreo” do alojamento.
A segunda parte do programa contém três pavimentos de escritórios, restaurantes, lojas uma galeria de exposições, duas salas de cinema e um estacionamento, e uma generosa circulação que articula todo o programa com acesso ao metrô.
Os dois volumes que formam o conjunto têm o mesmo principio estrutural, mas as suas estruturas são independentes. Basicamente, os edifícios foram projetados como um conjunto de lajes planas sobre pilares em uma malha reticulada. As lajes são de 20 cm de altura, sem vigas centrais e com viga de borda em todo o seu contorno. São feitas in-loco de concreto estrutural e protendidas. Os pilares são todos iguais, com seção de 32 x 16 cm, exceto em dois lugares, onde existe uma transição de 4 pilares pequenos para 2 mais robustos. O sistema de laje sem vigas e pilares, porém, não oferece grande estanqueidade ao edifício, pois não há engastes suficientemente grandes. Por isso, o núcleo central dos edifícios, que contém a circulação vertical, os banheiros e os vestiários, tem o papel de contraventamento do edifício, e portanto seriam construídos in loco como um bloco monolítico.
Tipo de edifício: habitação coletiva
Uso: moradia estudantil, comércio, serviços, cinema, estacionamento e acesso ao metrô
População: 420 moradores em quartos individuais e duplos
Área construída: aprox. 22.340 m2
Área do terreno: 4.935 m2 (CA = 4.5)
Localização do terreno: Praça da República e Rua Aurora
