logofau
logocatfg
secao 4!

Reserva técnica de arte na Mooca

Carolina Spindel Sverner

Angelo Bucci

Uma das grandes necessidades no campo da arte é o armazenamento e manutenção das obras. Mesmo os grandes museus de São Paulo possuem relativamente pouco espaço destinado a essas atividades, e acabam deixando suas obras em locais não apropriados. A denominada reserva técnica, é um espaço complexo e que demanda total controle do ambiente, tanto no quesito dimensionamento, quanto no quesito temperatura, umidade, entre outros. Tudo deve ser pensado no projeto para que a haja a maior qualidade ambiental possível e, portanto, a maior segurança para a manutenção das obras de arte.

A princípio, estudei a possibilidade de projetar um prédio de reserva técnica para algum museu da cidade de São Paulo. No entanto, quando me deparei com a notícia do incêndio na casa do irmão do artista Hélio Oiticica (que causou a perda de praticamente todo o seu acervo), comecei a me questionar sobre a segurança das obras de arte que fazem parte de coleções particulares e se encontram em residências privadas. A questão dos cuidados com essas obras foi só o início de um questionamento que chegou a outro ponto importante, a difusão dessas obras, ou seja, a acessibilidade delas ao público. Assim defini o programa que eu desejava propor: um prédio de reserva técnica para obras de coleções particulares com salas de exposição para mostras temporárias montadas a partir desse acervo. O prédio, ao mesmo tempo em que zelaria pelas obras (patrimônio cultural brasileiro e mundial), disponibilizaria ao público o contato com obras antes inacessíveis.

Após definir a diretriz, deveria definir o programa de maneira bem específica, uma vez que o projeto tem tamanha importância para um espaço como o da reserva técnica. Com muita pesquisa, passei praticamente o primeiro semestre inteiro definindo o programa, estabelecendo todos os espaços necessários, suas respectivas áreas e mobiliários.

A escolha da Mooca para a implantação do projeto se deveu a alguns fatores, o primeiro deles sendo a implantação de novos centros culturais na área como, por exemplo, o Museu de São Paulo na Casa das Retortas e o Museu Catavento. A Mooca ainda é uma área cujo metro quadrado é desvalorizado, mas que caminha em direção à valorização de seus terrenos. Há duas áreas distintas no bairro, a residencial com lotes pequenos e um sistema viário mais denso, e a de galpões industriais (muitos deles abandonados) que margeiam o trilho do trem e que possui um arruamento mais disperso.

O local escolhido como terreno foi o entorno da estação Mooca de trem, que tem entrada pela Avenida Presidente Wilson e pela Rua Borges Figueiredo. O interessante desse terreno é, além da relação com o sistema ferroviário e com o interessante prédio da Antarctica, a possibilidade de aproveitá-lo na transposição do trilho do trem e, portanto, nos percursos do bairro.

Com o programa definido e o terreno em pauta, comecei a estudar as formas desejadas para o projeto e sua inserção na área. Com o traçado de eixos (determinados seja por ruas, como por prédios existentes e etc) acabei definindo como partido a divisão e separação das diferentes áreas do projeto (que possuem necessidades tão específicas e distintas), o que resultou em um projeto de quatro partes.

1- A PRAÇA

A praça parte da idéia de transposição do trilho do trem, por isso ela parte do nível 0 nas duas extremidades (Avenida Presidente Wilson e Rua Borges Figueiredo) e desce até o nível -5, pelo qual ela transpõe a linha férrea. Seu desenho se fez pelo prolongamento das ruas Serra de Paracaina (que vem do lado da av. Presidente Wilson) e Guaratinguetá (que vem do lado da Rua Borges Figueiredo). A praça tem, além da função de passagem, a função de organizador espacial e, acima de tudo, a função de espaço múltiplo. Resolvi mudar a entrada da estação Mooca para dentro da praça, trazendo ainda mais vida a ela.

2- A EXPOSIÇÃO

A ideia é que a exposição das obras se espalhe também pela praça, na medida do possível. Uma projeção de vídeo embaixo da rampa e entre espelhos d’água na penumbra, uma festa de esculturas “atrapalhando” a passagem do pedestre, etc. Para mídias mais convencionais e que devem ser expostas em locais de completo controle, propus uma espécie de museu cuja entrada se dá pela praça no nível -5. Um grande hall recepciona os curiosos, espaço esse, ainda público. O controle se dá próximo aos elevadores, pelos quais o visitante subirá para atingir as salas de exposição. A surpresa se revelará ao visitante uma vez que ele sair do elevador e se der conta de que está, na realidade, dentro da fábrica da Antarctica. A sala de exposição, dessa forma, será construída dentro (mas de maneira independente) da carcaça da antiga fábrica em alvenaria.

3- RECEPÇÃO DE OBRAS, ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS

Essas três funções estão dispostas num mesmo volume, que está localizado no lado oposto a entrada do museu na praça e que visto do nível 0, parece uma continuação da rua Serra de Paracaina na forma de um espelho d’água. Este prédio, no entanto, dá suas costas para a praça e se abre para o outro lado, aonde chegam rampas para carros e caminhões vindos do nível da rua (nível 0).

4- LABORATÓRIOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO E SALAS DE RESERVA TÉCNICA

Essas duas funções, que são o foco principal do projeto, deveriam estar localizadas em um local ao mesmo tempo seguro e de destaque. Assim, a ideia de caixas fechadas e flutuantes pareceu representar bem essa premissa. Por estarem elevadas, essas salas ficam completamente protegidas de inundações e também ficam mais resguardadas do acesso do público. O único acesso a elas se dá através da circulação vertical que parte do prédio de recepção e administração e sobe para dois níveis de passarelas revestidas de vidro, cuja função é a de circulação horizontal entre as caixas. Cada caixa representa uma forma de arte diferente e basicamente, cada uma é composta de uma ante-sala, um laboratório de conservação e restauro e duas salas de reserva técnica (sendo essa configuração variável em alguns casos).

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo